16/03/2015

Não sei se isto é uma alegoria ou uma metáfora

E não vos digo "Decidam vocês", porque vou decidir eu.
Também não vos pergunto se se lembram desta, porque fui eu que a inventei, e é óbvio que não se podem lembrar de uma coisa que saiu da minha cabeça. (E não é caspa, eu lá sou disso). Hoje vou poupar-vos ao quão espectacular é o meu cabelo e quão maravilhosa é quase toda a minha produção intelectual, uma vez que me encontro em dia de retiro espiritual, alguma contenção ao nível de uns quantos pecados capitais, com vista a dar largas a outros, e, pasme-se, alguma modéstia. Que isto de ser isto é um fardo tão pesado que, soubesse eu o que sei hoje e era menina para ter suplicado, de joelhos, ao criador (olha aí a imagem mental, genitais!), que me fizesse feia e gorda, estúpida e bruta no gesto e modo, pois seria, de certeza, esse o meu ponto de encontro com a paz de espírito, a minha viagem ao Tibete, o meu Taj Mahal.
~
Então, vamos lá:

Era uma vez um furúnculo nojento, instalado numa nalga.
(Para o caso de alguém ainda não ter percebido, eu nunca saí da fase anal. Foi a minha mãe que disse, e as mães sabem tudo.)
O furúnculo era assim verde por dentro, carregadinho de um pus ora espesso, ora quase líquido, sofria (ou gozava) de um odor nauseabundo e tinha uma cabeça gigante e escura, sempre a ameaçar rebentar a qualquer momento.
Cada vez que olhava para o furúnculo, sabia que ia ter uma náusea. Mas olhava sempre. 
(Há qualquer coisa de irresistível no que nos causa repulsa. Puxa-nos e empurra-nos. Bate e sopra.)
E voltava a olhar.
Isso, e só isso, explicava a quantidade de vezes que o furúnculo era olhado a cada dia.
A nalga que o carregava era a única que não conhecia o porquê de tanta atenção.


- Fim -

11 comentários:

  1. Anónimo16/3/15

    Gostei do filme. Só achei o final um pouco precipitado. Talvez no "Furúnculo Nojento II - O regresso" se saiba melhor o que lhe terá acontecido.

    Beijos

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    1. Mete nalgas, para ti é logo um belo filme :P
      Aquilo está lá, para dar e durar. Um horror. Até lhe hão-de nascer pêlos, que nunca vai rebentar.

      Beijos

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    2. Anónimo16/3/15

      Nalgas e furúnculos, combinação explosiva. Olha, outro belo nome para um filme. :-)
      Prefiro evitar a visualização com pêlos e/ou a rebentar.

      Beijos

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    3. Que expludam os furúnculos, nunca as nalgas :P
      Eu prefiro evitar a visualização do furúnculo propriamente dito, mas aquilo tem tanto de repulsivo como de atractivo.

      Beijos

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  2. Anónimo16/3/15

    Metaforicamente falando, pode ser uma alegoria. Ou nem por isso?

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    1. Não, ou é uma coisa, ou é outra...
      É uma alegoria, não?

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    2. Anónimo16/3/15

      Por aí.

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  3. Uma pessoa salta do post do "bom pai, bom", e ainda nem se recompôs daquele vislumbre, e eis que...ainda que sem imagem, mas com uma imaginação produtiva, se lhe insurge um furúnculo pela mente adentro... não se faz...

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    1. Perdão, Majestade. Eu bem digo que este blog faz uns loopings perigosos. A ver se não entra em mayday, o tolinho.
      :)

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  4. Isto é uma alegoria... Creio! (Gosto do novo visual do blogue :D)

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    1. Pois claro, Pandy! :)
      (Brigadas, boneca. Mas ainda vai levar mais voltas, a ver se fica mais clean)

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