31/10/2016

The girl next door # 7

Ai, que medo!



Eu acho que tremi ao tirar o retrato da porta dela. Nota-se muito?

Fabul(os)a

Conta a fábula que a coruja encontrou a águia e lhe disse: 
- Ó águia, se vires uns passarinhos muito lindos num ninho, com uns biquinhos muito bem feitos, não os comas, que são os meus filhos! 
A águia prometeu-lhe que não os comeria. Foi voando e encontrou numa árvore um ninho, e comeu todos os filhotes. Quando a coruja chegou e viu que lhe tinham comido os filhos foi ter uma conversa com a águia, muito aflita: 
- Ó águia, tu foste falsa porque me prometeste que não comerias os meus filhinhos, mas mataste todos!
Disse então a águia: 
- Eu encontrei uns pássaros pequenos num ninho, todos depenados, sem bico e com os olhos tapados, e comi-os. E como tu me disseste que os teus filhos eram muito lindos e tinham os biquinhos bem feitos entendi que não eram esses. 
- Pois eram esses mesmos, disse a coruja. 
- Pois então, não sou eu que estou errada, enganaste-me tu com a tua cegueira.
Fonte (português adaptado)

~

Conto eu que certo dia uma cria macho de coruja lhe disse:
- Ó mãe, se vires passar um bando de jovens águias, esconde-te e não apareças sob pretexto algum, que falo eu com elas, e nenhuma te fará mal.
As águias passaram pela coruja-mãe, que, incapaz de esconder-se num ninho tão pequeno, se lhes assomou, dizendo 'olá!', ao que elas responderam, tendo continuado o seu juvenil voo, indiferentes e confiantes.
Enganara-se a cria da coruja, com a sua cegueira.

~

Trazia três amigos para almoçar em casa. Tentou certificar-se de que almoçariam sozinhos, respondi-lhe que sim, que, à hora a que chegassem, só eu estaria, fechada a trabalhar. Chegou à porta do prédio e ligou-me, para confirmar: "Mãe, só estás tu?", "Estás a trabalhar?", "Podemos subir?", "Escusas de interromper, nós ficamos bem". Tudo certo: almoçaram, arrumaram tudo e saíram. Só mesmo quando a visita estava a terminar, me assomei na sala e disse 'olá!', eclipsando-me de seguida.
À noite, numa voz de gozo e falsete, perguntei:
- Por que é que não querias que eu aparecesse na sala? Tens vergonha da mamã?
Os olhos lindos e gigantes pousaram de seda nos meus e responderam assim:
- Não. É exactamente o contrário.

30/10/2016

Ouvi eu, com estes que o forno há-de cremar # 21

Há muitos anos (ou nunca) que ninguém me dizia nada que eu sentisse tão insultuoso como hoje.

Cenário:
As máquinas de remos (ergómetros) de um qualquer ginásio deste mundo.

Personagens:
A pessoa humana; uma senhora, de idade compatível com a da pessoa humana; um jovem parolo (que, no meu tempo, estaria a cumprir o serviço militar obrigatório, que era um descanso).

Sit:
Cada qual dos três a ocupar uma máquina (diferente), a ver quem chegava primeiro a Olho de Boi. 

Vem de lá (de trás? Do chão? Do telhado? Das trevas?) outro jovem parolo (que, no meu tempo, não sei se já disse, estaria a cumprir o serviço militar obrigatório, que era um descanso), que profere, extremamente alto:

Olha lá, rrréma! E ólha pá frenti! Só te vejaólhar pó lado! Tájaki só pólhar pás miúdas?


Tenho andado todo o santo domingo a pensar nisto, tendo despendido mais de uma hora dele só no seguinte raciocínio:

Aqui há umas semanas, comprei uns calções de ginástica. O tempo não arrefecia nem à pedrada de gelo, os lindinhos para ali estavam abandonados, ora leva-me, ora possui-me, ora preenche-me o interior, e eu, diante de tanto rogo, lá lhes fiz a vontade. Estavam, dizia lá, com 50 % sobre o preço mais baixo da etiqueta, o que rapidamente se transformou nuns 7,5 euros. Eles não podiam descer mais baixo, e eu não suporto uma pechincha. Ontem deu-se a estreia, estava a pessoa com um estilo do genital ali a dar ao braço na máquina, faz a pausa entre séries, fica ali a olhar para as moscas e, como não tinha muito mais o que fazer, desatou a prestar um nico de atenção ao rebordo de uma das pernas, tendo-se apercebido que, afinal, os calções novos eram double face. São uns calçõeões. Uns bicalções. 
Ora, se comprei dois calções por metade do preço, isto não quer dizer que, na realidade, comprei (o equivalente a) quatro calções? 
Deixo-vos com a dúvida, como naquele reclame da televisão, 'Terá casado aos quinze?', que eu agora tenho outro post para escrever.


Esta hora de bónus

Dormi-a. Recolhi-a. Passei-a a ferro. Lavei-a. Estendi-a. Trabalhei-a.
Devia tê-la jogado à bola. Devia tê-la fumado. Devia tê-la bebido. Devia tê-la comido. Devia tê-la amado.
Vou devorá-la. Vou respirá-la. Vou estafá-la. Vou esticá-la. Vou dançá-la. 

Com um pedido de desculpas pela repetição, 
mas esta faz parte do repertório, 
e é inevitável vir-me à cabeça de cada vez que vou dançar

29/10/2016

mais-valia

Estava aqui a ouvir a gravação de um julgamento de um acidente de viação em que morreu uma mulher, e há um momento em que o advogado da companhia de seguros da falecida pergunta à irmã desta se ela era uma pessoa expansiva, sociável, ou, ao contrário, introvertida e mais fechada sobre si mesma. 
Sei que a vida humana é valorada contabilisticamente, para efeitos indemnizatórios, em termos de idade da vítima, mas também através de sinais tão subreptícios de perda — maior ou menor — para as famílias e os amigos, como são, eram, ou foram, aqueles que a pessoa levou consigo, e "simplesmente" deixaram de existir: a sua alegria, bondade, jovialidade, os seus projectos e sonhos. 
É, para mim, inevitável colocar-me no lugar da vítima. Não por desejo de vitimização, mas por um qualquer exercício mental a que me voto nesta coisa do que são as portas da morte, as tais que, como diz o ditado, se fecham para a inveja (a qual, felizmente, ninguém terá que fechar quando me tocar a vez) e se abrem para a fama (idem, mesmo que seja para a má). Imagino que as minhas testemunhas deporiam todas no sentido de me reconstruir esfuziantemente alegre, um poço de generosidade, uma força da natureza, uma vida para viver, um raio de sol (assim me chamava a minha mãe — um raio de sol), talvez agraciando-me com exagerados elogios post mortem.  
Dos fracos, mas, sobretudo, dos tristes, não reza a História. O número de lágrimas que chorarem cá por nós será directamente proporcional ao número de gargalhadas que dermos em vida. E, ironicamente, ou não, ela é tanto mais valiosa — monetariamente falando — quanto mais vivos em vida formos.

Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar a passear à rua # 53

Numa Nike, não assim muito perto de mim

28/10/2016

Apenas três frasezinhas, à laia de indirecta/

Uma imagem vale mais do que mil palavras

Love kills.
I don't care what they say, I'm in love with you.
Estou quase a fazer anos.

