26/05/2016

Santa Ana, cabeleireira # 2

Lá está: como só vou ao cabeleireiro duas vezes por ano, posso fazer um post cada vez que lá vou, que não dá para enjoar. 
Não foi hoje, porque hoje é feriado também, e principalmente, para ela, que eu trabalhei desalmadamente todo o dia, desde que me levantei, às 8 da madrugada, só tendo intervalizado para tomar uma ducha e uma bucha, puxa. Cada vez que oiço a palavra "prazo", só porque sou uma senhora e não faço essas coisas, é que não faço uma coisa dessas.
Já fui outro dia. Precisava mesmo de pintar o cabelo, já me sentia uma espécie de zebra, leopardo ou um bovino, de que agora me falha o nome. Estava toda malhada ao nível capilar, de tanta experiência química feita em casa com mi pelo. Nas fotografias do dia da mãe, apareciam quatro jovens, belos e saudáveis, e uma zebra no meio deles, que depois até vim a constatar tratar-se de mim. As fotografias são muito cruéis. Também é por elas que verifico que, afinal, o tempo passa por mim. Não a ferro, mas passa na mesma — a fogo. Tenho que deixar de tirar fotografias, ou aprender a lidar com o photoshop. 
Então, lá fui. 
A minha Ana recebe-me com um abracinho, dois beijinhos, um "minha querida" que acompanha a normal pergunta se tomei o calmante (que ela sabe que não tomo, mas deve querer medir as forças à fera), e trata-me como se eu fosse uma daquelas freguesas que lá vão todas as semanas. Disse-lhe que ia lá pintar a peruca, pois parecia deslavada de tanto ir à máquina. E que havia ali uns quantos que eram para tapar. De tanto eufemismo ouvir, usou, também ela, um, que adorei: Os cabelos azuis?. Que sim, que eram esses. Não são brancos, são azuis, pois. 
Fez várias cadeiras de psicologia, naquele curso dela de cabeleireira, tenho a certeza. Só isso explica a velocidade supersónica com que me apara as pontas — um centímetro! — sem que eu veja a tesoura passar nem por um momento, me convença, no fim, que continua comprido, vê?, e eu veja, que me arranje vaga nas unhas, onde já não há vaga nem sequer onda possível, e venha acabar de me pentear enquanto a manicura me manieta de tal maneira, que não consigo mexer-me para mais do que dar à língua com as duas, que a mim, nem o secador, nem o facto de me mandarem pôr de cabeça para baixo — true, true, para alevantar as raízes —, algum instante me calam, tudo drivados do meu sistema nervoso central e periférico. 
Saí mais morena, com umas unhas tão bonitas que ando de manitas no ar desde aí, e um nico mais capaz de tirar pics em que não pareça o equídeo riscado.


(Por falar nisso, a zebra é branca com riscas pretas, ou preta com riscas brancas? Eu sei a resposta, mas apeteceu-me recuperar a premente questão.)

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