29/10/2018

Corr[i]eu bem

Chegámos - o meu sponsor, minha claque, meu coach (que é uma e una persona) - ao local da corrida com uma antecedência de zero minutos, tendo em conta que ainda queríamos cafeinar as cabeças e as veias e eu até pretendia usufruir da aula de aeróbica que a organização fornecia. Esta última saltei-a - não literalmente - pois ficava a vários metros do ponto de partida e separada por grades que, essas sim, não me apeteceu saltar por tão pouco. Fiz o meu aquecimento sem pudor, agacha-agacha-agacha, salta, corre no lugar, volta a agachar, muito mais porque estava um frio assassino (e eu de t-shirt e calções, à campeã) do que porque os músculos estivessem a dormir (que estavam), apesar da hora bónus de sono. 
Deixei muita mulher partir à minha frente, pois não era com elas que ia competir. A ser, seria comigo mesma, que também não era. Vou a estas corridas/marchas por mero e puro altruísmo, porque acredito que é importante participar financeiramente para a causa do cancro da mama, e porque, quantas mais formos, mais seremos da próxima, tamanho é o impacto rosa que, tod@s junt@s, fornecemos ao mundo.

Foto daqui
Talvez isso explique e tenha contribuído para que tenha cortado a meta depois de centenas de gajas. Ou melhor, não foi bem um corte, já que, por qualquer razão que me escapa, não havia nenhuma fita à minha espera, mas acho que esta do corte é a expressão correcta quando se fala de metas. 
Abrandei o ritmo aos dois quilómetros (fraca, eu sei) (mas ó, aos oitocentos metros, começaram a quinar umas quantas), andei duzentos metros, retomei até ao abastecimento (que foi logo a seguir), e depois corri sempre, até parar mesmo, faltava talvez um quilómetro para o fim, porque estava uma senhora caída no chão, muito mal tratada (braço e cara esfolados, em sangue). Quando percebi que já tinham chamado ajuda e ali estavam vários homens (que, não podendo participar na corrida, não têm um tempo a cumprir), continuei, sentindo-me a maior estúpida da m. da Terra e de todos os planetas. Raciocinando friamente: não ficava ali a fazer nada, a não ser a atrapalhar. Mas foi demolidor na mesma, que os meus raciocínios nunca são frios, apesar das baixas temperaturas que se faziam sentir.
Faltavam oito segundos para passar mais um minuto quando avistei a meta, e então dei um sprint e lá passei as barras insufláveis antes que se completasse o tal minuto. Só não o ponho aqui porque era o que faltava. 

Nota muito negativa, tipo um Insuficiente -
Já escrevi algures neste buraco que o percurso do Parque das Nações é uma má ideia para fazer corridas, nomeadamente porque envolve passeios tortos, com buracos, com subidas e descidas, resultado das elevações das raízes das árvores (foi aí que a senhora caiu, junto aos teleféricos), placas de cimento desconexas, e aquela ponte de estacas. Mas o que raio é aquilo, que até réguas bambas tem? Talvez a organização comece a levar nas orelhas da companhia de seguros da prova, infelizmente à custa de acidentes como aquele, e então façam sempre na Av. Liberdade, que, não sendo excelente, é um nada melhor do que a do Oriente.

27/10/2018

Agora que já cortei as unhas dos pés

lavei o cabelo, arranjei e pintei de vermelho as unhas das mãos, a depilação está em dia (sempre, graças àquela clínica que abre portas porta-sim-porta-não, como as p. em Olhão), personalizei a minha t-shirt (estavam à disposição números do xxs ao xxl, vesti o xs, que era enorme, mas trouxe o S, para ir folgadinha, e cortei-lhe parte das mangas e o fundilho. Porém, desta vez, não recortei o decote. Vai assim mesmo, púdica, quase gola-alta), falta-me apenas dormir uma noite inteira, tomar um banho para acordar a beleza — toda aquela que há em mim, desde o interior até ao infinito e mais além, aquecer bem os tornozelos e os joelhos (não com saquinhos de água quente, mas uma coisa deste género, embora não tão levada à risca, pois não terei oportunidade — nem quero, já que tenho uma imagem a defender e isto não é o da Joana — de fazer grandes agachamentos na zona de partida, menos ainda de me virar de rabo para Meca, hossana nas alturas), colocar o chip no téni (na organização disseram-me que é dentro do sapato, qual pedra, debaixo da palmilha — devem querer-me a coxear, as maganas —, mas o manual de instruções manda pôr debaixo dos atacadores e é onde eu vou botá-lo. Note to self: no pé esquerdo, que o direito é mais pesado, e, assim, contrabalança), maquilhar-me um mínimo (olhos, olhos, olhos, muita pestana, para a autoestima, senão já sei que desmoralizo e paro antes da meta), e só não digo que pretendo percorrer os cinco quilómetros da corrida qual Flo-Jo, porque salvo seja três vezes, lagarto, lagarto. 
Entretanto, neste último mês, não treinei nada, corri só uma ou duas vezes, dancei muito mais do que é costume, não cuidei especialmente da minha alimentação nem me proporcionei hábitos mais saudáveis, mas acho, ainda assim, que vai correr bem — literalmente. 


