Aquele embaraçoso momento

em que uma pessoa, munida de um vestidinho sexy (a modéstia do costume, agora é o vestido que é sexy) e saltos altos, tem que, forçosamente, perguntar ao funcionário do supermercado se tem salsichas. Porque decidiu fazer arroz de salsichas para o jantar. Várias hipóteses se lhe apresentam, no desespero:

- Mudar a ementa do jantar e ir buscar sushi, tornando inútil a ida ao supermercado;

-  Perguntar apenas: "Onde estão as salsichas?", o que, convenhamos, não melhora em nada a putativa (vão ao dicionário. A minha cabeça, parecendo que não, está limpa) intenção da pergunta;

- Esperar que passe uma senhora funcionária, e aí sim, perguntar à vontade, sem medos: "As salsichas?", até, possivelmente, com uma gargalhadinha de gozo no fim da frase;

- Recomeçar a solitária busca, tentando evitar a todo o custo aquele vício privado tão meu, que é o de desabafar com as estantes, as paredes, ou quem passa, "Mas onde raio meteram as putas das salsichas, caneco?";

- Esperar por passar um carrinho com salsichas lá dentro, e "roubá-las";

- Pedir a uma criança, daquelas que povoam os supermercados um bocado à toa, "Olha lá, as salsichas?", correndo o risco de ser sujeita a uma humilhação, queixa, julgamento e medida preventiva nos próximos três-dois-um segundos;

- Simular um desmaio e gemer, ao acordar "Ai, preciso tanto de encontrar as salsichas..."

E, no fundo, diante de uma encruzilhada com tantas saídas, como é que acabou a história? 

Dirigi-me a um senhor, sem sequer ter reformulado a pergunta.

- Olhe, por favor, tem salsichas?

- ...

- Ah.

...

...

- Não é daqui... desculpe. Se calhar, vou perguntar aqui a este senhor que vem a passar... 

(não sei por que é que me senti uma jornalista da CMTV neste momento)

Dirigi-me a outro senhor.

- Olhe, tem salsichas?

(e, queque-se!, dei uma gargalhadinha)

(porquê?)

(porquê?)

(porquê?)