22/11/2015

Enquanto vocês vêem a chuva a cair lá fora,

eu cultivo-me, qual alface-alfacinha verdejante [não confundir com verde leonino].
Fui ver O Jardim Zoológico de Cristal, de Tennessee Williams. 
Teatro São Luiz, no Chiado. Desta vez, fui de metro. O estacionamento do Chiado é ridículo em todas as suas frentes: caríssimo e claustrofóbico. Para uma pessoa meter um boi do tamanho do meu num daqueles lugares, vê-se obrigada a arregaçar as mangas, abrir os vidros todos, ligar o ar condicionado no máximo à temperatura mínima, comer um bife, fazer aquecimento de bíceps, e só depois talvez o animal entre no curral que, com sorte, se encontra, vagamente a um canto, em plano inclinado, entre duas colunas, oh wait, não é um lugar, é o canto reservado à caixa de incêndio. 
Eu passo maus bocados, porque a vida vai torta, jamais se endireita, e vira-se contra mim a torto e a direito. Desde que Welly me traçou aquele plano digno dos Comandos, que nunca mais fui capaz de subir escadas sem parecer o corcunda de Notre Dame, e então descê-las, nem se fala. Cada degrau equivale a uma pancada nas coxas, o que é muito bom para quem gosta. 
Ou seja: se, à ida para lá, os quatro lances de escadas rolantes da Baixa-Chiado estavam a funcionar, o mesmo já não poderei afirmar dos quatro lances das escadas rolantes da Baixa-Chiado à vinda para cá. A cada lance rolling correspondem 3 lances de 17 stones cada um, se é que não estou em erro. Feitas as contas assim por alto (na calculadora, que eu já não dou para mais hoje), dá uns 204 degraus. São 204 pancadas num par de coxas exausto de treino militar. Ainda por cima, fui com os meus novos Cubanas*, que me fazem altíssima, omnipotente e boa senhora, mas que me dificultam exponencialmente a tarefa da descida das escadinhas de São Chiado. Mais valia ter ido baixa, pois hoje foi o dia em que percebi, finalmente, a razão de ser do nome chiado, ao dar-me ouvidos, a cada degrau descido. 
Mas pronto — vi o Teatro São Luiz, pela primeira vez nesta já minha provecta vida, embora não tenha sido o meu primeiro Tennessee (continuo sem perceber por que é que não se escreve antes Tteenneessee), uma vez que já vi Um eléctrico chamado desejo. Para completar uma lógica qualquer, ainda gostava de ver Gata em telhado de zinco quente, se não for pedir muito, miau.
O teatro é belíssimo, todo em talha dourada, embora seja preciso descer o equivalente a dois andares de um prédio para ir fazer chichi. Foram mais 60 degraus que desci, mais 60 pancadas dolorosas (devia ter levado uma fralda).
E gostei muito da peça.

* ninguém me paga para isto (mas devia).

4 comentários:

  1. Isso é porque a dona Linda vai enfiar (mesmo assim) o carro no pior parque que lá existe. Da próxima vai para o do Largo do Carmo :P

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    1. Olha, boa dica. O do Largo Camões é para esquecer. Deve ser uma antiga mina de enxofre, aquela porra (só não é da Panasqueira) :P

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  2. A peça também me está a aliciar. Estou com vontade de a ir ver. Já me fartei de rir com as suas peripécias, sempre tão bem narradas :)

    Um beijinho, Blue, e um dia feliz :)

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    1. É muito boa. Tem uma mensagem absolutamente subliminar relativamente às diferenças, que tenho a certeza que vai captar tão facilmente quanto eu captei.
      Obrigada :)
      Um beijinho azul, de dia luminoso :)

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