26/10/2018

Mãos de ladrão

Não sei se foi da esquina onde ele me abordou - onde já outro, em tempos, me havia vendido uma pulseira de plástico "para ajudar as crianças... [e a mãe parva que me habita não ouve mais nada, hipnotiza no termo "crianças", numa aflição sem reflexão para encontrar no porta-moedas a nota verde]" -, e, portanto, terei, mental e automaticamente, riscado aquele passeio do meu mapa de compaixão, ao descobrir, pouco depois, que a pulseira era apenas uma pulseira, sem valor estimável sequer naquela república popular asiática; não sei se foi do tempo que ele falou, que me deu tempo a mim de o observar com olhos de ver; não sei se encontrei, mesmo sem procurar, algumas incoerências em todo o discurso; não sei se é o meu coração que está a endurecer à medida que a carne amolece. Não sei do que foi, mas, desta vez - apesar de por pouco -, não caí na astúcia de quem me interpelou, "Boa tarde", e, não satisfeito com a devolução do voto, "Estamos aqui a fazer um inquérito às pessoas, não demora nada, é só um minuto, e muito obrigado por me estar a escutar". À minha resposta "Tenho pressa, por favor, não demore", sai a afirmação que pode ter sido a fatalidade no propósito dele: "Estamos a pedir às pessoas uma ajuda para as crianças [terá a ver com a minha cara?] com autismo". Ali fiquei um ou dois segundos, debatendo-me com a minha incapacidade de compreender a relação entre um inquérito e um peditório. "A senhora conhece alguma criança com autismo?" [e quem não?], mas foram as mãos dele que me disseram do logro: magras, descarnadas, ossudas, um pequeno e já envelhecido jornal numa delas, emparelhado com uma revista publicitária ainda embalada, a outra mão num tremor ansioso, branca, lisa, embora limpa, mãos de ladrão, pensou o meu coração empedernido. "A senhora tanto pode ajudar comprando a nossa revista, como ajudar com qualquer coisa". "E quanto custa?", a pedra a tentar entender a dimensão da audácia, "São cinco euros", já eu tinha desviado o olhar das indubitáveis mãos para os olhos, encovados nas órbitas proeminentes, cristalinos de um mar de Verão, azuis como as águas traiçoeiras do Pacífico, mas só quando lhe pedi a identificação como voluntário e ele respondeu "Nós somos voluntários da paróquia, não trazemos identificação", é que me caíram definitivamente as ilusões, fazendo-se em mil cacos aos meus pés e atingindo os dele. Devolvendo a todo aquele azul dois tições, afiancei, apenas: "Não."

24/10/2018

Vá, cosmos, diz lá o que é que queres dizer-me

Era uma vez eu, que, num gesto de profundo narcisismo e amor próprio, adquiri uma pequena medalha alegórica ao meu signo do zodíaco, que é, como não poderia deixar de ser, Escorpião. Lá no meio, muito bem colada, estava uma pedra azul, nem de propósito. Fora amor ao primeiro clique, voara para a loja na ânsia de a possuir, dera o coiro e o cabelo por ela (e mais me pedissem, que também teria dado), pendurei-a da carótida, colada à jugular, há dois meses, e nunca mais a despendurei. Passámos sessenta e tal dias a dormir juntas, a tomar banho juntas, a mergulhar no mar e na piscina juntas, a suar juntas, todo um romance que até enjoava. E, se calhar por isso mesmo, ou apesar disso, a pedra da medalha soltou-se e desapareceu sem deixar rasto.
Entristecida, porém munida do certificado de garantia, fui reclamar ao mercador que ma vendera. Que sim, que me punham pedra nova, porém talvez tivesse que a pagar, e beca-beca. Então está bem, eu ainda vou procurar a pedra, respondi sem convicção, pois que a dita tinha o exacto tamanho da cabeça de um alfinete e já havia desaparecido há quase vinte e quatro horas, tendo eu atravessado montanhas e vales nos entrementes. 
Chego a casa, ponho-me assim nos meus pensamentos, estática, de pé, "por onde é que vou começar?", olho para o chão e 
(oh, pá, ninguém vai acreditar...)
(que se lixe, arrisco.)
lá estava ela.

