Estava aqui a ouvir a gravação de um julgamento de um acidente de viação em que morreu uma mulher, e há um momento em que o advogado da companhia de seguros da falecida pergunta à irmã desta se ela era uma pessoa expansiva, sociável, ou, ao contrário, introvertida e mais fechada sobre si mesma.
Sei que a vida humana é valorada contabilisticamente, para efeitos indemnizatórios, em termos de idade da vítima, mas também através de sinais tão subreptícios de perda — maior ou menor — para as famílias e os amigos, como são, eram, ou foram, aqueles que a pessoa levou consigo, e "simplesmente" deixaram de existir: a sua alegria, bondade, jovialidade, os seus projectos e sonhos.
Sei que a vida humana é valorada contabilisticamente, para efeitos indemnizatórios, em termos de idade da vítima, mas também através de sinais tão subreptícios de perda — maior ou menor — para as famílias e os amigos, como são, eram, ou foram, aqueles que a pessoa levou consigo, e "simplesmente" deixaram de existir: a sua alegria, bondade, jovialidade, os seus projectos e sonhos.
É, para mim, inevitável colocar-me no lugar da vítima. Não por desejo de vitimização, mas por um qualquer exercício mental a que me voto nesta coisa do que são as portas da morte, as tais que, como diz o ditado, se fecham para a inveja (a qual, felizmente, ninguém terá que fechar quando me tocar a vez) e se abrem para a fama (idem, mesmo que seja para a má). Imagino que as minhas testemunhas deporiam todas no sentido de me reconstruir esfuziantemente alegre, um poço de generosidade, uma força da natureza, uma vida para viver, um raio de sol (assim me chamava a minha mãe — um raio de sol), talvez agraciando-me com exagerados elogios post mortem.
Dos fracos, mas, sobretudo, dos tristes, não reza a História. O número de lágrimas que chorarem cá por nós será directamente proporcional ao número de gargalhadas que dermos em vida. E, ironicamente, ou não, ela é tanto mais valiosa — monetariamente falando — quanto mais vivos em vida formos.
Gostei muito da tua conclusão ;) a vida também será tanto mais valiosa para cada um de nós, quanto mais vivos formos :)
ResponderEliminarParece uma Lapalissada, mas que não: só mesmo a alegria de viver é que pode aferir o valor-vida. :)
Eliminaro que dizes dá-me alguma paz de espírito, no sentido em que prefiro que chorem pouco e se divirtam muito... é a segunda vez que comento a minha morte, hoje, isto vai de vento em poupa :)
ResponderEliminarPois eu não. Quero que fiquem cá a esmifrar-se de tristeza, chorando até ao ranho.
EliminarFoge desta gente sinistra! :)