13/08/2015

Diário de fora de bordo # 8

A alegria de viver, assim como a simpatia, são sintomas de uma maleita, que se chama felicidade, e é contagiosa, porque se pode partilhar e até injectar. A minha mãe sempre me contou que me levava no carrinho e eu ia a agitar os braços para tudo o que passava por mim, e terminava com este exemplo, até aos ramos das árvores. Assim fez o bebé, de uns três anitos, que me acenou hoje na fila do supermercado, com o bracinho direito, e eu, de frente para ele, acenei-lhe com o esquerdo. Era inglês, e não falava uma palavra de português, mas entrámos num entendimento imediato e qualquer coisa de exclusivo, porque é bem verdade que as pessoas, às vezes, ficam sozinhas umas com as outras no mundo, mesmo que seja só por um minuto, que foi quanto durou o nosso minuto. Quando viu que o meu braço que agitava era o do "espelho" dele, agitou o outro, e eu fiz o mesmo. Disse-lhe, "Agora os dois", num português claro, e ambos agitámos os braços todos ao mesmo tempo, ele numa gargalhada dobrada e desdobrada, eu numa festa. Esqueço-me com demasiada frequência de quem sou, de onde estou, mas nunca de para onde quero ir. E adoro desmoronar Torres de Babel.
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Hoje instalei-me num colmo da praia. Sabe-me bem a cama, a sombra sem ameaça de o chapéu fazer take off a qualquer momento, mesmo sem ok da torre, a vizinhança de calções pela perna e de corpos não graffitados. Elas passam grande parte do dia a experimentar todas as dezenas de biquínis que trazem os brasileiros ambulantes, as crianças chamam-se Bernardo Maria e Maria Maria. Compreendo francamente melhor estes acordes, mas há uma altura, sem excepção, em qualquer ponto específico da tarde, que ainda não consegui definir qual é, a não ser que é algures antes de o sol se pôr naquele risco azul, traçado pelo criador em dia de inspiração divina, em que tenho que pôr os headphones, porque já nem o mar espreguiçando-se na areia consegue fazer-me dançar.
She's only happy when she's dancing.

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