Pergunto-me-vos, então:
1. Essa cena da agulha num palheiro é para meninos, pois é?
2. Tenho uma vaca do genital? Muuuu.
3. Tenho olhos de lince?
4. A pedra tem o tamanho de uma rocha, eu é que vejo mal e não sei, afinal tropecei nela e estou para aqui com coisas?
5. A probabilidade de isto voltar a acontecer é para aí de uma num milhão, não? E convenhamos que não devo sequer ter um milhão de dias pela frente.
6. Será que isto invalida probabilidades quanto a ganhar o Euromilhões?
7. O ditado "Quem procura acha" não estará desactualizado, em se tratando de pessoas como eu?
8. Devia tornar-me mística? Medium? Cartomante? Investigadora criminal?
9. O facto de ser Escorpião tem alguma coisa a ver com isto?
10. O facto de a pedra ser azul determinou todo este desfecho?

22/10/2018

Na senda de "Sou só eu?" # 16

Que me dou ao trabalho de consultar o mapa das lojas nos shoppings desta vida, por me considerar incapaz de decorar o lugar de todas as lojas de todas as grandes superfícies, e, ainda assim, me desoriento?


Horrível. O coisinho diz "Você está aqui", e não consigo perceber onde estou (menos ainda quem sou eu, para onde vou, o que faço aqui, etecetera). Olho e reolho, miro e remiro os desenhos das lojas que me envolvem, estudo discreta, porém minuciosamente, a área envolvente (tanto no desenho como na realidade, aparentemente virtual, em que me encontro), e não atino onde exactamente estou eu. Suponhamos, e isto sem quaisquer intenções publicitárias, mas a mero título de exemplo, que vejo a Zara à esquerda na realidade, mas ela está à minha direita no mapa. Já experimentei pôr-me de costas para ele, precisamente para "colocar" a loja mais próxima do lado que acho que é o correcto, mas é que nem assim. Para já, deixei de ver o croquis, e só isso já me baralhou um nico. Logo a seguir, a loja "real" continuou no mesmo lugar, a do desenho também, e eu toda torta, perdendo a lateralidade, o ponto de referência, a direcção e as estribeiras. Já equacionei socorrer-me da aplicação do Google maps, mas tenho um medo que me pelo daquela senhora que começa quase todos os textos por "Seguir para oeste". Ora, como não possuo uma bússola incorporada, não sei para que lado é oeste, e, mesmo que me digam que a loja fica a jusante, só quero chegar à porra da perfumaria, que, eventualmente, estará a montante. Então, acho que só pode ser para trás, embora o boneco diga que é para a frente. Lá sigo o meu destino, que é perder-me, lá constato que me enganei no rumo que tomei, ou alguém fez de propósito para me enganar, lá volto para trás, ou para a frente, tudo depende do ponto de vista/de partida/cardeal, e aquela que procurava encontra-se exactamente no extremo oposto ao que dizia o mapa, ou me dizia a minha cabeça, ou não dizia em lado nenhum. Isto se, entretanto, enquanto eu percorria o corredor todo, não se tiver mudado de armas e bagagens para o outro lado. Ou simplesmente desaparecido, como outro dia com a Partyland. Puf, eclipse total do mapa. E do radar.

19/10/2018

Eu também estou a perder o colégio!

Mas, lá está, não sou a verdadeira, a genuína blogger, e, por isso, não posso opinar quando se trata de cenas que quero vender à viva força por me pagarem para isso. Aliás, não acho justo que não me paguem, porque era menina e moça para corrigir os textos dos meus patrocinadores, sponsores, patrões da banha da cobra, ou simplesmente a quem me pagasse para publicar cenas, de ponta a ponta, com meu implacável lápis azul. Se calhar por isso, ninguém me paga para escrever, ainda menos me dá brindes para publicar. Esta isenção, parecendo que não, está a sair-me do corpo, literalmente: não só não me dão creminhos para manter a cútis como se tivesse menos várias décadas, como também assisto diariamente à perda do meu colégio. (Colégio, não vás!) 
Colagénio? Hah, isso perdem as pessoas. Uma aspirante a influencer que se preze perde colégio, sei lá. Chiu.

Ela fala tanto # 26

E estava tão feliz com o grande feito de ter perdido (ou ganho?) alguns, vários, demasiados minutos do seu expediente a colar selos numa caderneta, 


que eu calei, se calei, mais uma e outra vez, a vontade de lhe perguntar se considera que não tem, efectivamente, mais nada para fazer (tanto pó acumulado, tanta tralha desarrumada, tanta pomba assassinada), mas o que é certo, indesmentível e real, é que lá fui à gigantesca superfície, também eu toda feliz e contente, trocar a caderneta por um pirex que não me faz falta nenhuma (mas é grátes, canudo!) e que não tenho onde arrumar (ainda acaba em floreira/fruteira/penico chique), e do qual não vou desenvolver o custo efectivo, porque já o fiz aqui, e eu sou pouco dada a repetir assuntos... acho.


18/10/2018

Eu tenho problemas com tudo # 36

Comprámos uma cama de duas pessoas há menos de três meses e ontem à noite escavacámo-la toda.