Frases que profiro mental e verbalmente cada vez que me meto no IKEA

Um lugar... um lugar... ah, vai ali um a sair... não. Ainda vai carregar sete caixas do tamanho dele, provavelmente vai demorar. 
Ufa, já entrei.
Ah, não, afinal isto é a antecâmara da tortura. Ainda tenho que subir aquelas escadas.
Só quero um edredon. Ora, os edredons devem ser depois dos móveis todos e antes dos tachos e dos penicos
Hum, que giro. Era capaz de viver nestes nove metros quadrados... por uma hora ou duas. 
Afinal não era. 
Estas camas, caraca. Deitava-me em cima de qualquer uma e xonava-as todas de uma vez.
Mas quem diabos quer um armário verde-alface?
Antes o armário verde-alface do que aquele sofá em pele.
Mas quem diabos quer um sofá em pele?
Preciso disto.
Não tenho onde pôr.
Isto é tão útil, não é?
Não vou usar.
Era mesmo isto que eu queria lá para o meu quarto. Estou a precisar de um roupeiro novo, não sei porquê.
Eu era capaz de ser feliz naquele closet.
Apetece-me brincar às casinhas.
Vou fingir que estou extremamente interessada nesta cozinha, só para poder mexer em tudo.
Ai, uma poltrona azul-bebé tão gira! Vou mas é sentar-me nela; não quero morrer parva.
Cada vez que cá venho, isto está diferente.
(Será que não consigo fixar um caminho, nem que seja este, que tem setas luminosas ao longo de todo o percurso?)
(Eu devo ter sido a Gretel, noutra encarnação. Isto não vai lá nem com rebuçadinhos no chão.)
Já andei o equivalente à descida (ou subida, é para o ponto cardeal para que estiver virada) do Parque Eduardo VII, e ainda não avistei edredon nenhum. 
Vou descer estas escadas, que hão-de ir dar a algum lado.
Já que aqui estou, vou comprar um dispensador de sacos de plástico.
(Não sei para que sacos, que a lei dos sacos já me lixou os intentos, mas sinto que preciso de um.)
Olhe, por favor? Não encontro duas coisas. Errr... são as duas coisas de que ando à procura, tendo em conta que vinha comprar três, mas uma já encontrei, que é este relógio de cozinha. Por acaso, não gosto muito dele, mas, se encontrar outro de que goste mais, logo troco antes de pagar. Queria um assim com o aro em amarelo. Pode dizer-me onde encontro edredons?
Ainda vai encontrar.
(A loucura, parece que é profeta. Só faltou tratar-me por tu e por filha.)
E dispensadores para sacos de plástico?
Hum?
Trata-se de um objecto, no qual se guardam os sacos de plástico... aqueles que se têm em casa... que ainda os há...
Isso é lá em cima, na zona de utilitários de cozinha.
Já não vou voltar atrás, como os D'ZRT. Defequei no dispensador, ou lá como raios se chama o objecto. 
Por falar nisso, o que são aquelas taças tão redondas? Penicos?
Eh, pá, que giro: uma batedeira sem fios. Dá-se aqui à manivela e ela gira na mesma. Isto é mesmo útil, para quando falha a energia... para bater bolos no campismo... para...
Espera. Almofadas. Edredons. É isto. Quente, Frio ou Todo o ano? Tenho esta dificuldade em tomar decisões quando me apresentam a hipótese A e a hipótese B, quanto mais se me metem a AB no mixer. 
Como é que eu saio daqui? Rotunda, rotunda, CRIL, a ver se não me meto para o Bairro do Zambujal, como outro dia.


Good vibes

27/10/2016

Quente ou frio?/

Das fracturantes questões da autoimagem, e assim

Esta coisa de as pessoas se gabarem de serem muito encaloradas tem um significado qualquer que me escapa. 
Conheço uma, de ouvir contar, que, apesar de não o declarar explicitamente como uma vantagem, afirma com alguma constância que tem sempre muito calor, e só está bem em climas de praia — o que, já por si, é contraditório —, mas é também a mesma que frequenta um mesmo local que eu frequento, que se tapa de edredon até Março e manta de lã até Junho, que precisa do aquecimento e da manta térmica ligados, enquanto eu, desgraçada, lá ando todo o ano em pêlo, e ai da querida massagista que me ponha sequer uma toalha de banho em cima, que eu me derreto na marquesa onde, desgraçadamente, suo as estopinhas e também os pregos. 
Não é bom ser-se encalorado. Eu percebo (mal, mas enfim) que haja quem associe calor a ardência, a sensualidade, a fogo no cu. Pois que não, minha gente: a temperatura corporal tem mais explicações do que a cor dos olhos, mas uma delas também é essa — a genética. No entanto, parece que há quem considere que ser-se encalorado = ser-se quente = ser-se sensu-sexual; e que ser-se friorento = ser-se fraco  = ser-se insensível = ser-se frio/gélido/frígido. Ou será porque se julga que uma pessoa encalorada leva menos segundos a ir de zero a cem, o que nunca me dei ao trabalho de medir, mas talvez possa ser verdade, se estivermos a ater-nos a alguma escala com graus de irritação.
O que acontece, na verdade, é que cada um tem a autoimagem que construiu para si, por mais antagónico que isto possa parecer. Não se trata da imagem que vê reflectida no espelho — que já essa, convenhamos, não corresponde à realidade, ou, pelo menos, àquilo que os outros vêem —, mas sim àquela que nós temos como nossa, com os nossos mínimos aceitáveis segundo os nossos parâmetros. Quantas vezes não ouvimos uma mulher, para lá de troncha, afirmar "Eu não sou gorda"? Ou uma outra, que eu conheço tão bem, "Estou tão gorda", sendo que, efectivamente, não está?
Não adianta nada partir espelhos. (Fora o azar que dizem que isso dá.)

26/10/2016

Encurralada

Lembrei-me hoje da cena mais trágica de encurralação humana a que assisti em toda a vida, teria eu talvez catorze anos e ela quatro. Era fruto de um casamento muito recente e muito desigual em termos etários, podendo o pai ser avô da mãe, pessoa ríspida, seca, autoritária, sobretudo com ela. Desconheço as razões para aquele tratamento, ora excessivamente carinhoso — porque isso também existe; apelativo, mesmo, impositivo, é o termo certo —, ora de uma violência inesperada e inexplicada. Já naquela altura, imaginava que alguns anos de segunda escolha por parte do marido, a educação sozinha daquela filha até ao momento, a distância de idades para com o pai dela, incapaz de as acompanhar em toda e qualquer actividade familiar — quanto mais na cama dela —, a juntar a uma doença epiléptica mais ou menos controlada, tudo seriam contributos para uma personalidade tão instável e tantos acessos de raiva mal contida mesmo nos momentos de paz. O pai, recentemente saído de um casamento que durara toda a sua vida, era um pouco mais benevolente, talvez aquela benevolência de quem já baixou os braços e prefere abster-se, evitando aborrecimentos maiores. 
A mãe tirou-a da banheira, já ameaçando, já gritando, já ralhando, e bateu, bateu, bateu, até se cansar de bater, pela cara, pelos braços, pelo rabinho, onde a mão pesada apanhou.
Então, vi-a correr, toda nuinha pelo enorme corredor da enorme casa onde moravam, na Alameda, acossada de desespero, na direcção dos braços do pai, que se encontrava no outro extremo do corredor. Ele recebeu-a, sufocada de choro, ralhou mais e bateu mais.
Lembro-me também de ter assistido àquilo petrificada e impotente, estupidamente cúmplice. 
Nunca tinha visto uma pessoa tão encurralada, nem nunca mais vi, mas hoje lembrei-me dela. 



25/10/2016

É tão pouco blogger da minha parte # 10

ou
Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar a passear à rua?

