24/12/2016

Eu queria imbuir-me do espírito

Mas não está fácil. De entre mil afazeres que quase não me deixaram tempo para respirar, este ano logrei empurrar as prendas — não literalmente — até quase à antevéspera do exacto momento em que é suposto entregá-las. Em plena gripe e pico de trabalho, enfiei-me no shopping num daqueles dias e horas proibitivos, em que todos os factores not se conjugavam: Dezembro, depois de almoço, dia de jogo daquele que só me dá alegrias. Consegui sair viva, e, embora mais rica em termos antropológicos, em termos financeiros um tudo nada menos. 
Está aberta — e espero que em breve fechada — a época do ano em que me assalta um fervoroso desejo de beijar os pés dos lojistas que me embrulhem as m. que eu compro. Não sei se ando a comprar o papel errado, a fita-cola errada, ou se o erro está em mim, mas fazer embrulhos está a tornar-se um programa épico ao nível da motricidade fina, que só não tento remediar com treinos intensivos e ou terapia porque, conforme já devo ter dito lá para trás, isto é só uma fase, e ai de quem me venha com a léria de que o Natal é quando o Homem quiser, que eu mordo. Se assim fosse, ainda era menina para me meter numa acção de formação e dar cabo do handicap, quem sabe acrescentando uma alínea ao meu curriculum vitae com mais essa valência. Não sendo, deixo-me estar como estou, hei-de comer doze passas daqui a dias a pedir que me saia o Euromilhões, e nessa altura arranjo quem me embrulhe (não literalmente, também). 
O meu corta-fitas não corta a fita-cola. Tem uma lâmina poderosíssima, capaz de decepar dois dedos, ou degolar um cavalo, mas lá a fita é que não. O problema pode ser ela, e não ele, uma vez que aquela fita-cola em particular estica como um elástico, mas cortá-la em pequenos pedaços é que já não é possível. E depois, não cola, fazendo claras injustiças ao próprio nome. Por outro lado, o papel que tenho em casa, não sei se é encerado (?), oleado, ou simplesmente de má qualidade, pois desliza e faz desvios drásticos quando o manuseio, pelo que tudo redunda num enorme desastre de embrulhos sem nexo. Para finalizar (embrulhos nunca finalizados), não tenho fita de laços, o que leva a que todos os meus embrulhos pareçam encomendas de correio com uma decoração pseudo-natalícia. Também não me lembrei de adquirir etiquetas, para distinguir os meus pacotes (chiu), o que terá como consequência a cegada do costume, que sou eu, em plena consoada, a puxar pela que me atraiçoa todos os dias, incapaz de me lembrar do que é para quem.
Também me irrita um bocado não ser capaz de presentear todos os filhos com prendas de valor igual. Longe vão os tempos das três Bratz + avião da Playmobil, e ficávamos todos felizes a cantar jinguélbel. Ninguém reclama, na verdade, mas eu é que fico mal comigo mesma. 
Em compensação, e talvez por isso, para as amigas vai a eito: compro meia-dúzia (ou menos, que acho que tenho menos do que seis amigas, mas ficava aqui melhor esta expressão — numérica) de qualquer coisa, todas iguais, e já não tenho complexos de desequilíbrio (mental). O mesmo faço com os sobrinhos. Estou mesmo a caminhar a passos largos na conquista oficial da categoria de Tia das Cuecas: desde luvas a cachecóis, passando por cintos, já corri todas as possibilidades, pelo que me falta apenas o patamar Cuecas, que penso atingir para o ano que vem. 

Não sei se leram isto tudo. Eu confesso que não. 
Na verdade, vinha aqui para desejar-vos a todos (deixem-me chamar-vos leitores só por uma vez, isso faz-me içar numa outra escala só por um bocadinho, vá lá...), 

UM NATAL MUITO AZUL

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