18/04/2016

Avenida de Roma, meu amor # 3

Eu hoje estou assim, um bocado extrospectiva. Ando assim, de blog em blog, como a amiga Nara, de bar em bar. 
Isto é demais.

Vi na Be, e vi na Me. Juntas, por diferentes razões, vieram lembrar-me um tempo, já da Maria Cachucha, que, de tão remoto, até aparece nas fotografias de Lisboa antiga.
Era na avenida de Roma. Foi na avenida de Roma que eu fui concebida, e sei exactamente em que prédio. Cada vez que lá passo, até me benzo. Tenho até superstição de ali atravessar a rua, porque las hay. Depois fui nascer ali por trás da avenida, numa clínica spé do melhor que havia, ou seja, por ali dei eu os meus primeiros berros. 
Mas não é a estes berros que venho agora. É aos berros da birra, passe a aliteração. 
Existia uma loja de brinquedos, em frente da Pastelaria Roma (hoje um Mc), que me era absolutamente fatal. É que nem podia lá passar à porta, que o berreiro começava logo à esquina da João XXI. E ia assim, pela paciente e boa mão da minha mãe, a guinchar para os ares, que se ouvia para lá da Praça de Londres. Lembro-me de uma vez que aquilo tomou proporções épicas, e em que me deitei no chão, no passeio, a gritar desalmadamente, a bater com os pés e com os punhos cerrados no chão, que ainda hoje sinto o frio e duro da calçada, e até um nico do cheiro. (Acho que ainda não havia tantos cocós, ou então até isso me foi indiferente naquele momento.) 
Basicamente, eu queria consumir. Punha-me a gritar "Eu quero!" e ia por ali afora na repetição da intenção. Nesse dia em que me deitei no passeio, a minha mãe perguntou-me: "Mas o quê?", e eu, já dotada de lógica absoluta (que, lá para isso, era precoce), respondi, em prantos: "Tudo!". 
Muita e santa paciência têm que ter as mães. Uma parva deste calibre merecia duas palmadas bem assentes nas nalgas e ala para casa, que estás de castigo até aos 18 anos. 
(A minha mãe não era branda, eu é que era intragável; quando me tocou a mim o papel dela, acabava com as birras pelo método da hipnose: segurava nos dois ombros da criança, olhava-a bem nos olhos, e dizia: "Agora chega", mesmo que a birra ainda não tivesse começado — e resultou sempre.)
Isto que está no vídeo que aqui deixo, nunca fiz, mas uma criança como eu, bem merecia que a mãe lho tivesse feito. Hoje podia ser gaga ou ter tiques esquisitos, mas, ao menos, não teria feito a minha mãe passar por cenas vergonhosas.
Agora fora de brincadeiras, tudo o que sou, a ela o devo.


8 comentários:

  1. Estava agora a pensar 'aderir a este site' mas entretanto já lá estava. Ohhh.

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    1. Qual site, Uvy?
      Estou baralhada do fusível :)

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  2. :) a minha mãe tb sofreu um bom bocado comigo, tão diferente do meu irmão, que era uma paz de alma.
    Ainda hoje contam uma, tb épica, em que me alapei no chão a chorar (queria qq coisa) e nem mm depois da minha mãe dizer, ficas ai sozinha e desaparecer do meu campo de visão, eu me movi. Ela, à coca, teve de voltar e levar-me de forma mais coerciva ;)

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    1. :) Como é que é possível que nos tenhamos transformado nestas senhoras ponderadas e equilibradas? (Brlé-brlé-brlé). Será que deixámos pelo pó da terra toda a energia de bandalheira que nos provocava o mau comportamento? :)

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  3. Nunca me atirei para o chão mas já chorei de boca aberta para ver a reacção (em casa). Resulta!
    Beijinho

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    1. Eu também não, mas lamento não o ter feito. Já não digo na rua, mas em casa, para desopilar dos picos de stress e das enervadeiras que uma pessoa passa. Fazia cenas bem dignas de serem filmadas, em compensação. Parecia um excerto de Hamlet.
      Beijinho, Be

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    2. Tb já fiz disso Be, é mto cómico. Ele pára, fica a olhar para mim, e por vezes, nem sp, ri-se. :)

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