Olhem, não sei.
Fui a um restaurante do bom e do melhor. Boa comida, sala esplendorosa, um requinte pegado, uma coisa esmagadora.
Eu não consigo ser chique.
Sei aquelas regrinhas todas, como sentar, em que talher pegar, até sei enrolar o taglettini no garfo, usando a colher na mão esquerda. Aliás, não troco a ordem aos talheres. Foram muitos anos de "Senta-te direita", "Não fales com a boca cheia", "Não brinques com a comida", "Acaba o que tens no prato", "Limpa a boca com o guardanapo", "Não cantes à mesa", "Cala-te e come", "Cala-te", "Come", para agora me enganar em algum dos procedimentos socialmente aceites. 
(Estou mesmo convencida que todos seríamos uns primitivos, a comer com as mãos, se não tivessem inventado as mães, e por mim falo.)
Tenho a descontra de pedir uma cerveja preta num restaurante so chic, tudo me corre às mil maravilhas, não me engasgo vez nenhuma, não me salta um perdigoto, nem um naco, nem um nico de bolo alimentar, não se me prende um legume a um dente da frente, não tropeço nos mil degrauzinhos que a sala tem, dispersos aqui e ali (isto só cá para nós, que ninguém nos lê, aquela cena da Jennifer Lawrence nunca se me encaixou como acidente) (mas eu tenho um bocado a mania da teoria da conspiração) (já sei que não é comparável, mas caneco, cada um tem o Oscar que merece. Este era o meu), 


aguento uns sapatos de salto quase agulha, daqueles que só são confortáveis na sapataria que os pariu, que é a p. para onde deviam voltar, mas






meti-me num vestido que encolheu subitamente no Verão passado.
Esteve tanto calor, que aquilo há-de ter encolhido dentro do armário.
(Nota mental: mandar instalar um bom ar refrigerado no meu roupeiro.)
Um bocado desesperada, porque o adoro — adoro-o, é o meu vestido mais bonito. Até me apetece fazer-lhe uma poesia. Umas rimas, prontos —, vesti-o e apertei-o atrás, fecho eclair acima, sem ter pedido ajuda a ninguém, pois que sou maleável, pois que tenho elasticidade, pois que tanto alongamento para quê, pois que sou uma mulher independen...
Bom, lá fui.
Atravessei a sala a sentir um fresco ao nível costal e uns olhares penetrantes cravejados no meu cachaço. 
Fiz tudo como manda o figurino, comi e bebi com parcimónia, seja lá isso o que for. 
Até que senti uma ventosidade provinda sabe-se lá se não do ar condicionado, que me fez suspeitar





que não tinha acabado de me vestir. 
A idade é um posto, chiu. Limitei-me a virar-me de costas e a pedir-lhe: 
- Importas-te de me subir o fecho do vestido? Estive até agora com ele aberto até meio das costas.


Peço também uma salva de palma(da)s

para os Pequenos Póneis que, em plena autoestrada, e com um dia escuro de dar medo ao diabo, água por todos os lados, não ligam as luzes. Já para não falar dos que não as ligam na cidade, mas a esses era um caldo bem dado e siga. (Ainda bem que nunca ingressei na P.S.P., muito automobilista haveria com os dentes cravados no volante, em substituição directa e imediata da multa.)

Também aprecio o que este tempo faz ao meu cabelo. Choné, you rock!

(Hoje acordei para a animação infantil. brlá-brlá-brlá.)

24/10/2016

La solitudine

Lembro-me de ter estado doida, numa fase da minha vida. A loucura pode assolar qualquer um, num momento específico do seu percurso, e o meu foi aquele. Tinha uma criança que, com um mês de idade, começou a gritar de manhã até à noite, e depois trocou esta ordem, desde o dia em que uma vizinha nossa nos gabou a sorte, já que uma filha não sei de quem lá das relações dela só berrava de noite, e isto, conforme se sabe, tem uma base altamente científica. A nossa, a seguir, pôs-se a gritar todo o dia, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, com breves pausas de dez a vinte minutos, em que adormecia, exausta, mas eu não, igualmente exausta. Isto durou até aos cinco meses dela, e depois não parou, mas ou porque abrandou, ou porque ficámos surdos, indiferentes ou totalmente loucos, já não a ouvíamos tanto. Levámo-la ao médico, e ficámos muito contentes porque, logo na sala de espera, estava outra da mesma estirpe, completamente afónica, e a nossa estava só rouca. Era impossível tê-la deitada, ou estendida na cadeirinha: só o colo abrandava um pouco a gritaria. E, para além dela, ainda tínhamos que ouvir palpites de gente que dormia noites inteiras, "Isso é manha" e "Vocês estão tramados". O que valia era que fingíamos que não ouvíamos, o que não era completamente simulado, porque ela literalmente acabou com qualquer interacção que pudéssemos ter com outros adultos. Tive, nessa época, uma oportunidade de trabalho, que foi (mal) tratada por telefone, mas cujas negociações ficaram goradas ao terceiro telefonema, já que não conseguia ouvir o meu interlocutor e, convenhamos, nem ele a mim. Tive também uma pequena obra em casa, coisa para ter durado duas semanas, em que os obreiros se enclausuravam na divisão intervencionada, exactamente para não ouvirem a minha criança, que isto quem lida com martelos e brocas todo o dia tem um ouvido para lá de fino. Também uma empregada se me despediu ao fim de um dia de trabalho, argumentando que "Não aguento o ritmo desta casa", enxofrada porque ela e eu comunicámos por linguagem gestual todo o dia, ao som dos gritos da petiza, que, já disse, não havia processo de se calar. 
Ou havia. Em desespero, quando já não conseguia aguentar mais um único minuto de gritaria que fosse, ligava a aparelhagem, onde já estava pronto o CD, e tocava La Solitudine — volume quase no máximo, o chão da sala vibrando, todo só nosso, parecia um salão de baile, ela no colo, eu com ela ao colo, dançando juntas. E só quando eu cantava alto, mais alto do que ouvia a voz de Laura Pausini, é que ela se calava, e, embalada, escutava, respeitosa e embevecida, a minha loucura.

Eu estive doida, mas repetia tudo outra vez. 



Non posso stare senza te

Fizeste-me há vinte anos, eram 13:21

Porque foste a segunda a nascer, fizeste de mim — mais — mãe. 
Queria ter uma inspiração que te levasse palavras bonitas até aí onde estás agora, como tive há um ano, neste dia. Mas a palavra longe martela-me as outras todas, que me estão na ponta dos dedos e atravessadas no coração.  
Guardo de nós a barriga a mexer em autonomia que era tua, a ver-se por fora das roupas que eu nos usava, os altos e baixos das tuas cambalhotas. Guardo de nós o imensamente bonita que me puseste, com um brilho de paz e gratidão no olhar, por me fazeres a grande graça de estares sempre bem e a rir. (Sei muito bem que já rias dentro da barriga, sei lá se de cócegas que os teus pezinhos faziam no teu pescoço. Mas era esse riso que só tu — e, às vezes, eu — és capaz de fazer, com os olhos em linha, de dar gosto ver, e que eu sentia cá dentro.) Guardo de nós o momento em que o médico anunciou que tu ias sair de mim, e eu respirei um parto de barriga aberta, para espanto dele, e cumplicidade nossa. (Eu queria que tu nascesses naturalmente, e tentei até mesmo depois de o bisturi ter traçado a tua porta.) E depois, tu cá fora, toda aquela gente ainda não te conhecia, mas eu já, sim. Foi só confirmar o que já sabia, e ouvir-me dizer, rouca de frio — era só frio — Ela é tão bonita, como se não o soubesse há meses (ou anos). O médico mandou apontar 13:20, mas eram 13:21, que eu bem vi as horas — e mais minuto, menos minuto, faz toda a diferença nesta coisa do amor. 
Guardo de nós o frio que foi para mim teres saído às 13:21, há vinte anos. E o frio que está a ser desde que saíste, há mais de um mês, a desoras que me esqueci. 
Mas guardo com muito mais calor o calor que é ter-te tido, e ter-te, e saber-te.
Saber-nos, enfim — em todas as horas.


