Este ano tive mais trabalho, tanto que vou deixar outra vez de estar isenta de IVA e vou voltar a ser — que verbo usar? — tributada pelo estado português. (Que adjectivo usar? Chulo.)
Andei entretida, como se não tivesse mais nada que fazer, numa actividade profissional que não tem nada a ver com a minha e, designadamente, comigo. Foi onde conheci pessoas que falam a abanar os dois ombros, nariz no ar, e proferem expressões como atitudes conducentes e desvaneios. Ah, e entretia a fome. Um dia fartei-me e vim-me embora, porque esta vida são dois dias e gastá-los ali não me pareceu boa ideia e também porque ó-pá, eu aguento tudo, menos o coice na minha língua. (Não literalmente falando.)
Comecei o ano num doloroso luto pela minha gata, que ainda hoje me dói, e honi soit qui mal y pense.
Os meus quatro pássaros viajaram juntos, todos no mesmo pássaro de lata, eu tive medo, mas fiquei tão feliz que acabou por não doer nada.
Saíram-me dois pássaros do ninho, o que, fora eu uma pessoa igual às outras e teria o ninho vazio. Assim, com não sou, e cuidei de povoar o mundo com exactamente o dobro da média das outras pessoas, tive-o ocupado e desocupado por metade.
Fomos campeões da Europa e isso, não sei porquê, fez de mim uma pessoa contente por uns dias.
Uma das minhas mais amadas recebeu um prémio muito importante, e isso confirmou o que eu já sabia: que aquela noite correu mesmo bem.
Vivi os dias mais terríveis de toda a minha vida, quando fui chamada para ir assistir, a quase trezentos quilómetros, ao coma de outra das minhas, e isso manchou-me o ano todo com as cores da angústia e do pavor, que me fizeram ver que há minutos na nossa vida que podem fazer a diferença para o resto dela toda. Foi por um triz que não a perdi, e nesse triz estaria a minha vida toda perdida também.
Completei uma década mais e, contra todas as expectativas — minha incluída —, não envelheço ao ritmo a que devia. Começo a acreditar piamente que os meus pais me registaram cerca de dez anos antes de eu nascer, num qualquer dia em que ainda nem sequer se conheciam um ao outro. Ou então, sou aquele elemento que todas as famílias têm, que é o-que-bateu-com-a-cabeça-no-balde — só que a mim calhou-me o balde do elixir.
Fartei-me de Pilates, dizem as bocas que foi porque Pilateiro saiu de cena, mas ó que não, simplesmente acho que é demasiado parado; assim, voltei à dança.
Descobri que sou alérgica aos amendoins porque me nasce uma borbulha pequenina no dia seguinte, cada vez que me amando a um pacote (chiu) dos grandes.
O post de que mais gostei? Gostei de muitos, a minha modéstia não me permite escolher um só. Cada vez que penso nisso mais a sério, é o do cão que me vem à cabeça. Ou o do pai em cadeira de rodas. Sou demasiado drama queen para escolher um post cómico, mas adoro todos os que escrevi. Mais uma vez, não inventei nada do que relatei, a minha vida é que dava um filme indiano.
Fui ao cinema, fui ao teatro (grande Zé Pedro, nem te homenageei como deve ser), fui a espectáculos de ballet e a concertos. Li pouco, li muita BD, escrevi muito, e muito pior do que já um dia escrevi. Sem falsas modéstias, que eu não sou disso — não sei se deu para perceber lá para trás.
Quero, exijo ao cosmos, sinceramente, que todos tenham um 2017 memorável no bom sentido. E que venham muitos mais.
Haja saúde, môres.