Pois é, isto, contado assim, esguicha logo duas ilações: a cama é material fraco; vocês são dois gandas malucos/gordos/desastrados.
Nada disso. Tivemos o cuidado de ir adquiri-la em qualquer lugar que não fosse na loja do sueco. Demasiada má experiência anterior — la madre de las cosas —, e contra o empirismo não há argumento. Fomos a uma semi-conceituada marca de móveis, tudo muito design, art nouveau, art deco, art por todo o lado, qualidade que se equipare ao preço, pois que não são nada meigos na hora do vamo-ver.
Cama excelente. Mesmo. Linda, azul, não demasiado rococó, que eu sofro de alergias em relação a cabeceiras de camas de casal. Noventa e nove vírgula nove por cento, são só pirosas. 
Ontem tínhamos uma comemoração para fazer, uma coisa íntima. (Soa mal? Era um aniversário cá do lar.) A dado momento, devemos ter coincidido quatro em cima do colchão, mas não houve nenhuma interacção que justificasse o crac do pé da cama e seu consequente desabamento lateral.
(Portanto, esta noite dormi sobre um dicionário da língua portuguesa, o que pode ter pontos positivos na minha alfabetização.) (Posso atestar sobre a rijeza de um dicionário daqueles, coisa muito mais fiável do que uns meros pés de madeira lá da loja do outro.) (Vai-se a ver e está encontrada a solução para os quatro pés da cama, que os outros três deverão ter qualidade análoga.) (Eu sabia que hoje ia escrever algures a palavra "análoga".)
Hoje, aí pelas dez da madrugada, já eu me entrosara pelo estabelecimento adentro, discurso bem treinado, para não dar azo:
- Bom dia. Eu comprei aqui, há três meses, uma cama de casal, e ontem à noite, um dos pés partiu-se.
[Momento em que duas caras se abrem, olhos, bocas, até narizes, em sinal de espanto/desconfiança/choque, e em que sentes que, seja o que for que digas a seguir, vai soar estranho/falso/inútil.]
- E, convenhamos, não houve um impacto, uma sobrecarga, enfim, motivo algum para que, de repente...
Olhem, mais valia ter inventado uma história qualquer, que pareceria mais verdadeira do que a inverosimilhança da verdade.
Só malucos, éramos seis, em cima da cama. Estávamos no entusiasmo de umas festividades cá nossas, e aquilo, lá no meio dos solavancos, esborrachou um pé, e só não caímos todos porque nos agarrámos uns aos outros.

Vamos ver como é que se portam no apoio pós-venda. Só em função disso é que digo o nome da loja da cama, que a mim também ninguém me paga para me calar. 


17/10/2018

Agora nunca mais morria uma mãe

Desde a perda da minha, do núcleo estreito que são as minhas relações sociais, já saíram desta vida outras quatro mães. 
As mães deveriam adquirir imortalidade efectiva — não essa, a da memória, totalmente metafórica — no momento do nascimento dos filhos. Isto seria uma espécie de garante, se não do aumento, pelo menos da preservação numérica da população mundial. Depois eram livres de entregar a sua imortalidade aos filhos, assim que o achassem conveniente e necessário. O Mundo seria muito melhor, e tudo seria mais justo e harmonioso. A cada filho, uma imortalidade renovada, uma possibilidade nova de abnegação. Não creio na existência de mães que não o fizessem sem pestanejar, assim a vida dos seus filhos corresse perigo. Caso contrário, à mais ínfima hesitação, merecido seria que a sua mortalidade fosse restabelecida, no imediato momento em que a dúvida as acometesse.

Quão cravejado de erros está este raciocínio, pois se fosse possível a uma mãe fazer a entrega da sua imortalidade a um filho doente, então regressaria à sua condição de simples mortal, e, consequentemente, voltaria a poder acontecer a nada simples morte de uma mãe.

Custou-me mais do que os outros, este último adeus que fui dar a uma mãe. Na verdade, ia acompanhar uma filha minha, que, por sua vez, ia acompanhar a amiga, filha daquela mãe a quem íamos dizer não vás. Ou melhor, não vais. Para sempre ficarás, mãe desta filha ainda demasiado incapaz de não te ter aqui. (Não sei se existe uma idade para se ficar sem mãe.)
Sei que a vi chorar nos degraus, e depois junto do corpo da mãe. Os meus olhos picavam quando tivemos que desenlaçar o abraço em que ela, enorme e muito magrinha, por momentos pequenina, me soluçou no ombro. Pedi-lhe apenas que me deixasse dar-lhe um beijinho, e assim fiz, acariciando-lhe o cabelo louro de seda. Retraí o instinto, que me impelia a dizer-lhe que, quando precisasse de mãe, lhe podia dar um bocadinho, daqueles tantos que ainda tenho, e me sobram nas mãos, nos bolsos, no regaço, no colo, nos dois ombros — mesmo que inundados de soluços e lágrimas —, nos ouvidos, nas noites de insónia e medo, e, em geral, no coração. Calei o impulso, envergonhada da minha própria soberba, lembrando a velha máxima mãe há só uma, e saí do local, investida da minha simples condição de simples mortal.