23/10/2016

É preciso tão pouco para me fazer feliz # 2


Uns ténis novos. 
Uma aula de dança. 
Um professor qualquer. 
Uma coreografia que se apanha à primeira. 

(Eu queria estes, mas forças adolescentes contrárias aconselhavam uns cinzentos, com o argumento imbatível tu-já-não-tens-dez-anos. Trouxe-os exactamente por isso, porque-na-realidade-isso-pensas-tu.)

22/10/2016

Quando eu ganhar o Euromilhões # 12

vou ser exactamente a mesma sovina que sou até ao presente momento. 
Aliás, este post também podia chamar-se Dica. Porque, no fundo, o que me traz hoje aqui é uma dica preciosa. Só para as meninas que usam base, as outras podem saltar (este post, ou literalmente — jump). E os homens também, que isto interessa-lhes basicamente... zero. 
Quando se me acaba o frasco da base, e ainda antes de o deitar fora, raspo com o dedo, muito bem raspada, a rosca e o pauzinho que leva a base ao êmbolo, e depois às nossas manitas, imediatamente antes de nos atingir em cheio nossos rostos. Tudo muito bem aproveitadinho. Julgo que toda a gente faz isso. Só a quantidade do precioso e milagroso creminho corado que fica naquela zona do frasco, dá para uma pessoa se maquilhar mais três vezes. 


No entanto, eu ainda vou mais longe, que é uma loucura: quando essa zona se encontra limpa e sem réstia de base, arranco-lhe a palhinha e sopro. Migues, dentro da palhinha está uma quantidade de base que ainda dá para mais duas maquilhagens. 


Ora, fazei lá as contas comigo: se um frasco dá para 60 dias, e ainda lhe acrescentamos mais cinco com estes truques de magia, ao fim de vinte frascos, teremos poupado um frasco inteiro! Ora, se gastarmos três por ano (eu só me maquilho no tempo frio, que é quando pareço o fantasma da Serra de Sintra), ao fim de sete anos, teremos poupado...
...
...
... uma merdinha! 
Não é bom?

[Talvez mais logo ou amanhã faça tutorial com esta descoberta da pólvora seca.]



21/10/2016

uma cauda de cor *

Não sei que voltas a vida dá, ou se nos quer ensinar alguma coisa com algumas das suas coincidências e ironias, mas a mim, que queria ter uma multidão de raparigas, só me deu sobrinhos rapazes. Logo a mim, que consegui dar irmãs (no plural) às minhas filhas, e até fiz a extravagância de lhes dar um irmão, o qual veio ao mundo já com uma irmandade feminina bem composta, não tenho uma única sobrinha. Não dei uma só prima aos meus filhos, portanto. Não sei como é que fiz isto: cinco rapazes. Todos somados, são cinco. Todas somadas, são zero. 
Também não sei por que é que me ocorreu hoje esta matemática, que me tem ocupado o neurónio todo o dia. A não ser que seja porque hoje é o dia de um deles, o mais pequenino de todos, e por ser um menino que me está instalado no coração. 

Quero que tenhas um dia muito feliz, meu amor mais pequenino, e que, como disse outro dia uma das minhas queridas, deixes sempre — como sempre, acrescento eu — atrás de ti uma cauda de cor quando passares por nós. 

20/10/2016

Eu tenho problemas com tudo # 16

Eu hoje venho para dizer mal, que isto de ser este poço de abnegação e ternura também é uma canseira e eu já não vou para nova, para me andar cá a exaurir por tudo e por nada.
O Prego da Peixaria de Alvalade.
Fiz a abordagem ao local e fiquei agradavelmente surpreendida. O espaço é uma coisa do outro mundo, literalmente: toda a decoração é vintage, anos 50's do século passado. A sala é lindíssima, está decorada por quem sabe, com iluminação a rigor, meio difusa, música ambiente um tom acima do necessário, mas boa, empregados jovens e eficientes, tudo muito snob-chic, un peut blasé, presque classé. 
Mas a comida.
A porra da comida.
Eu, como tenho a mania que sou original, quis provar algo de novo, dar às minhas papilas um prazer nunca antes almejado. E amandei-me ao hambúrguer de caranguejo. Achei giro. Hambúrguer. De caranguejo.
Então, chegou-me à mesa um prato do tamanho de um prato de sobremesa, com uma coisa lá em cima. Só a coisa, zero acompanhamentos. Tinha a aparência de um pequeno pão, do qual brotava um objecto de formato indefinido, panado. Tipo o dedo do ET-phone-home, sabem? Ai, que isto é novo, não vou fazer a figura de parola de espreitar para dentro do pãozinho, vai de lhe meter o dente. Entretanto, tinha mandado vir batata doce, imagine-se. Assim, logo na primeira mordedura, apercebi-me que o pãozito já havia estado congelado, e fora descongelado há muito pouco, pois que estava estaladiço a ponto de se desfazer — desintegrar, é mais correcto — a cada dentada das minhas. Lá dentro, a tal coisa disforme e panada, que era sei lá que parte do corpo de um caranguejo, sofrera igualmente um processo de congelação após panação e fritura, e posterior apressada e trágica descongelação, já que sabia um nico a frigorífico — que é aquele indefinido sabor que toda a gente conhece, apesar de, espero penso imagino acho julgo acredito eu, com todas as minhas frágeis forças, que nunca ninguém lambeu o frigorífico. Ou seja, sabia a tudo, menos a caranguejo. A batata doce, por sua vez, havia andado pela mesma frigideira, antes de levar o entalão -18º,  + 200º, num espaço de tempo de, vá, quinze minutos. Tudo muito saudável, portanto.
É só para dizer que não volto lá, a menos que seja para beber um copo rápido, que aquilo fecha à meia-noite, e deliciar-me com a sala.
Já disse que a sala vale a visita? Não dá é para comer. Tipo tomar uma refeição. Mastigar, e assim.

19/10/2016

Diz-me o que tens em cima da tua secretária de trabalho, dir-te-ei quem és

1. O monitor, o teclado, o rato e a base do rato, um candeeiro;
2. Colada ao monitor, uma foto da minha Mel;
3. Cinco vernizes vermelhos, quatro dos quais desconfio que estão secos. Mas não vou confirmar;
4. Três cadernos de notas, empilhados, que usei para mil lembranças, das quais já não me lembro, mas sei que, de entre outras coisas, contêm posts manuscritos;
5. O bloco que levo para as reuniões de pais, cheio de bilhetinhos de filhos;
6. Um copo cheio de canetas, a maior parte sem tinta, mas todas, sem excepção, com valor estimativo;
7. Dezenas de papeis pequeninos, com anotações de suma importância, desde números de telemóvel até abreviaturas que uso no word e acho que me vou esquecer no minuto seguinte. Mas não. (Eu escrevo como um Homem primitivo, e o word corrige tudo.) (Por exemplo, esta frase: 10as d papeis peqns, dd nú d tm ate abreviaturas q uso no word e acho q me vou esquecer no min seg. M n.);
8. Uma caixa dispensadora de mais papelinhos;
9. A minha boneca Molly Óg (that means Pequena Molly), recordação de Dublin, trazida por uma boneca das minhas;
10. Uma vela aromática da Rituals, com cheiro a saudades.


