09/08/2015

Diário de fora de bordo # 4

Os dias correm amenos. O tempo oscila entre sol, aguaceiros e chuva, como a desta manhã. Não sei se é isso que determina os humores, mas é, certamente, um descanso para a pele. Ainda assim, persisto no factor 50. Sou morena, mas não acredito que o mal maior só acontece aos outros, e não vou para nova. Subtraio e somo tudo isto e dá 50.
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Somo também as variáveis Algarve, sábado, Verão, Agosto, supermercado e dá portinhas do inferno, onde só entra quem quer. No entanto, hei-de voltar. Tenho pressa de sair, quero sentir ao chegar vontade de partir para outro lugar. Vou continuar a procurar a minha história, o meu lugar.
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Pudesse eu escolher o meu nome próprio e hoje escolheria Maria da Saudade. Sei que não vivo em função, mas tenho-as sempre. Vou para um lado, tenho saudades do outro. Um bocado estou bem onde não estou. Só um bocado, porque estou perfeitamente bem, aqui e agora.
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Bólhinha dji Bérrlim, tem dji lhimão, alfárrôba, ámêndoa e seim crêmi!

É ele e vem aí. Ainda não o tinha visto este ano. Não quero mostrar a felicidade que sinto em revê-lo — porque estamos vivos, porque temos saúde para dar e vender, porque ficámos unidos por uma private joke. Mas eu sou uma senhora, a praia tem milhares de pessoas, ele vai passar por mim, não me reconhecerá, e a ordem continuará intacta.
- Êssi ano já tem dji márácujá!
Acocorado diante de mim, mil dentinhos brancos, o samba no olhar, o mar eterno no tom.
- Olá. Não me diga isso, que eu fiquei a aguar pela bola de maracujá durante um ano. Foram saudades a mais, não se faz. Um ano de saudades é tempo a mais.
- Ágora já tem, pódji crê.
- Então, dê-me uma.
- Hoji num tem, mais pódji crê qui amanhã já tem.
- Amanhã espero por si, e logo vemos se é verdade o que me está a dizer agora.
Dois mil dentes, os dele e os meus, fica a promessa de dias sem fim, a pedir pela bola de Berlim que não existe e, no entanto, está no cesto dele e na minha gula.
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- Gelado azul? Por que é que tu só comes coisas esquisitas?
- Porque gosto de azul e os olhos também comem. Porque, assim, ninguém quer o meu gelado, e posso comê-lo em paz.
É assim com os iogurtes. Os meus são "os azedos".
É assim com os sumos. Os meus são "os incríveis".
Uso truques para que não me devorem as minhas guloseimas. Escolho as improváveis, as insuportáveis, as que ninguém quer. Só assim sei que abro o frigorífico e as encontro, intactas.
Pode ser que mais ninguém goste de bolinha de maracujá.




12 comentários:

  1. Já tinha saudadjinha de te ler :) Beijinho, querida LP!

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    1. Já voltaste, querida? :)
      Também tinha saudadjinha de te ter aqui, ao pé de mim!

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    2. Ainda não, só no próximo fim-de-semana :)

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    3. És bem vinda em qualquer altura :)

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  2. Fogo! Tu és pior do que eu com a comida :D eu quase que rosno tu escolhes aquelas com mau aspecto só para ninguém te melgar GANHASTE! lol

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    1. Fartei-me de rosnar e de ladrar. Ninguém me dava ouvidos, equacionei cuspir nas minhas guloseimas, mas acho que até assim mas sacavam. Olha, remédio santo. :D

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  3. Credo! mas de q tamanho é esse copo?? (Tb quero)

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    1. É de 4 bolas. Foi partilhado, é certo. Mas a bola azul (e a colher azul) ficou só para mim. Nem a parte em que os sabores se tocavam quiseram provar. Azul, meu, até ao limite ;)

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  4. (há um endereço de email por aqui?)

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    1. (não, ninguém me ligava nenhuma, tirei-o :))
      (lindaporcaoucheirodeestrume@gmail.com)

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  5. É no que dá ler posts da frente para trás! Comentei o de cima e tinha percebido tudo mal! :P
    Aguenta aí esses gostos particulares que assim sobra mais para ti! :)))

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    1. Baralhamo-nos uns aos outros :)
      É o meu truque. Eles bem se esforçam para gostar das minhas coisas, mas desistem rapidamente :D

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