Foram décadas de autoanálise para aqui chegar (ao espelho e tudo)

Mas é que tenho vindo a tirar algumas — não muitas, que é para não cansar o neurónio sobrevivo  — conclusões, que considero importante registar. A saber, se é que alguém, para além de mim, quer saber: 
1. Não sou eu que tenho uma imensa dificuldade em dizer não (ou melhor, “NÃO!”). Eu dou-me é com demasiada gente que não entende o significado da tão singela palavrinha com três letrinhas apenas, que é o não;
2. Eu não espero dos outros o equivalente ao que lhes dou (em termos afectivos, geralmente). Eu espero é que não exijam de mim o que de todo não me dão;
3. No dia em que fechar este buraco onde faço de conta que escrevo — e esse dia chegará, mais tarde ou mais cedo —, vou-me sem deixar rasto. Nem o mail — principalmente o mail  — fica para contar a história.

15/10/2018

Manual de como se ser um mau vendedor em alguns passos

Vou com a finalidade de fazer meu um vestido, que encontro logo num dos primeiros expositores. Existe em vários números — 46 incluído (boa tenda de campismo, não fora a intempérie que se faz sentir no momento presente) —, mas autodetermino-me que o 38 é demasiado grande e largo para a minha silhueta, verifico que o que está na boneca é o 34, e convenhamos (para além do que a boneca é uma boneca, e tem medidas surrealistas, avaliadas por alto em altura de 1,85 metros para, se fosse de carne e osso como as pessoas não bonecas como a pessoa, uns 45 quilos mal pesados), portanto, quero o 36 para me vestir. Ora, é precisamente o que não está à venda. Dirijo-me à única criatura viva que se encontra dentro do grande armazém, temerária de ouvir a resposta só há o que está exposto, mas recebo, ao invés, O sistema diz que ainda há dois 36 em loja. A senhora dirija-se a uma das minhas colegas e pergunte onde é que eles estão. Eu bem me dirigi, mas, como as colegas do rapaz não existiam, rodei o calcanhar e a baiana e ala que se faz tarde, fiquem lá com os vestidos 36 todos para vós, e fazei-lhes bom proveito, que eu cá deixei agora de gostar deles e lembrei-me que tenho um tacho ao lume e passe bem.
~
Vou com a finalidade de fazer de uma amiga um pequeno (porque a minha amizade e o meu coração são enormes, mas o meu porta-moedas até parece que encolhe) frasco de perfume, mas a que me atende esclarece-me que se tratava de uma edição limitada e, portanto, ao atingir o tal limite, já não existe. Sim, eu tenho uma pontaria tal que, se mandasse uma lança, acertaria em África com toda a certeza. Resolvo então correr a loja, em busca de algo parecido, que a faça igualmente feliz. É então que o ser vivo tem a luminosa de, do nada, me bombardear — quase literalmente — com um produto novo, uma maravilha de perfume para a casa, que se liga a uma aplicação no telemóvel, e também ao wi-fi de casa, que eu posso controlar remotamente, ligar quando estiver a chegar a casa, desligar a partir do Samouco, em lá estando (claro que isto é exemplo meu), toda uma festa aromática de controlo remoto, em que sou eu que mando nos momentos em que a casa cheira bem ou não. À concreta pergunta, Quanto é que isso custa?, vai ela e diz assim: Neste momento, em preço promocional, são 129 euros. [Eh, pá, eu tenho cara de parva, só pode. Ou de rica.] Foi quando soltei a varina que jaz amordaçada e amarrada nos confins mais recônditos do meu basfond e lhe respondi: Está a gozar, ou quê? Então eu entro aqui para comprar um perfume para uma amiga e você desata a tentar impingir-me um perfume para a minha casa que custa cento e trinta euros? (Arredondei, eu sei. Mas a situação exigia-o.) Lá tive que rodar tudo outra vez, calcanhares, baiana, pescoço, foi tudo, e ala, inshallah não me aborreçam mais com peditórios destes.

Porta-moedas - 2; Vendedores não empenhados - 0.