Beijinhos à besta

1. Que, na A5, circulando eu na faixa do meio a 120 km/h, com outro carro à minha esquerda, entendeu passar entre esse carro e o meu. E passou, porque o outro se adiantou um bocadinho, e eu, vá, em manobra de emergência, me atirei para a faixa da direita sem sequer verificar se tinha ali algum outro carro. Não tinha, por alguma razão, que pode ter sido: a) Não calhou; b) Os que circulavam à direita aperceberam-se e abrandaram; c) Não estava na minha hora. Era um carro branco, japonês, todo kitado até aos para-choques (brancos, pureza), com cinco maganos de boné lá dentro. — Existe um padrão associado, mas não, nós outros é que somos todos uns preconceituosos;
2. Que, na aproximação de uma portagem, já com o carro junto ao pagamento sem via verde, se lembram, de repente, que têm via verde. E, como há dias um, mudam de faixa, tendo, para tanto, que passar entre dois pinos de separação. E depois param na via verde, quem sabe à procura de um portageiro que lhes faça um like. Ou converse um bocadinho. Sobre. o. estado. do. tempo. e. que. isto. já. não. é. o. que. era. zzzzzzzz. — Eu dava um braço por ter um Hummer nestas horas. Conduzia-o com o outro braço. Ou com os dentes;
3. Que conseguem fazer um percurso de 150 metros à velocidade de 20 km/h, sobretudo quando eu estou com pressa. (Sempre) — Outro Hummer encaixado na traseira destes pastelões, tipo locomotiva quando vai a empurrar as carruagens todas para a PQasP;
4. Que aceleram desalmadamente quando vêem que outro carro pretende entrar na via onde circulam. Cá agora carros à frente do deles! — Minuto de silêncio;
5. Àquele condutor em especial, cujo carro se atravessou à minha frente, surgido da esquerda, passou o traço contínuo e seguiu na direcção de Campolide-Sete Rios, no momento em que, saída da CRIL, tinha acabado de entrar na Segunda Circular. Matrícula espanhola. — ¡Olé, cabrón, en tu tierra los riesgos continuos san como los cornos de tu padre: que se sierren!

Não foram todos no mesmo dia, graças não sei a quem.

18/10/2016

Quando Deus fez uma panela, fez logo uma tampa para ela - Ditado # 17

Entrámos para almoçar, restaurante composto por três salas razoavelmente grandes, praticamente cheio. Normal, sendo domingo. Ainda assim, algumas mesas vazias. 
Calhou-nos um empregado que nos quis dar uma mesa específica, a mesinha do cantinho, é só um bocadinho, não demora nadinha, só lá estão uns senhores mesmo no finzinho. E nós de gesso, à espera de nos sentarmos, mas ele queria que fosse aquela a nossa mesinha. Quando, ao cabo de dez minutos, isso aconteceu, trouxe-nos a ementinha, onde constava um bacalhauzinho à casa, uns choquinhos que estão uma especialidade e umas costeletinhas que estão uma maravilha. Eu pedi polvo à lagareiro, polvinho. Meia dosezinha, chega para a senhora? Que sim, que sim. Então e pãozinho, vão desejar? 
Traga lá, e azeitoninhas. 
Então e um queijinho? 
Claro. [Clarinho!]
Nisto, põe à minha frente os quatro pratos que haviam de ser dispostos sobre a mesa, empilhados, sobre os quais os quatro talheres e os quatro guardanapos. E disse assim:
- Pode distribuir os talherzinhos?
Eu achei piada. E disse: 
- Não.

Não paro de pensar como é que hei-de fazer com que esta criatura encontre a dos pelinhos

[Também não paro de pensar como é que esta criatura designa a sua própria genitália.]

17/10/2016

Das minhas associações de ideias # 12

Às vezes, ando pela blogosfera afora, à procura de mim, e lembro-me de uma doente da minha mãe, que ia todos os dias consultar a necrologia dos jornais, a ver se já tinha morrido.

[Esta não era para ter piada. Chiu.]


(a)like

Domingo.
Estou a arranjar-me ao espelho, a desenhar os meus olhos para que fiquem maiores. Atrás de mim e da minha imagem, surjo eu, aos dezasseis anos, se fosse rapaz. Tenho os olhos grandes e bonitos, as pestanas  — e toda eu — sem necessidade de máscara. 
Vai a sair para jogar à bola, já equipado. Pede-me dois discos de algodão, explicando que é para pôr nos ténis, que lhe magoam de lado, nos dois dedos maiores. Aponta o lugar exacto onde lhe magoam os ténis, e olhamos os dois, que somos quatro no reflexo, nessa direcção. Ficamos um nano-segundo a olhar para o mesmo ponto, com o mesmo olhar redondo. 
Então, eu pergunto:
- Vais pôr os discos por dentro?
E ele responde, rigorosamente igual, exactamente no mesmo tom: 
- Vou.
Ainda temos o olhar preso naquele ponto mais um nano-segundo, tal e qual uma imagem reflectida no espelho. Em absoluta sincronia, caio em mim,
Não, por fora. Por que é que eu pergunto?,
e cai ele em si,
Por que é que eu respondo?

16/10/2016

Dica # 10

Malas há muitas, só quem não veste saias não sabe isto. Mas as pretas e as brancas são as do pão: vão bem com tudo. A minha mala branca não é branca, cá por coisas muito minhas. 
Estava suja, ao ponto de já ser vergonhoso trazê-la no braço e também no ombro. Informei-me junto da marca, que me aconselhou lavá-la com um toalhete de bebé e depois passá-la por pó de talco. Uma verdadeira muda de fralda, onde só faltava o Halibut no fim. Uma vez fiz, duas vezes fiz, mas a velocidade a que ela se suja é muito superior à paciência para a limpar daquela maneira tantas vezes. 
Meti-a, então, na máquina. Na da roupa, já que pensei que a da louça a queimasse. (Hah, não pensei nada, simplesmente não pensei.) Programa frio, lavagem manual (para que ela pensasse que era eu que lhe estava a dar banhinho e não amuasse). 
Saiu de lá limpa, leve (nem tanto, porque molhada) e fresca. Não nova, que já não vai para lá, mas recuperada de cor (ou ausência dela). O forro, que é rosa-cerise, está um luxo.
Está há dois dias a secar, mas deve ser porque é de pele de vaca, e eu sei lá quanto tempo é que uma vaca leva a secar. Nunca dei banho a nenhuma.



Sou fruticulamente feliz

em Outubro.


Tangeras — quanto mais verdes, melhor. De fazer chorar os olhos ao vizinho do lado, de preferência. Ácidas ao ponto de desentupirem os canos, os canais, os sentidos. (Daqui a uma semana já não estarão tão verdes. Serei igualmente feliz, mas menos cáustica.)
E dióspiros!

15/10/2016

Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar ao supermercado # 44

Lá a ver se a minha vida não dava um filme daqueles core.
Já não bastava, para não variar, sair-me a senha com aquele número, que deixa o senhor Joaquim numa situação, enquanto chama
Próximo... número 69,
e lá espeto eu — salvo seja — a senhazinha no ar,
Sou eu, senhor Joaquim,


é que já não bastava. 
Faço a encomenda online no estaminé do tio Mimiro, quero finalizar, clico "comprar", dá erro. Repito uma, duas, dez vezes, e sempre o mesmo recado que não, que está errado. Ligo para o apoio ao cliente, e pergunta-me o telefonista, em resposta às minhas ânsias:
- Tem salsichas Nobre?
- Errr...
- Na sua encomenda.
- Não...
- Tem peito...
- Errr...
- ... de peru, frango...
- Também não...
Em suma, diante destes factos, e perante as minhas respostas a questionário tão erótico, não me resolveu a questão, mas disse que ia reportar. Antes isso do que ter que continuar a responder a tanta indiscrição.

