13/05/2015

Eu tenho problemas com médicos # 17

Parece que agora não se passa uma semana sem que tenha que ir a um médico, ou lá por uns motivos, ou cá por outros. Isto é capaz de ser caruncho. Ou anda para me sair a taluda do Natal, que isso é quando um homem lhe der no ginete.

Hoje fui àquele que nos põe, a nós, mulheres, a mirar o tecto da sala com o maior interesse que conseguimos simular. De repente, o tecto é o da Capela Sistina e há ali coisas e há que as contemplar —, ainda que seja, como é o do gabinete que me calha a mim, totalmente liso, sem um candeeiro, ao menos uma racha (chiu), um bocado de estuque caído, uma aranha que passa, olá, aranha, algo...? Aquilo dura o que tem que durar, a pessoa pode arranjar qualquer subterfúgio para que o tempo passe mais depressa, tipo rezar, pensar no que há-de ser o jantar, ou na morte da bezerra, tudo muito a calhar para o momento romântico que protagoniza. Há também as que cagam nisso — não em sentido estricto — e conversam o tempo todo, arrebitam a cabecinha, à custa de terem os abdominais desenvolvidos, para continuar a prosa les-yeux-dans-les-yeux com o médico, chamam um nome mental ao instrumento metediço (Paulão, Pedrão, Carlão, tanto faz), e, no final da observação, ainda ficam ali, naquela doce posição, a conversar, sem noção de que já acabou e ó, alta-que-salta e vai-te lá compor. O meu médico é uma ela, que eu adoro de paixão, muito heterossexualmente falando, mas, já que temos aquele nível de intimidade todo, não o devemos desperdiçar, e acho eu por bem que troquemos umas palavras antes, durante e depois do acto, para que não pareça ser aquilo mais sexual do que, na realidade, é. 

A sala de espera de uma médica com a especialidade das miudezas, regra geral, tem também muitos miudinhos: recém-nascidos e nascituros, ou seja, pessoas dentro de pessoas que, por sua vez, se encontram em estado gravídeo. Tenho a impressão que hoje vi tantas grávidas que, às tantas, toda a gente, homens e velhos incluídos, passaram a dar-lhe ares. Menos eu, que levava o meu vestido mais feio, um tubo estreito que não deixa margens para quaisquer dúvidas (para além, é claro, do resto), mas que me concede uma elegância de dar altos brados, apropriadíssimo para a ocasião.

Passada meia hora de espera, numa sala cheia de gente engordada à força (como aqueles gansos do foie gras) e pequenininha por ter chegado a este mundo há dias, e de ter feito mais um estudo antropológico  acerca do modo como se vestem e comportam os recém-papás (reparem, eu não disse as recém-mamãs, que, coitadas, de inchadas e baralhadas que estão, tudo se lhes perdoa, eu disse mesmo os recém-papás), sobre os quais me debruço um destes dias (vade, chifrudo!), dado que cheguei hoje à conclusão de que quem está, verdadeiramente, em pós-parto, são eles (alguma coisa tem que explicar aqueles calções, aquelas t-shirts e aquele ar enfadado de quem acompanha a fêmea num calvário para o qual parecem não ter participado em nada, com a agravante de o terem feito a rir que nem perdidos de tolinhos, mais ainda do que uma pessoa com o Paulão-Pedrão-Carlão), lá fui chamada à sala de maluqueiras que é o gabinete médico de Madame Gina. 

Fui encontrá-la em transe nervoso, a rir desalmadamente, parecia mesmo os outros gajos da sala de espera nove meses antes, mas sem os calções. Tinha acabado de dizer a uma senhora, que lhe apareceu convicta de estar grávida do terceiro filho, que ia ter não um, mas dois, ou seja, que espera, neste momento, o terceiro, sim senhora, mas ao qual vem acoplado o quarto, também.

Levei quinze minutos a acalmar a médica. 

Mal me botou as manitas em cima e se pôs a visionar imagens televisivas do meu belo interior, um pouco abaixo do bom e enorme coração que bomba nesta bomba, avisou-me de que muito bem fiz eu em ter arrumado um determinado assunto aqui há uns anos, já que, caso não o tivesse feito, ainda andaria cá a fazer continhas de matemática todos os meses. 

Credo, foi mal pude que me compus e me raspei, que a senhora hoje estava cheia de vida, malcomunada com a cegonha, e ainda me fazia alguma mandinga que me punha penta, ou hexa, já que estava numa de duplicar tudo o que via no monitor lá dela. Não sei o que bebeu ao almoço, nem me interessa. Livra, passar bem. Tarada.

8 comentários:

  1. E eu com posts deste tamanho...

    Boa noite.

    Fui...

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    Respostas
    1. Não leias, bruto :P
      Ficavas a saber demais e teria que te silenciar.
      Vai lá.

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    2. Cheira-me que fala de badalhoquices... nem quero ler :p

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    3. Cuidado aí com a escolha do verbo, que o assunto é assaz delicado :P

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    4. Estavas toda assada ?? Wow....... :P

      (assaz .. assada... :P)

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    5. Estava. Com batatinhas wow :P

      (que linda associação :P)

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  2. Não sei que comentar nisto, exceto que "o que conta é o interior" :P

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