28/08/2015

I believe I can fly

Dia da partida para férias, últimas limpezas (casas-de-banho, cozinha), ecoponto despejado, lixo orgânico no contentor do prédio, água da esfregona despejada, última roupa recolhida, últimos sacos e sacolas (não esquecer as molas da roupa!, o que veio, mais uma vez, a revelar-se muito útil), portas das varandas fechadas pelos trincos, despejo do frigorífico do que passa da validade entretanto, despejo do despenseiro do que pode apodrecer entretanto...
- As batatas, deito fora?
- Não, elas aguentam dez dias.
Uma beleza. Aguentaram dez dias. E fizeram-se ninhos de moscas pequeninas, daquelas que são primas das moscas da fruta, mais conhecidas por Drosophila. Centenas, dentro do armário, ao longo da cozinha e, na loucura, pela casa fora, mesmo depois de deitadas fora as batatas que aguentaram dez dias, firmes e talvez não hirtas.

~

Muitas moscas. Amorosas, iguaizinhas às moscas a sério, mas em ponto muito pequenino. Small is beautiful e eu também não consigo tirar a vida a nada. O drama. Uma família inteira — na qual, naquele campo, não me incluí — a matar moscas. Moscas mortas pelas paredes. Moscas mortas nos armários da cozinha. Moscas mortas. E eu a fingir que não as via. Elas pousadas na alva mobília da cozinha, e eu até evitava abrir a boca. Antes sair a asneira. Tão queridas. Tão querida.

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Comprei uns figos pequeninos, doces como mel. Deixei o saco em cima do balcão da cozinha e fui à minha vidinha. E também dormir.
No dia seguinte, o saco continha o mosqueiro sobrevivo completo.
- Ataste o saco porquê?
- Porque, assim, elas morrem asfixiadas.
E eu podia lá aguentar a imagem das minhas mosquinhas a morrerem asfixiadas.

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Havia um saco — aberto —, com figos pequeninos e muito doces, no chão de uma das varandas da minha casa. Nem uma mosquinha, para amostra.
- As moscas?
- Olha, voaram...



4 comentários:

  1. E eu que pensava ser a única que as achava fofitas ;)
    O único problema que tenho é que trabalho precisamente com Drosophila, o que implica, por vezes, ter de lhes fazer algumas maldades... isso e estar sempre a ouvir "trabalhas com moscas? eu tenho lá muitas em casa, queres?"

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    1. São tão giras. Parece que vêm de um mundo mini :)
      E percebo bem que fiques incomodada com as maldades que tens que lhes fazer.
      Já agora, vou corrigir o nome. Sabia-o de cor, mas não verifiquei a ortografia. Many thanks ;)

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    2. Mas tu escreveste bem, em português correcto! Eu só usei o nome científico por força do hábito... ou defeito de profissão ;)
      (o mesmo defeito que me faz ser aquela totó que olha para as que me aparecem em casa ou na rua e diz se são machos ou fêmeas)

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    3. Agora já está. Fica o científico :)
      (eu tenho a certeza que faria o mesmo, se soubesse distingui-las :))

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