Coração de passarinho

Foi talvez a terceira ou a quarta vez que, em meses sucessivos, lhe apareci com tensão de 10 — 6,5, a juntar a 70 pulsações por minuto. Disse-me que o meu coração não pode bater tão depressa e ter uma pressão tão baixa. Perguntou-me se me sinto bem, e eu disse a verdade: Sinto... 
Recomendou-me então que medisse as pulsações todos os dias, durante um minuto, e receitou-me uns comprimidos que fariam com que os valores normalizassem. No dia seguinte, obediente, contei-as uma a uma, deu 80 ao fim de 60 segundos, e não mais medi, porque passei a esquecer-me.
~


~
Cada vez que passo pela gaiola, verifico se estão bem, os meus passarinhos. Se andam lá pelo pelo fundo e não os vejo, chamo-os. Aparecem logo e então sossego. 
Ontem fui dar com um deles, que não sei afiançar se se tratava do Bernardo ou da Bianca, preso por uma pata nas grades da gaiola. Não sei há quanto tempo ali estaria, mas não piava e estava tranquilo, quase de cabeça para baixo. Sobressaltada, fiz o que faço em todas as situações de pânico: um grande alarido, enquanto ajo. 
Ai, o meu passarinho! Ai, a patinha! Ai, coitadinho! Ai, tenho tanto medo de o magoar! Ai, que lhe parto uma patinha! Ai, meu rico passarinho!
(Pareço uma mulher das aldeias, só me falta o lenço preto, e as duas mãos na cabeça.)
O corpo de um bico-de-lacre pesa, ao todo, seis gramas. Uma pata dele, é mais fina do que um palito, e a sensação de fragilidade ao toque é igual à de um pouco de madeira de balsa. Não há como tremer, hesitar, ou ter algum gesto brusco enquanto se desenrola algo com aquele grau de delicadeza das grades de uma gaiola. 
O passarinho conhece a minha voz, e é extremamente inteligente. (Se fosse um periquito, não haviam de faltar penas pelo ar.) Pacientemente, esperou que o libertasse, sem um ai, sem um pio, coração tranquilo, sem um disparo, sem um baque, enquanto o meu, apavorado, saltava pela boca. 

(Nota mental: cortar-lhes outra vez as unhas.)

Agora vamos todos eliminar a preposição de aos verbos modais

Devias de.
Deve de haver.
É o verbo deverde, dever-de, de-verde. [Sinceramente, não sei como é que isto se escreve.]
Fico verde. 
Também ouvi hoje alguém dizer:
Devem poderde trazer o braço até ao outro lado.
[Vá que não disse devem de poderde.]
Eu pudede, mas custou-me muito. Não em termos físicos, mas mentais, mesmo.
Fiquei o quê? Poderde?
Podre de verde?


14/10/2016

Senhores, que confusão...

Assim como no passado domingo, às 10 da noite, um senhor me desejou bom fim de semana, hoje, às 5 da tarde, um outro desejou-me boa semana.

Digam-me lá se não é verdade o que eu já acho há anos: que escrevo melhor nos comentários dos outros do que nos meus próprios posts # 4

Pelo menos, acerto melhor as agulhas.

Chego a pensar que os horizontes estreitos, os tenho eu. De tão pouco ler, não compreendi ainda que a Literatura é uma arte estanque, limitada, rígida. Nela não cabe a poesia. Na poesia, por sua vez, não cabe a música, nem elas podem ser intrínsecas, porque são compartimentos diferentes. Um músico não pode ser, antes de qualquer outra coisa, um poeta, que, ainda por cima, tem o dom de musicar as suas próprias obras. Nem tão pouco uma pessoa que, compilado todo o seu trabalho, daria ao mundo tomos e tomos de melhor poesia do que muita da que para aí se aplaude, se chora, se paga.
É isto, não é?

No pontualíssimo Impontual.

Fechei o blog

na ânsia de poder escrever. Na ilusão de que, tendo isto fechado só para mim, seria livre de me exprimir como quisesse, falar do que me apetecesse. Tenho oitenta rascunhos, dois mil e duzentos posts publicados. São três anos e meio da minha vida a escrever todos os dias, à média de dois posts por dia. Estou aqui quase toda, mas falta-me ainda uma parte essencial. Não sei por quanto tempo mais vou ter isto fechado, tanto pode ser para sempre como até já. Sei apenas que não me liberto das amarras, não consigo navegar livremente este barco. Custa-me conduzi-lo, já não digo a bom porto, mas, pelo menos, evitando tormentas maiores. 
Não ando a suportar muito bem tanta solidão, quando sei que a escrita é um acto solitário.
A propósito disto, penso mesmo que não haverá, neste momento, Homem mais só do que Bob Dylan.
E eu, se me permitem.




Masters Of War

WRITTEN BY: BOB DYLAN
Come you masters of war
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build the big bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks

You that never done nothin’
But build to destroy
You play with my world
Like it’s your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly

Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain

You fasten the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
As young people’s blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud

You’ve thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain’t worth the blood
That runs in your veins

How much do I know
To talk out of turn
You might say that I’m young
You might say I’m unlearned
But there’s one thing I know
Though I’m younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do

Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul

And I hope that you die
And your death’ll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I’ll watch while you’re lowered
Down to your deathbed
And I’ll stand o’er your grave
’Til I’m sure that you’re dead

13/10/2016

O que se nota na tua ausência?

Notam alguma diferença nas despesas por eu não estar aí? — Perguntou ela, via computadores. Parece mesmo que está aqui, não estando.
Noto. Não nas despesas, que parecem nunca encolher, como sempre a lã em água quente.
Noto nas máquinas — menos loiça, menos roupa.
Noto à mesa, menos dois lugares, por faltar ela e outra, que também saiu e só vem à sexta, quando vem.
Noto na arrumação, noto na falta de desarrumação. Faz-me falta o nosso caos.
Noto no som, noto no silêncio.
(Refiro-me ao meu coração.)

Noto também, como ontem, na alegria de cozinhar o que sei que eles gostam; noto na tristeza de só fazer um souflé, por sermos tão poucos.
(Como água para chocolate.)

Ficou delicioso, para variar. Fiz com farinha de milho, para variar. E acrescentei à pescada uns camarões pequeninos, também para variar. 


12/10/2016

Estou farta de chuva

Pronto, já disse.
Deixem-me.

