Éramos tão pequenas, acabadas de chegar ao mundo, eu há cinco anos, tu há seis, e franzininhas as duas, parecíamos ainda mais pequenas, porque éramos. Em doze meses, nascemos as duas, nem sei como é que tu eras tão menos pequena, doze meses é nada, doze meses e três semanas, nem treze tinhas quando eu cheguei.
Ainda nos estou a ver no recreio da escola primária,
minúsculas, ias encontrar-me em prantos num canto, lágrimas grossas a escorrer pela cara, soluços a sufocarem uma mágoa
imensa,
O que é que te fizeram, mana?
conhecias-me tão bem como a ti mesma, sabias tão bem que alguém outro, com pouco mais do que o nosso tamanho, me teria feito um mal imenso, irreparável até tu o reparares - e, no meio da asfixia, confessava-te em surdina a minha vergonha e a minha tortura de mamã incompreendida
Foram as grandes que arrancaram a cabeça da minha boneca
Ainda te estou a ver, a saíres disparada na direcção delas
Báááááárbaraaaaa! Dá-me já a cabeça da boneca da minha irmã!
tão minúscula como eu, a atirares-te a elas cheia de raiva e a bateres onde as mãos alcançavam - eu de credo nas mãos e coração na boca
Elas vão partir-lhe a cabeça!
para mim, à escala da idade, partir a cabeça era assim a coisa
mais grave e importante que podia acontecer na vida de uma pessoa, porque eu já
tinha partido a minha duas vezes. Não sei com que artes, deixavas aquele
amontoado de miúdas - ou seriam só duas ou três? - todas arranhadas, e voltavas
com a cabeça da minha boneca na mão, tu toda estoirada, ela toda despenteada, tu toda despenteada, ela toda estoirada, e
nem um brilho de vitória algum dia te vi nos olhos, só aquele olhar de irmã
mais velha, a quem cabe a tarefa que não entende mas cumpre, de proteger a
outra, doze meses menos, doze meses e três semanas menos, instalada dentro da mesma mãe três meses depois de teres saído tu. Nem também me lembro de ter olhado para as
grandes com a altivez da vingança consumada, tão ocupada que ficava em
secar as lágrimas e o ranho, enquanto encaixava a cabeça da minha filha no
lugar. Mas lembro-me claramente do respeito nos olhos delas e, talvez, muito brevemente, feel the fear in my enemies
eyes*.
[*Coldplay - Viva La Vida]
[*Coldplay - Viva La Vida]
Muito bonito. Devias dar-lhe para ela ler.
ResponderEliminarQuando ela merecer...
EliminarQue lindo texto.
ResponderEliminar:)
EliminarBear hug.
Bear hug!
EliminarOh Beautifull pig,
ResponderEliminarFossem todas as beautifull pigs mais velhas como a tua irmã e haveria menos bullying nas escolas :P
Indeed, Jedi :P
EliminarAquilo ficava brava que se fartava, se lhe tocavam na mana. Nunca percebi como é que tinha tanta coragem, diante daqueles hunos todos.
Irmã valente!
ResponderEliminarDiz-me, baixinho: és merecedora da irmã que tens? Vá, não me trates mal e diz, de tua justiça.
Baixinho, porquê?
EliminarE eu lá te trato mal?
A resposta à tua pergunta é: não.
Baixinho porque estou com dor de cabeça.
EliminarSei que não me tratas mal mas nunca fiando.