08/05/2015

As coisas que eu vou desencantar ao baú... # 2

15.40
Chegámos a casa.

Leio convocatória para uma Assembleia de Escola. Não sou eu o representante neste órgão. Ou sou eu? Então, quem é? Continuo sem certezas. Nunca tenho certezas, e isto é capaz de ser patológico. Ou socrático. Começo a fazer lanches. Enquanto torro pão para uma e aqueço leite para o biberon do rapaz, dou bolachas a todos, saídas da mochila de uma e também do armário da cozinha. Faço SMS para avisar da convocatória. Entrego o biberon ao rapaz, enquanto barro manteiga nas torradas da M. São todas M, as minhas meninas. M de minhas, M de meninas, sou eu a mãe, M de mãe. As outras duas M decidem que querem uma sanduíche de fiambre cada uma, mas uma quer que seja torrada, e a outra não. Eu preferia que ambas quisessem torrada, para me facilitar a linha de montagem, que eu inventei, mas não existe. 
O rapaz não começou a beber o biberon, mas começou a esfarelar uma bolacha de chocolate para o chão. Pegou num toalhete e desatou a “limpar” a mesa, o chão, e disparou para a sala, onde “limpou” mais mil coisas, de entre as quais os vidros das portas da sala, tudo com o mesmo toalhete. Uma das M bebeu uma caneca de leite, a outra uma caneca de leite com chocolate, e a outra dois copos de água. O rapaz, cansado de tanta limpeza, o toalhete desfeito em farelos, começou, finalmente, a tomar o leite e eu fiz um telefonema. Falei para o 'voice mail'. Antes assim. Arrumei a roupa do fim-de-semana – dois cestos. Recebi o telefonema de volta. O rapaz foi fazer chichi e chamou-me para ver. Tem dois anos e meio, tenho mesmo que ir ver. Uma das M quis uma fatia de melancia, que eu cortei e tirei as grainhas. Desesperada, mudei de blusa. Aspirei o local onde o miúdo esteve a comer bolachas. Tirei a louça da máquina. Fiz um café para mim. Outra M quis um copo de água com açúcar. Eu achei insensato — porque ainda acho coisas —, e disse não. Outra M quis uma fatia de melancia. Eu disse não — vais ficar com a barriga cheia de água da melancia, em cima do leite”, argumentei. Mas ninguém me ouve, fale devagar, baixinho, sensatamente (sei lá o que isso é) ou aos gritos. 
São 17.30 e eu estou nas lonas. Vou abrir camas. Enquanto abro as camas, penduro vestidos e calções. Uma das M fez chichi no chão. Dei-lhe uma palmada no rabo e limpei o chichi.

17.30
Dói-me a palma da mão.
Dói-me o pulso.
Dói-me a alma.

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