12/08/2015

Diário de fora de bordo # 7

Sinto que madrugo o meu dia, e agarro-me ao ferro, aquele objecto em alumínio e plástico que, de ferro, já só tem o nome. Não quero que vão engomadinhos para a praia, mas também não numa rodilha. Ao fim de sete dias, perco a conta às t-shirts e aos polos. Pergunto-me como é que as outras pessoas se arranjam: usam a roupa amachucada? Não a lavam? Trazem roupa para todos os dias (coisa que eu conseguirei fazer no dia em que traga um atrelado atrelado (haha, parece que me enganei, mas é que não) ao camião? Vai tudo para a lavandaria? Trazem mil criadas atrás?
Cada um tem o seu TOC, este é o meu TOC-TOC, não me toque.
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Comprei um caderno para evitar andar com a bolsa da praia cheia de papelinhos. Já abria o fecho e voavam para o chão, obrigando-me a explicações indesejadas, após exclamação Ai os meus papelinhos!
Diz na capa “Sebenta”, mas não me lembra nada, que eu já não sou desse tempo. Reduzi um manual de 1200 páginas para 150 manuscritas, sem espinhas, sem sebo, quais sebenta, quais carapuça, carapau.

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Devia alugar um colmo — por falar nisso, o acordo de ocupação de um espaço temporário e que não tem uma existência permanente e fixa ao longo do ano, é aluguer ou é arrendamento? Nem eu, que não os alugo, sei —, e, numa atitude muito mais blogger da minha parte, vir para aqui falar no meu colmo, o mar como horizonte, o que tenho, igualmente. Depois acordo, estou a passar a ferro e lembro-me que esta vida são dois dias e as férias só dez. No entanto, na zona de chapéus de sol, incomodam-me o ressonar do vizinho, as borbulhas das costas do filho do vizinho, o cabelo mal pintado da mulher do vizinho. Tenho o que mereço.
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O mar está de um azul que desconheço. Caem-me três pingas de água nos braços e na cara. Só me falta chorar, para haver água por todos os lados. Mas também, nem tanto ao mar.
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- Á bólhinhá dji márácujá é qui neim Somersby, é fruto da sua imaginação.
- Já percebi isso.
- Mais teim dji lhimão.
- Já não acredito, estou a perder a inocência.
Não me quer vender bolas de Berlim, o meu Maracujá. Terá receios, que nem eu, de me ver gorda. E eu tenho receios, que nem ele, de o ver rico.
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Vou ao bar às 5 da tarde, armada em britânica do Brasil, e encontro-o superlotado com uma multidão de rapaziada homogénea, que precisa de ver e de ser vista. Elas são todas parecidas. Eles são todos clones: depilados, tatuados, bronzeados, híper-musculados, com penteados surreais, cap de pala virada para trás, olhar de conquistador barato. Bebo um café e deslizo de volta para junto da vizinhança de chapéu, pedindo aos céus uma ilha. Um ilhéu. Ah, não preciso, é verdade: a mulher é uma ilha.

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Já tinha acabado meu postinho, fui lavar o cabelo, fora da banheira, como sempre. Consegui, não sei como, partir o vidro da banheira, que me caiu aos pés em mil cacos (até acho que eram mais do que mil), e sofri quatro pequenos golpes, um em cada mão, um no pé e outro na perna, que sangraram abundantemente, não valem um caracol, mas que estou a tentar rentabilizar em níveis de vitimização. Não fui dar sangue em Julho, o cosmos cobra-me gota a gota.
Tenho o que mereço.
(Já disse?)

4 comentários:

  1. Que dia atribulado ! E que maneira de o terminar :(
    Espero que estejas bem e que não tenha sido nada de grave
    Continuação de boas férias

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    1. Obrigada, Carla. Tudo ok. Tenho pequenos cortes, sem gravidade, mas apanhei um belo susto.
      Boas férias também, se for o caso :)

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  2. Que férias....
    Beijinho

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    1. Isto é normalíssimo :)
      Muita gente...
      Beijinhos, Be.

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