14/10/2018

Sou a >

ou então, a mais ínfima, tudo depende da perspectiva e da lupa que se use. 
Estou farta de chumbar. Chumbar não é agradável, não nos traz aquela cena de aprender a lidar com as frustrações, só faz de nós um chumbado chato, frustrado e inenaturável.
Fartei-me de chumbar na faculdade, nos exames orais, porque me enervava, ficava branca, e depois a branca toldava-me o raciocínio, ou lá que raio. Chumbei no primeiro exame de condução, porque deixei o motor desligar-se mais que três vezes (acho que foram cinco só numa manobra). E também já chumbei na admissão à dádiva de sangue tantas vezes que, se me tirassem no mesmo dia o sangue todo que me recusaram, eu vampirizava no próprio acto. Ora me falha a hemoglobina, ora me atraiçoa a tensão arterial. 
Fui dá-lo. A hemoglobina excelente, só faltava a tensão estar normal (como se isso fosse possível desde que nasceram os meus filhos). Diz-me a enfermeira que com esta tensão, não pode dar sangue hoje, e o meu mundo ruiu. Ó pá, que eu sou logo assim, a drama queen chora por dentro e vá que não por fora. Então, fui acometida de uma epifania e roguei por aquela que era a minha última oportunidade: Posso ir fazer chichi? A enfermeira de olhos escancarados, Mas está aflita? (Tipo, esta doida vai interromper a consulta para ir urinar-se?), eu que não, que nem me apetecia, mas que esse é O truque para fazer baixar a tensão rapidamente. 
Resultou, e pude dar sangue. E ainda ensinei um truque clínico a uma profissional de saúde.
Recapitulando,  posso não ser a maior, mas sou grande. Posso não ser gigante, mas sou enorme.


13/10/2018

Antes que me julguem morta

venho aqui fazer aquele chichizinho da marcação de território, pois que estou há cinco longos dias sem dar o ar da minha imensa graça, para gáudio de uns e entumescimento cerebro-cardíaco de outros. (É a brincar, sei lá o que é que se passa desse lado. Nem fui ver as estatísticas da afluência, mas imagino que caíram a pique, de 300 para 299.) (Por acaso, acho giro isto das estatísticas, gostava mesmo de perceber quem é que cá vem nos dias em que eu não escrevo. É pessoal que não me tem no feed? É pessoal que quer ver se já comentaram o post mais recente, e o feed não lhe fornece essa informação? É pessoal que quer ver se já responderam ao comentário do post mais recente? Enfim, é pessoal.) (Não percam tempo, que eu também não.)

Perdi a conta ao número de vezes, durante estes cinco dias, em que abri isto e fechei logo, ou fabriquei mais um rascunho, e fechei a seguir. São crises existenciais a que todo o génio artista genuíno blogger que se preze se pode dar ao luxo. Isto prende-se um pouco com o meu #metoo, que cada fêmea tem o seu, e tinha mesmo alinhavado na cabeça um post acerca, mas não o cheguei a coser, olhem, ficou no alinhavo, logo se vê (ou não) um destes dias. Trata-se de uma perspectiva inovadora, fracturante e algo ultrajante. Sucintamente, ando farta de chicos-espertos e perseguidores camuflados de cordeiros, e pensar eu que tenho três filhas jovens e bonitas (a genética é uma coisa tramada), o que é coisa para não me deixar dormir.

Por acaso, não era sobre nada disto que vinha falar, mas agora já está. Que se acasale, agora é pumba no 'publicar' e está feito.

08/10/2018

O sarilho do sarau

Por acaso, não é bem um sarau (mas compunha o título desta posta), não só porque eu já não tenho idade para isso, como também porque não. Mas será uma mega-aula, um espectáculo dentro da própria, uma coisa nunca vista — sei lá se não reportada em vídeo —, especialmente porque a pessoa humana vai estar presente, particularmente porque cá o ser vivo vai actuar, mormente porque não sabe a coreografia da música que lhe calhou na rifa, sobretudo porque nem sequer se lembra de qual a melodia em questão. Portanto, tenho cinco dias para 1. Descobrir qual é a música que acompanhará a queda em Cristo de uma grande dama; 2. Repuxar das pontas da memória pelo esquema de dança que irei protagonizar a) Ao lado da titcha [não vai correr bem]; b) Sozinha [wowowow, gentchi, vou criar a dança do piléqui!].
Em modo pré-traumático, apelei a uma companheira de bailaricos, que me esclareceu — ou não — que a dita partitura era esta:


(Fala de dores de cabeça, e cenas que não me assistem, mas também não estou em condições de negociar outra.)
Não estou muito crente, não só porque aquela que me atraiçoa constantemente não me diz que seja, como também porque, a ser, é das que tem uma das coreografias mais fáceis, e eu tinha na ideia de jerico que me tinha calhado uma muito infazível. (A titcha é uma cómica, quer divertir-se por conta da senhora...?)
Bom, à cautela, comprei uns calções novos e lindos para estrear na ocasião. As bailarinas não usam tutus novos para os espectáculos? E os futebolistas, não estreiam toilettes novas em cada jogo? Então, é a mesma coisa. Deixem-me.


07/10/2018

Hoje venho cá contar-vos um segredo # 2

Assim do género daquele que vos contei aqui.