Vendredi, ma belle, sont des mots qui vont très bien ensemble

Mandou-me um mail, num lettering muito rebuscado, qualquer coisa que tinha ido descobrir num site de fontes, mas que a obrigava a escrever tudo no word, depois fazer copy e logo a seguir paste, por ser o gmail muito limitado na variedade de formatos de letra, e isso agrilhoar um poucochinho a sua prodigiosa imaginação. E isto tudo vinha explicado no corpo do mail — ainda antes do texto propriamente dito —, corpo enorme e opulento de tão corpulento, letra Cherry Cream Soda, uma coisa muito gastronómica, a bold, tamanho 18 —, não porque veja mal, nem suspeite da qualidade dos meus olhos, mas porque, segundo confessou, é uma pessoa que enfatisa do alvorecer ao recolher —, desta vez azul, como prolongou na explicação, já que ouviu para ali dizer que é a minha cor do coração. Espero que ninguém lhe tenha dito a verdade-verdadinha, a má raça da mulher só gosta de azul, só vê a azul e, ainda por cima, sofre de um daltonismo selectivo, em que a cor que lhe custa mais distinguir de todas as outras, é, precisamente, o azul, vá-se lá perceber a doideira. Dizia no assunto do mail "URGENTE! Não apague! Não é SPAM! Não é vírus!", tão desabrido que nem o abri. Remetente: Vendredi Maria dos Três Anjos da Anunciação.
Logo a seguir, mandou-me um sms, a avisar que me tinha enviado um convite por via electrónica, e nem me deu tempo para voltar ao computador, a verificar o que diachos, pois que me tocaram os telemóveis todos ao mesmo tempo, donde concluo que terá tantos quantos eu tenho. Incapaz de me desmultiplicar em várias, tapei os ouvidos com as duas mãos, qual criança malcriada, cantarolei la-la-la-la-la-la, esperei que passasse a saraivada de toques e abri o mail, enquanto apitavam mensagens de voice mail nos dois, que são três, desgraçados — chico-smart e seu primo dual-chico. 
Linda, olá!
Disse-me Dona que 
- pá, posso tratar-te por tu? -
- OK. -
parece que eras menina, senhora
- já agora, uma ou outra? -
eras pessoa para me levar ao giná, fazer uma sessão conjunta, dando-me dicas para diminuir o tamanho das minhas nalgas.
- Só cá para nós, não há nenhum problema com os meus quartos traseiros -
- eu uso linguagem equestre -
- ou diz-se equina? -
mas ela acha, e até acho 
- desculpa lá repetir palavras na mesma frase, mas é que estou nervosa -
que me vai pôr a correr, e não é na passadeira, se eu não fizer qualquer coisa nesse sentido.
- do nalguedo, percebes? -
Quando queres combinar?
- se é que queres. -
Olha, eu tenho preferência por sextas-feiras.
Uma bem criada ao teu dispor, abraça-te com fervor e beija-te com algum amor,
Alucinada com aquele alucinogénio, cheia de pressa — que tenho sempre, pareço aquele coelho que me enerva —, respondi a correr (literalmente, com o meu laptop azul numa mão, teclando com a outra): Está bem.
Por isso é que fomos lá calhar na passada sexta-feira, mal a chafarica tinha aberto, e ainda os PTs estavam a besuntar-se de óleo Johnson's. Havíamos, após acesa troca de mensagens, combinado à porta, para que não nos perdêssemos uma da outra. Eu apenas sabia que ela é esguia, ela apenas sabia que eu sou extremamente idosa. Descreveu-se-me sumariamente como distraída, friorenta, organizada e radical. Nada baralhada, disse-lhe que sou magra uns dias, gorda nos outros, alta para uns, baixa para outros, mas que a cor dos meus olhos nunca muda, a não ser entre preto-alegria-Casal-Garcia e preto-tristeza-não-tem-fim. Cheguei antes da Vendredi distraída, e depois da Vendredi organizada, mas reconheci-a ao longe, mal vi surgir uma altíssima espadaúda e longilínea, esbaforindo-se e rebolando a única parte redonda de toda a sua imensa lonjura: os tais quartos lá de trás, duas astronómicas bolas de basquetebol, de um roliço de fazer rolar os olhos e não de enfado, que eu bem vi à passagem da figura. E aquilo não era caso para fazer exercícios que o aniquilassem, mas eu havia assumido um compromisso não sei com quem e havia que honrá-lo.
Começámos por onde eu comecei sempre, de há uns tempos para cá: a remar até Cacilhas, que é para aquecer, como quem trabalha. A doida deu-me cartas, pois alcançou a outra margem com um fulgor de dar desgosto, a mim, que não passei dos mil metros, ou seja, fiquei algures debaixo da Ponte, entre Lisboa e a outra banda. A seguir, fomos à elíptica, a assassina de autoestimas, recomendei-lhe a inclinação 10 e força 6, que são os meus máximos, mas a magana achou pouco, passou para a inclinação 15, força 12, e foi vê-la galgar aqueles pedais como se tivesse feito aquilo toda a vida. Passámos para as abdutoras, pensando eu que aqueles 45 quilos de força de que os meus joelhos são capazes para se juntarem um ao outro em agonia de esforços, a iriam impressionar. Nada. Impávida, serena e suada, sentou-se na cadeira não eléctrica, espetou o espigão nos 70 quilos, fez quinze repetições, depois aumentou para 83, mais quinze, e levantou-se, sem um ai.
No momento em que me perguntou, airosa,
Vamos fazer uma aula de cycling juntas, ou já não tens pica? 
E, diante da minha hesitação, se justificou
À sexta-feira, estou sempre assim. Depois passa-me... 
Afiambrei-lhe um kick naquele que a trouxera ali — logo eu, que não sou de violências —, e mandei-a cagar à mata.
A magra. A top model.

11/10/2016

Um coração desfalcado desfalca o cérebro também

O coraçãozinho dela bate a dois mil, trezentos e cinquenta e um quilómetros do meu. Dois milhões, trezentos e cinquenta e um mil metros, e eu ando a perceber como é que se lida com isso. 
Soube-a doente, um pisco desde os tempos de pintainho, rinite mais frio deu infecção da garganta, e eu aqui, sem curso de medicina nem meio de a poder cuidar. 
- Vai ao médico, filha.
Foi, num país estrangeiro de língua de trapos, onde mal e pessimamente a população fala inglês. 
Caiu-lhe um anjo aos pés, personificado numa senhora, professora de inglês, que a acompanhou e lhe interpretou a consulta do princípio até ao fim. Děkuji ti drahý.
Trouxe diagnóstico, trouxe receita: antibiótico de ataque.
- E para as dores, filha? A médica não te receitou um Ben-u-ron, ou assim?
- Não, mãe, não vou tomar mais nada. Andei a entupir-me de coisas que não fizeram nada. Agora só tomo o antibiótico.
(Silêncio de um segundo, que atribuí a delay do whatsapp.)
- E se tiveres dores? 
[As mães são umas chatas, incapazes de se conformar com uma solução que não lhes saiu das mãos, inaptas para perceber que nem tudo o que se refere aos filhos está ao seu alcance. Eu sei, porque já fui — só — filha.]
- Ela disse-me para pôr umas compressas frias, no caso de ter dores.
- Compressas frias? Mas como é que uma pessoa mete compressas frias nas amígdalas sem as engolir?
(Silêncio de três segundos, que atribuí a variações do delay.)
- Mãe... por fora...

10/10/2016

Não se me apraz dizer nada

Partem-me o coração

as ausências presentes, e não saber até quando;
todas as ausências, mas mais ainda aquelas, crivadas de tristeza, e não saber até onde;
todas as presenças, trespassadas de ausência, e não saber se haverá próxima;
não querer ausentar-me eu, querer aproveitar até ao fim — e não saber qual é.

Tão estranhas as mulheres: ausentam-se permanecendo, regressam partindo.
(António Lobo Antunes, in Dulcinha)
[Frase já postada e repostada pelo menos umas cinco vezes. E mais cinco, enquanto este blog respirar.]

As encruzilhadas da vida que Ronald, o McDonald, nos apresenta

Campo Grande, Lisboa
Só falta mais uma seta (vertical), a assinalar outro Mc logo ali, na segunda circular.

As coisas que eu vou desencantar ao baú... # 11

[Recebido por mail no dia 01.05.2010]

23 Coisas que não se pode morrer sem saber... 
(ui. Começa logo mal. não se pode morrer? Então e "23 coisas que se deve saber antes de morrer"?)

