18/05/2016

Um dia, ainda hei-de pedir perdão ao mundo

Ou só a eles, por lhes ter calhado em sorte maldita uma mãe tão desgovernada, que chega da rua, cheia de sol, entra em casa, dá com o rapaz a dormir na cama dele, e acha-o amarelo.
Amarelo. 
Daí a dispararem mil filmes, quinhentas mil imagens de terror e vários segundos de apneia mais disparos de ricochete ao nível cardíaco, foi um ai.
Ai, estás tão amarelinho...
E vai de mão à cara. Febre, não tem febre.
Remexe-se para o outro lado, diz-me que está a dormir.
Ninguém fala a dormir, a não ser eu, e já menos do que já foi. Dantes, até cantava. Devia ser ao ritmo das pernas inquietas, vai na volta e sonhava com acompanhamento à pandeireta.
Apesar de saber que ele está a dormir, e porque a minha tormenta atingiu píncaros, repuxo-lhe as pálpebras inferiores para baixo, para espreitar a cor do sangue.
Vermelho. Vivo, sem dúvidas, anemia zero, quanto mais fantasmas piores.
Está só cansado. Tão cansado, que não protesta e vira-se para o outro lado.
Já não está amarelo, eu é que trazia sol a mais na cabeça e nos olhos. 
Eu, por mim, devia deitar-me a descansar, só com o susto que ele me pregou.
Devo estar amarela, quase morta.
Não se faz.


2 comentários:

  1. Coitado do rapaz! Filho sofre e a "outra"senhora é quem fala muito! Linda deixa o rapaz dormir sogadito ! Ora esta 😍

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