No dia 6 de Outubro, lá onde eu estava a divertir-me, visionando carros e motas a percorrer a pista do Autódromo do Estoril, via pelas minhas janelas, ao fundo, ao longe, um fumo não muito espesso, mas já algo alto, que fazia da Serra de Sintra uma espécie de chaminé, ou, sei lá, um Vesúvio em começo de ebulição. 



Isto eram, exactamente, 16:05 H. 
Mas parece que não, que só às 22:00 daquele dia é que O fogo deflagrou. 
Se calhar por isso, é que, no ar, havia um número de meios aéreos aviões de combate a incêndios...
...
...
...
rigorosamente igual a...
...
... zero.

[Começo a ponderar se o fogo não anda atrás de mim, fogo!]

05/10/2018

And that awkward moment # 52

em que, rua cheia de gente, e, portanto, plena de múltiplas escolhas, o ouvi chamar-me, “Senhora!”, o vi percorrer os trinta metros que nos distanciavam, lhe percebi a falência de siso, natural ou adquirida, lhe avaliei o andar titubeante e o olhar fixo em mim, a cabeça levemente inclinada para o lado, de cabelos ondulantes ao vento que não corria, pensando cá para com o fecho éclair do meu vestido-larido, “Que sorte magana esta minha, que não há chanfrado que não se me cole à bainha, mas será que fui padre noutra encarnação, mas terei sido psiquiatra, mas agora sou mãe da Humanidade?”, e estava eu nestes pensamentos quando ele se acercou e me pediu “um cigarrinho”. E, diante da recusa que lhe ofereci no lugar do cigarrinho, esclareceu-me - sem que lhe pedisse explicações - que era muito viciado, que já fumava para lá de quarenta anos e que estava a ver se não arranjava alguma coisa nos pulmões. Parecia-me ele um rapazola, o olhar redondo nem verde nem castanho - azul não, com certeza, azul não, porque não -, cheio de pestanas a dar nas pontas da franja às curvas, como se quisesse colar-se-lhe à testa, e depois aquela fala ssopa-de-masssa, tudo ironicamente infantil. Estava eu nestes pensamentos, como já disse, quando ele me perguntou a idade e eu vá que lhe disse a verdade. (Havia de fazer como a minha avó, que lhe acrescentava sempre mais doze - aqueles mesmos que fazia de diferença para o meu avô - e toda a gente pasmava diante da boa conservação, frescura e juventude dela, “Ai, parece muito menos!”, pois pudera, tinha muitos menos.) Responde-me ele, “Ainda é mais nova que eu...”, o rapazola. E ainda atreveu com o clássico, lisonjeiro ou apenas cavalheiresco, “Parece muito menos”. Nem tempo me deu para responder o estafado “Muito obrigada, mas tenho-os na mesma”, porque completou a frase com um “Parece que tem...”, atribuindo-me menos quatro do que, efectivamente, tenho. Eu tola, de cabeça de lado, titubeante e de olhar redondo, nem verde nem castanho - negro, o de sempre -, e ele, talvez percebendo, e tentando corrigir a gaffe, acrescentou, “Ou então...”, pondo-me em cima menos três do que, efectivamente, tenho. O rapazola.

04/10/2018

Sobressaltos - 1, Saltos - 0

A vida alinha-se, à medida que os dias passam. Quando algo não tem remédio, remediado está, lá diz o povo na sua imensa sabedoria. Quando tem, melhor ainda. É ir à farmácia e comprá-lo. Ou então, esperar que o tempo passe, o tal que tudo cura, qual curandeiro das almas, qual médico com diploma e tudo. 
A minha gata melhorou com a retirada do body/babygrow/vestidinho. Se calhar, não gosta de cor-de-rosa e o problema residiu sempre aí. Para a próxima, trago-lhe a vestimenta em azul, faz todo o sentido. (Penso na próxima e atravessa-se-me uma farpa de medo na garganta. Tenho que aprender a não antecipar os problemas. O que tiver que ser, será. Estou sempre a dizer isto aos meus filhos, e depois não aplico. Faz o que eu digo.) (Bolas, hoje estou - ainda mais - cheia de ditados populares.) (Sou tão povina.) Devia estar a morrer de alívio, mas ainda bem que não estou. A morte ficar-me-ia muito mal, nesta altura do filme. (Bom, passei para as alusões cinematográficas, isto vai de vento em popa.)
Toda esta retórica para vir aqui lamentar-me que há duas semanas que não salto. A professora de Jump foi-se, e deixou os armários cheios de botas kangoo para trás. Eu até já tinha as minhas favoritas, as número 21 (num registo algo narcisista, uma vez que é a data dos meus anos), tamanho S. (É verdade, esta lonjura de perna, todo este tamanhão de gente, sobretudo de salto alto, e um pé de Cinderela (OK, passei para as histórias da minha infância). 
Reclamei da falta das aulas, pretendi ir praticá-las para outro do mesmo ramo, mas diz a da portaria que não. Que não sabe se as aulas acabaram, que, se sim, ela saberia, que, se não, também não saberia, e eu saí dali com aquela minha cara de try-again-fail-better. Tenho cada vez maior dificuldade em perceber les autres, qui sont l'enfer. (Agora Jean-Paul, hã?) 
Solução para este problema? 
1. Sair daquele ginásio e ir para o que tem as aulas que eu quero. Fica fora de mão, mas esse é o meu middle name;
2. Comprar umas botas daquelas e ir pular para a minha rua. Já ninguém atesta pela minha sanidade, é só mais um ponto a esse favor;
3. Esperar - ou que as aulas regressem, ou que me passe a mania;
4. Desistir. Errrr...
5. Pular em casa, sem as botas. Ohhh...