01 - O nome completo do Pato Donald é Donald  Fauntleroy Duck. (Podia ser pior, se fosse conhecido por Pato Fauntleroy);

02 - Em 1997, as linhas aéreas americanas economizaram US $40.000 eliminando uma azeitona de cada salada.(Donde, se tivessem retirado duas azeitonas, a economia seria de US $80.000);

03 - Uma girafa pode limpar suas próprias orelhas com a língua.(A mim dava-me jeito. Vou começar a treinar);

04 - Milhões de árvores no mundo são plantadas acidentalmente por esquilos que enterram nozes e não lembram onde eles as esconderam. (Nogueiras, portanto. Há milhões de nogueiras no mundo);

05 - Comer uma maçã é mais eficiente que tomar café para se manter acordado. (Para lavar os dentes, então, nem se compara);

06 - As formigas se espreguiçam pela manhã quando acordam. (Quáu é, ô cara? Tá mi chamando dji formiga?);

07 - As escovas de dentes azuis são mais usadas que as vermelhas. (E as vermelhas mais do que as amarelas, portanto);

08 - O porco é o único animal que se queima com o sol além do Homem. (Quáu é, ô cara? Tá mi chamando dji porca?);

09 - Ninguém consegue lamber o próprio cotovelo, é impossível tocá-lo com a própria língua. (A mim chegava-me aquilo das orelhas);

10 - Só um alimento não se deteriora: o mel. 
(Das abelhas?);

11 - Os golfinhos dormem com um olho aberto. (E o outro fechado);

12 - Um terço de todo o sorvete vendido no mundo é de baunilha.(Outro terço é de chocolate e outro terço de sabores esquisitos);

13 - As unhas da mão crescem aproximadamente quatro vezes mais rápido que as unhas do pé. (As do dedo mindinho nem crescem, o que é uma pena para quem as usa para a higiene íntima otorrina);

14 - O olho do avestruz é maior do que seu cérebro. (Do que o meu? Olha a novidade. O tamanho da massa não tem correspondência directa com a capacidade dela. Ora pega. Esta não sabias);

15 - Os destros vivem, em média, nove anos mais que os canhotos. (A minha irmã e eu somos dextras, casadas com canhotos. Se nós fumarmos e eles não, a média mantém-se?);

16 - O "quack" de um pato não produz eco, e ninguém sabe porquê. (Eu sei: é porque lhe sai da alma, ou de trás);

17 - O músculo mais potente do corpo humano é a língua. (Também pode ser);

18 - É impossível espirrar com os olhos abertos. (Que o digam as que paralisam após um espirro, seguido de flato);

19 - "J" é a única letra que não aparece na tabela periódica. (Pois, senão era a jenstruação);

20 - Uma gota de óleo torna 25 litros de água imprópria para o consumo. (Lá está a teoria da azeitona: se forem duas gotas...);

21 - Os chimpanzés e os golfinhos são os únicos animais capazes de se reconhecer na frente de um espelho. (Quáu é, ô cara? Tá mi chamando dji chipanzéna ou dji golfinha?);

22 - Rir durante o dia faz com que você durma melhor à noite. (Objection! Passo o dia a rir e durmo malíssimo. Não se pode trocar a ordem dos factores, só para experimentar?);

23 - Aproximadamente 70 % das pessoas que lêem este email, tentam lamber seu cotovelo!!!(Sou 30%!!! Não tentei!!! Mas estou quase a conseguir aquilo das orelhas).

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E agora, mais uma, totalmente de graça:

24 - Se uma vaca (ou qualquer bovino) saltar as barreiras e subir para a assistência, fujam na direcção da arena. (Parecendo que não, esta pode ser muito útil, e, à partida, mais provável do que imaginam.)

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Credo. Eu morrer sem saber estas coisas, nem me perdoava.

09/10/2016

Tipos de tipos que mais valia ficarem em casa a enjorcar mins, mas, por qualquer razão que me escapa, frequentam ginásios

1. O que está inscrito e não põe lá os pés nem o resto, mas considera que anda no ginásio. — Este tem um correspondente feminino, não tem piada. Mas sustenta os ginásios, contrabalançando literalmente as desperdiçadas como eu, que vão lá por uma pechincha, gastam electricidade, gastam água, gastam gel de banho, gastam máquinas e participam a custo quase zero nos ordenados do staff;
2. O que sua desalmadamente, por praticar exercícios que não são para o seu coiro, com pesos excessivos, que só lhe vão dar uma hérnia discal e uma velhice de merda. — Este tipo, regra geral, pratica sem a supervisão de um PT, ou, em tendo um, ultrapassa largamente o que lhe está destinado no plano de treino, feito em função da sua idade, peso e condição física, pormenor que já toda a gente percebeu, menos ele;
3. O que vai para o engate. — Vai ver passar as modas, vai observar a fauna, vai pavonear-se ao mundo. As pausas que faz, entre exercícios, são muito mais duradouras do que o exercício propriamente dito. Ele precisa de olhar à volta, precisa de se compor ao espelho, precisa de ver e ser visto. (Também deve ter sempre os faróis de médios ligados, já que é para isso que eles servem);
4. O que se acha. — Este tipo é uma extensão do anterior. Vai ao ginásio todo depiladão, cabeça incluída (porque os que lá havia, na verdade, já eram, e fixou-se na ideia de que "É dos carecas...", sem ter percebido a metáfora), camisola de cavas, para que surja em pleno toda a musculatura hiperdesenvolvida — cara incluída —, roupa justa e reveladora. Passa lá o dia todo porque, na verdade, não tem vida, ou melhor, ela centra-se no epicentro do seu umbigo. Complementa o outfit com um cinturão largo, pois há que segurar tanta testosterona, não vá ela explodir e atingir alguém que vá ali a passar, fascinado/a;
5. O que julga que os PTs são excelentes comentadores de futebol — e com eles troca animadas palestras acerca de tácticas e pontos e contratações, sem suspeitar que, dali a 5-4-3-2-1 segundos o PT estará a devolver tudo em bíceps e tríceps e lounges. Cada macaco no seu galho;
6. O que ainda não percebeu os ângulos dos exercícios dos restantes frequentadores — e faz muita questão de passar exactamente no raio de alcance de uma perna ou de um braço, a ver se leva com um braço e um bocado de máquina na testa, ou com um pé nas suas coisinhas;
7. O que ainda não percebeu, tal como as tipas, que milagres só em Fátima (e-e...), e que não é nenhum crime ser gordinho. — Mais vale um gordinho fixe do que um magro histérico. Senhores, atenção ao perímetro abdominal (e isto também serve aos magros), muito mais do que à falta de tonificação, ou lá o que é;
8. O sem noção do balneário —, do qual não posso falar, por razões óbvias. Mas faço uma ideia, assim por alto;
9. Quase todos, na verdade.


08/10/2016

Síndrome de abstinência

do café de todos os dias; do sol que se vai embora sem dizer adeus; dos cigarros que não fumo; do meu pai; de mãe; dos meus ausentes, que tardam em voltar desde o primeiro dia em que foram; dos meus presentes, no medo que se ausentem; da minha titi, que está em tudo o que me sai das mãos, quando sai bem feito; dos cheiros da minha infância; da minha Mel, que nem quando estou totalmente só se vem aninhar a mim; de mim mesma, quando não tinha o vício instalado, a corroer-me as entranhas de falta e falha e saudades.
[Devia ter a abstinência estampada no rosto, como qualquer dependente.]

Eu sou aquela pessoa que nunca, em circunstância alguma, deves levar a passear à rua # 52

Vejo-me em todo o lado e em tudo.


A resposta é não.

Não, ok?
Please, madrinha.