08/11/2015

Mas que rica escadinha que aí tem

Entram na sala, iguais, vestidas da mesma forma, uma de top amarelo, o da outra verde-alface, rabos-de-cavalo semelhantes, como tudo o resto, geneticamente a mesma pessoa, pisam passadeiras lado a lado, como tudo nas vidas de ambas, põem o tapete a rolar à mesma velocidade e iniciam, sincronizadas como na natação, mas sem água, o exercício, ao espelho. E ficam, as quatro, naquela dança de Esther Williams a seco, conversando uma com a outra, ou umas com as outras, qualquer coisa de harmonioso, pois não há um remoto vislumbre de discordância nas ideias que ali trocam.
Instintiva e inconscientemente, agradeço não sei a quem não ter tido que lidar com gémeos.
Nunca quis ter uma irmã gémea, talvez por ter uma tão próxima — doze meses e três semanas, nem mais um dia —, talvez por me aborrecerem eternamente as inevitáveis (?) comparações que, mesmo com as nossas (que deviam ser) indiferentes diferenças, não haver gato-sapato que não opinasse, Uma é loira, a outra morena, Uma é mais baixa do que a outra, Esta é a cara do pai e aquela da mãe, E esta, sai tão escura a quem?, ou o maravilhoso Têm a certeza que são mesmo irmãs?
De alguma forma, intimamente, devo ter ainda considerado desde cedo que mais de mim seria demais, ou, pelo menos, mais do mesmo.
Também nunca quis ter filhos gémeos, não porque dessem mais trabalho, que dos quatro trabalhos não me livrei nem quis e nem quero, mas exactamente por essa mania que o povo tem, de forçar comparações no incomparável, mesmo em se tratando de duas pessoas que partilham códigos genéticos idênticos. São, repito, duas pessoas. Por muito semelhantes que sejam, à vista desarmada que todos usamos como armas, ali estão dois cérebros, já para não falar de dois corações. 
Deixe lá, cria-se tudo ao mesmo tempo — deve ter sido a frase que mais ouvi quando, à chegada da idade de Cristo, me vi no mundo, para cá trazidos por mim, com quatro pelas duas mãos: aquilo a que chamavam, na rua e em todos os lugares, uma linda escadinha
Eu deixei lá, e criou-se tudo ao mesmo tempo. 
Mãe, rompeu-me outro siso, também tenho que o ir tirar.
Mãe, nasceu-me o primeiro siso, e está-me a doer.
Felizmente, não tenho gémeos.

7 comentários:

  1. Eu tenho uma mana gémea :) e adorava ter gémeos, também ;)

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    1. E podes ter, como sabes :)
      A minha avó teve, e a outra avó era gémea. Eu safei-me à tangente! ;)

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    2. Ahaha :P tiveste sorte! Com tantos gémeos na família, não sei como não te calharam também a ti!...

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    3. Acho que salta uma geração.

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    4. Estudante, era a minha pergunta, quando foi do último: "Ó Sr. Dr., eu não quero saber o sexo nem o tamanho, nem mais nada, a não ser isto: quantos são?" :D

      Be, salta, pois. Mas eu conheço uma pessoa que é gémea e teve duas filhas gémeas. Mas acho que é raríssimo. E conheço uma outra que teve dois casais de gémeos, ambos "falsos", sem ter feito qualquer tratamento de fertilidade.

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  2. Odiava ser gémeo e não apreciava ter filhos gémeos. E gémeos vestidos de igual ? É de uivar , ganir,etc 😲

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    1. Eu não odiava, mas nunca quis.
      Isso de os vestir de igual, até aos irmãos não gémeos se faz. Pobres crianças. (Eu andei de igual e vesti-os de igual, mas agora reconheço que foi só parvo.)

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