Se as reacções químicas que provoco em os humanos deixaram de constituir grande mistério a esta altura da minha vida, já as reacções físicas que despoleto nos objectos continuam sem qualquer explicação. Não percebo por que é que interfiro com as antenas de interior, assim como interfiro com os alarmes das lojas, assim como apanho choques eléctricos nas portas - e, às vezes, no interior - dos carros.
Desde miúda, ainda no tempo das televisões com antena interior, que estava proibida de passar à frente da televisão, porque dessintonizava os canais (que eram só dois, mas conjuga-se no plural na mesma) e aquilo fazia um ruído de chuvada que era uma desgraça, para além de esmerdar a imagem toda. Como a televisão estava na sala mais concorrida da casa, onde estavam todas as estantes de livros e o estirador do meu pai, eu tinha a grata incumbência de me deslocar aí de gatas, já com oito, dez, treze anos, com vista a não comprometer o programa dos outros elementos da minha família. Capaz de ter sido esse momento que veio a determinar que me tornasse mãe de quatro, um dia.
Com os rádios a pilhas - não sei se sabem do que se trata, mas ó: eu não vou explicar, olha, procurem, que eu não sou vossa mãe e já me chega a multidão que fabriquei -, é a mesma coisa. Tenho um assim na casa-de-banho, e não, não é para quando me lavo, que, nesse momento, liberto a fadista (embora desnuda) que há em mim, nem é para quando me sento, muito ardente e cheia de ardor, na louça peniqueira, mas sim, e tão-só, para quando passo a graxa na cara, alongo as pestanas com o rímel e transformo o pato em cisne... hah, desculpem o exagero. Reformulando: quando transformo o cisne em cisnão. Passo à frente do bicho e lá se vai a sintonização para o pandeco, lá vem o tal ruído fchhh, parece a chuva, que não é certamente, porque a chuva não bate assim.
Também sofro nas lojas, designadamente à saída, porque apito. A frequência com que me acontece é tal, que já tenho mesmo um discurso preparado para a ocasião, tipo os Oscars. Digo assim: "Eu sei que sou eu. É que eu apito. Acho que é dos dentes". Eles não sabem nem sonham, mas é a mais pura verdade o que lhes estou a dizer naquele momento: como ainda sou do tempo da amálgama de prata e sei lá que mais poluente se punha nos dentes para tapar as obturações, julgo eu que é isso que irrita para lá os alarmes todos. Ou então, é também o meu campo, o tal que eu não vejo, mas que sinto, tal e qual aquela dor que se tem, mas ao contrário, porque esta sente-se.
E apanho choques nos carros. Já sei que toda a gente apanha, mas garanto que eu apanho ainda mais. Porque comigo é sempre tudo em mais, em grande, em bom e em estúpido. Sou capaz, por exemplo, de apanhar na cara de um homem, do qual me despeça com um beijo na cara. Homens que comigo partilham uma viatura, de três, uma: ou vos barbeais em condições, ou vos despedirdes de mim com um aceno de mão, ou me beijais descaradamente em os lábios, com vista a resolvermos, em conjunto, a questão do choque na boca. É que fico electrocutada labialmente, ouviram? Depois há outra circunstância, ainda relativamente aos choques: dotada de cérebro, temente à descarga, passei a fechar a porta da viatura empurrando o vidro, ou dando com o pé na porta. Tudo muito bem, sem esticãozinho, muito lampeira, fermosa e não segura, mas certamente calçada, sigo caminho. No entanto, como a descarga não fica feita, e a Karmen é uma cabra do genital, acabo por levar o choque na mesma, na primeira oportunidade que surge ao destino - geralmente, no botão do elevador. Deve ser esta quantidade de electrochoques que faz de mim esta pilha (de nervos, de graça, de talento, de charme, etc., etc.), com o ar mais sereno do mundo. Pois, pudera.
A mim, que me dava tanto jeito ser esta:
Mulher-Elástica, de Os incríveis
Calhou-me na rifa ser antes esta:
Violeta (cujo super-poder é ter um campo magnético), de Os incríveis
Ficção a esta hora? 'Balha-me Deuze' :-)
ResponderEliminarTu não lês, pois não? :P
EliminarJust asking...
Just answering, leio.
EliminarAh, então desculpa a minha pergunta.
EliminarÉ que, fora as bonecas,não há rigorosamente nada que seja ficcionado no post todo...
'Fora as bonecas'. Afinal há ficção.
EliminarTu achas mesmo que eu vou ler este wall of text que publicaste? Mete parágrafos nisso e eu reconsidero :P
ResponderEliminarAcho :P
EliminarMetes a primeira, aceleras, aquilo começa a bombar logo, quando deres por ti, you've got the power :P
Not gonna happen. Não leio walls of text :P
EliminarSugeria-te, delicadamente, um copy-paste para um doc do word, depois enter-enter-enter a cada linha mais curta (sinal de que vem lá outro parágrafo) :P
EliminarNão sei... dá muito trabalho?
Sugerir "delicadamente" não custa :P
EliminarAssim como fazer, delicadamente, um copy-paste, também não dói nada :P
EliminarEu acho que tu tens poderes...
ResponderEliminarVê lá isso.
Se tiveres avisa, que ainda não consegui pedir o aumento e preciso de poderes adicionais...
Tenho, cada vez mais me convenço que é mesmo uma via profissionalizante, caso todas as minhas outras valências me falhem.
EliminarPara o teu caso, sugiro a franqueza penetrante: nunca afastes o olhar do teu alvo (opta pelos olhos do inimigo, qualquer outra parte do corpo pode reverter a situação contra ti) e não uses palavras acessórias como "preciso", "filha", "crise", "dificuldades", nem expressões emocionais, tais como "seus grandessíssimos chulos", "ando a ser explorada", ou "vão roubar para a estrada". A partir daqui, constrói um discurso seco: "Venho lembrá-lo que não recebo um aumento há x anos e que o meu trabalho vale seguramente mais do que aquilo que me está a ser pago neste momento". Levantas-te e dás o golpe de misericórdia com o menear da anca até à porta.
(E agora temos as yupies todas a destilar caganitas para cima desta última frase, porque elas nunca, por nunca, usaram o poder da pestana, e até coçam os coisos nas reuniões, se for preciso)