Eich, este título vai atrair freguesia que é um caso sério. Já tudo a pensar que eu venho desabafar as mágoas da vida.
E venho.
Hoje era dia de almoço com a bicomadre. Acho que já disse que todas as minhas amigas são minhas comadres. Mas esta é mais amiga que as outras e é mesmo bicomadre. Efectivamente, é comadre duas vezes. E, para manter uma tradição que nasceu sem nunca ter sido combinada, cada vez que nos encontramos, vamos de vestido "à senhora". A ocasião exige toilette, porque é quase dia de festa. Fazemos isso, no mínimo, uma vez por mês. Não nos queremos perder uma da outra, mas, para tanto, temos que golpear o destino.
Conhecemo-nos e ficámos amigas aos onze anos de idade, e não antes porque, no primeiro ano em que andámos juntas no liceu, detestávamo-nos mutuamente. Um dia, devemos ter tido um clique e ficámos BFFs, apesar de sermos tão diferentes. Aos nossos catorze anos, ela já era uma senhorinha, sempre muito comportadinha, muito vestidinha, muito direitinha. Eu arrastava-a para as festas do Pedro Nunes, ela levava-me a lanchar à Versalhes, à Colombo, à Bernard e à Ferrari. Embonecávamo-nos à escala da idade e lá íamos nós lanchar, ela no chá e duchaise, eu na coca-cola e tosta, mas sempre juntas e cúmplices, eu a fazer as vezes da irmã que ela não tinha, ela a fazer as vezes de mais uma na minha vida. Depois a Colombo deu lugar ao primeiro Mac Donald's de Portugal, a Ferrari ardeu com o Chiado, e o tempo e esses ventos afastaram-nos dessas paragens. Hoje, décadas passadas, continuamos assim amigas, eu já não a arrasto para o Pedro Nunes - "Vamos ver rapazes giros, tu vais desemburrar!"-, ela já não me leva a lanchar às pastelarias do guardanapo de pano, mas almoçamos no shopping e depois vamos às lojas, vamos à Zara Home e eu mudo os bibelots todos de estante, troco a ordem aos conjuntos, descolo os preços de uns e ponho noutros, vamos à Rituals, faço perguntas absurdas, "Olhe, aquela menina ali é a sua chefe? É que não me liga nenhuma e eu queria ser atendida...", vamos à FNAC e ela vai ver a estante dos mais vendidos, eu vou para os telemóveis e i-phones, experimentar os botões até apitar o primeiro alarme e ter que sair a flutuar pela alcatifa. E ela ri-se tanto de tudo o que eu digo e faço que chegaria mesmo a acreditar que sou engraçada, não soubesse eu que ela se ri com uma facilidade desconcertante de tudo o que mexe. E também do que não mexe. Não a posso levar a velórios.
Vai daí, vesti este horror, que a Lucy teve igualzinho na gravidez de uma das Lioncinhas, com a única diferença que o meu me fica muito melhor - tenho uma barriga ligeiramente mais pequena, o que facilita, e não estou agasalhada até aos pulsos, como ela. Este é um daqueles monstros que uma pessoa conserva no armário porque um dia lhe foi oferecido em contexto laboral, e não houve como ir trocá-lo. Podem dizer mal, que eu sei isso tudo.
Moral do post? Sei lá. Queria falar da porra que foi terem transformado a Colombo num Mac Donald's, perdi-me no discurso. Mesmo à velho.
A pastelaria Roma, da avenida de Roma, foi a mesma coisa. Uma lástima.
Eu exigia uma indemnização à Lucy! Arruinou o vestido!
ResponderEliminar(Tenho uma amiga assim :) )
Bem pensado. E apresento-me na audiência com o meu, vestido (embora não pareça, a vírgula aqui tem a maior importância).
Eliminar(Como a minha bicomadre? :) )
Ficas com o panamera que tanta celeuma deu no divórcio da Luce e do Djaló :D
Eliminar( sim, como a tua bicomadre :-) )
Não era uma banheira branca? :D
EliminarAté combina com o monstro do vestido!
(coitadinhas, e depois levam com amigas como nós. Eu até meti a minha a fumar, desgraçada)
A minha Su e o meu T2. são exactamente iguais. Vamos onde formos e há gargalhada, brincadeira e alguma confusão garantidas. Metemo-nos com as outras pessoas que vão na rua e tudo. Papel de maluquinho mesmos. Mas o vestido, não sendo garantidamente o mais bonito da história, não é assim tão feio!
ResponderEliminarMas por que é que eu fico com a sensação de que toda a gente tem um amigo maluco menos eu? :P
EliminarNão. É horrendo. A graça está em mim.