Enquanto não soluciono a questão, fico-me pela recordação.
(Atrás das bolas e dos ovos estão pessoas.)

03/10/2018

Carta à minha gata

Querida gata:

Escrevo-te esta carta sabendo que nunca a lerás, pela circunstância de seres analfabeta e, previsivelmente, assim permaneceres até todo o teu sempre. Mas preciso de dizer-te algumas coisas e dá-se, do meu lado, a contingência de não saber falar a tua língua, embora já vá entendendo a tua linguagem. Por esses dois motivos, espero que percebas, pelo menos, uma pequena parte do tanto que tenho para te dizer.
Não começo como deveria, perguntando-te como estás, por ser esta uma pergunta retórica, e por, cobardemente, não querer ouvir uma resposta vinda de ti. Eu bem sei como estás, se calhar melhor do que ninguém. Não é fácil envelhecer, nem tanto por vermos o nosso corpo a mudar - o que a ti, como gata, nada deve importar -, mas por nos sentirmos, a pouco e pouco - e uns dias mais do que outros -, a perder a vontade, o viço, o brilho, e, com ele, o brio.
Bem queria dizer-te, 'Nós por cá, todos bem', mas não consigo. Falo por mim, que não estou nada bem, desde que foste operada. Vejo-te mais magrinha, mais quieta, mais triste todos os dias. Não percebo como é que envelheceste tanto em  tão pouco tempo. Eras tão pequenina quando nos chegaste, e agora continuas pequenina, mas de outra maneira. Sabes, já assisti a esse "processo" em pessoas, mais recentemente na pessoa que me deu a vida e a luz, e continuo sem perceber como é que os dias passam mais cruelmente para uns do que para outros. Sei que sou tola e ridícula se te disser que já vi esse mesmo olhar perdido e desistido, mas vi, e reconheço-o a uma grande distância, precisamente por não me estar assim tão longínquo.
Como sabes, as idas ao veterinário têm sido repartidas pela família toda, já que somos tantos, e, assim, vamos aos dois e dois. De alguma maneira, não somos muito diferentes daquele casal cigano que, outro dia, na loja dos animais, se queixava que a sua tartaruga tinha uma coisa branca nos olhos e, diante da solução, que passava por lhe colocar um colírio todos os dias, a mulher gritou, "Aaaaaai, a tartaruga está cegaaaaaa!". Nós somos assim, vamos contigo e parecemos ciganos aflitos com a sua tartaruga. Ou pais recém brindados, ansiosos no pediatra.
Tirámos-te o vestidinho que te impedia de ser gato hoje de manhã, e receio - para além de todos os meus outros receios -, que tenha posto demasiadas esperanças nessa mudança. A outra tola, jovem e anafada, mal sentiu o cheiro dele (que é o teu), pôs-se a bufar. Haja paciência para quem já criou quatro pessoas, ainda ter que equilibrar forças, territórios e ciúmes entre gatos. Mas, para além de te ter visto ires comer as minhas flores - três vasos raquíticos no parapeito da janela da cozinha, que as flores não se dão comigo - e teres saltado para a janela do quarto das meninas - onde ficas a mirar os carros, as pessoas, os pássaros, não sei se por esta ordem -, não te vi fazer mais nada que me diga que estás a recuperar e que me sossegue o coração.
Quero que melhores, e rápido. Já te dei demasiados dias para começares a arrebitar. Isto não é só um desejo, não é mais uma ordem daquelas minhas ("Ai, ai, ai, não me comas as flores!"), é um imperativo categórico. Melhora primeiro, e eu depois explico-te o significado disto. Logo a seguir, podes voltar a ser brava e soberana, indiferente e não-me-chateiem. Eu deixo. E quero.
Recebe um abraço não muito apertado, para não magoar esses ossinhos todos. (Agora até parece que são mais do que eram antes.) E um beijo nessa barriguinha rapada.
Da tua, permite-me, mas algo de muito parecido com
(Segunda) "Mãe".