Cheguei lá e Cascais estava banhada de sol e luz, quase tão bonita como Lisboa. Vi-a sentada com um livro no colo, "O que aprendi com a minha mãe", da Helena Sacadura Cabral. Eu levava-lhe "O diário de um Banana", porque tem bonecos e letra manuscrita e coisas para rir, e eu preciso de saber que ela ri, ou, pelo menos, sorri. Pus-lho no colo, em cima do outro, que tirei para ver a capa, e disse:
- "O que aprendi com a minha mãe"?
Sorri-lhe. E ela sorriu-me de volta.
- Nada.
E trocámos outro sorriso.
- Não se aprende nada com as mães - desfiz-me inteira num sorriso, que ela me retribuiu com uma gargalhada.
Com as mães não se aprende nada, a não ser minudências sentimentais que são ferramentas para o resto da vida, ou entraves para que o nosso coração possa algum dia a voltar a bombar naquele lugar que lhe pertence no peito, e não cá fora. Talvez se aprenda que nada é eterno, a não ser o amor incondicional e doloroso que de tão grande nos asfixia e cega, aquele que nós julgámos um dia sentir por alguém e não sabíamos que o outro, para sempre, para sempre, ainda estava para chegar. É capaz de se aprender que aquilo de dar a vida passa a ser uma intenção muito objectiva, é dar o rim, se for preciso, é dar o pulmão, se for o caso, é dar o coração - o músculo - em caso de necessidade. E que não é o mar bravo que nos demove de nos lançarmos a ele, porque pior do que perdermos a nossa vida, é perdermos aquelas outras que são a razão de a nossa existir. E também que é possível amar assim, da mesma forma, igualzinha, duas, três pessoas, todas as que a vida nos der. E que o ditado "mais vale mais um do que menos um" passa a ser uma equação certa e rigorosa, uma regra absoluta e sem excepção. E a conjugar em português o verbo take care of, totalmente intraduzível, mas que se passa a praticar com todas as pessoas e bichos, e plantas e coisas. E, em português, a perscrutar: pelos olhos, a alma e os sentimentos de todas as pessoas. E a nossa vida passa a ter-nos outro valor, a nossa saúde a ser-nos preciosa, a nossa integridade física quase sagrada. Nunca a frase "Tem cuidado a atravessar" dita e repetida pela nossa mãe, nos perseguiu tão recorrentemente.
Tem cuidado a atravessar.
Saio de lá, olho para o céu e pergunto sempre mentalmente: "Onde é que estás?"
E ainda a ouço. E ainda me ouço:
JÁ CHEGA!
LAVA A
CARA, SUSPIRA E CONTA-ME TUDO
AINDA
LEVAS O BIBERON PARA A TROPA
PUXA O
AUTOCLISMO
O QUE É
QUE TE PARECE?
PENSA.
DEPOIS FALAMOS
ISSO NÃO
VALE UMA LÁGRIMA DAS TUAS
AGARRA-TE
A MIM
DÁ-ME A
MÃO
VOU, E
LEVO AS MINHAS CABRAS
ESTÁ TUDO
VIRADO DE PERNAS PARA O AR
VOCÊS
BEBEM, OU QUÊ?
ACORDA. A
VIDA REAL NÃO É ASSIM
OS MEUS
DIABOS PARECEM UNS MENINOS DO CORO
EU NÃO
GOSTAVA DE SER NOSSO VIZINHO
COITADOS
DOS VIZINHOS
QUEM É QUE TE
FEZ ASSIM TÃO BELA?
É BOM SER
GIRA?
QUANTAS
VEZES É QUE EU TENHO QUE CHAMAR?
FIZESSES
ANTES DE SAIR DE CASA. AGORA DANÇA
O QUE
HAVIA A FAZER, ESTÁ FEITO. AGORA É ESPERAR
OFENDES,
INSULTAS, E SENTAS-TE À ESPERA DE MIMOS
FAZ SÓ O
QUE PUDERES
USA OUTROS
MODOS QUANDO FALARES COMIGO
DE
QUALQUER MODO, IRIA SEMPRE ACABAR NA MÁQUINA DA ROUPA
NÃO FIQUES
TRISTE
TENHO
SAUDADES TUAS
SE
PASSARES À FRENTE, A ÚNICA COISA QUE ACONTECE É CHEGARES ANTES AO MESMO LUGAR
ONDE OS OUTROS TAMBÉM CHEGAM
EXPERIMENTA
DE OUTRA MANEIRA
ERRA À
VONTADE. CHEGAS LÁ NA MESMA
É A CAIR
QUE SE APRENDE A ANDAR
CHORA
AGORA TUDO. A INJUSTIÇA DÓI QUE SE FARTA
DÁ-LHE
OUTRA
CRESCE E
APARECE
MAS QUE
MAL FIZ EU PARA APANHAR COM ISTO?
QUANDO
CAÍRES, CHAMA
ADORO-TE
ADORO-TE
ADORO-TE
...
"Cheguei lá e Cascais" ...está tudo explicado. Uma betinha de cascais... :P :P :P
ResponderEliminarQuerias tanto... não tens sorte nenhuma :P
EliminarÉ que not.
"NÃO FIQUES TRISTE
Eliminar(...)
CRESCE E APARECE"
Não fico, não :) Já poucas coisas me ofendem.
EliminarEu sou grande ;)
"LAVA A CARA, SUSPIRA E CONTA-ME TUDO"
Eliminar(nota: no dia em que eu te ofender, estás autorizada a bloquear-me.
Uma coisa é brincar, outra será ofender.
E ser "betinha de Cascais", não sendo um elogio, não é uma ofensa. Pelo menos, não foi essa a minha intenção.)
Não quero estragar a maquilhagem e não sabes tu o tempo que levaria a contar-te o meu TUDO.
Eliminar(nota: não me parece que isso vá algum dia acontecer.
Sabes lá, eu posso ser chata de galochas e ofender-me com tudo :D
Mas é que não. Só que não sou "betinha de Cascais". Não leste o resto da frase "Quase tão bonita como Lisboa".
Eu percebi tudo, don't worry :)
"PUXA O AUTOCLISMO
Eliminar(...)
EXPERIMENTA DE OUTRA MANEIRA"
Não vais dizer
EliminarADORO-TE
ADORO-TE
ADORO-TE,
POIS NÃO? :P
"JÁ CHEGA!
Eliminar(...)
É A CAIR QUE SE APRENDE A ANDAR" :p
Concordo :P
EliminarConcordo. Fui eu que disse isso? Ah, não, é um ditado popular.