12/12/2016

Eu não tenho conserto

Fui ver John, Elton John. Cheguei meia-hora antes do espectáculo, assim como outros dez mil. À minha frente, só para entrarem na porta de acesso aos balcões, encontrava-se uma fileira com o comprimento de duzentos metros de gente, que percorri a passos titubeantes, porém decididos, até lhe atingir a ponta. Estava, como todos os milhares, orientada por uns seguranças que hasteavam o braço direito, de frente para o povo, bramindo "Todos os tipos de balcões é à direita!", logo a mim, que tenho a lateralidade tão bem definida que, quando me dizem para a direita, voltados para mim de frente, é como se me dissessem Isto é encarnado!, mas vá lá que fui na mesma, encarneirada com a multidão. Lá chegada, dei o meu pequeno espectáculo de humor, um bocado para ir aquecendo as hostes, exclamando "Eich, granda bicha! Nunca enfrentei uma bicha tão grande como esta!". Foi bonito de se ouvir (as gargalhadas dos presentes). Faltavam dez minutos para a hora e a dita bicha não avançava nem à força de rezas, o que me leva a dar nota negativa à organização do evento. Valeu-lhes-nos que o povo é sereno (mas não é parvo), e o facto de a média etária andar na casa dos entas — tudo jovem, se olharmos pelo prisma terciário etário. Depois de ter tido que arrumar a sala, à chegada ao balcão (o pessoal senta-se aos casalinhos com uma cadeira de intervalo, o que impede que duas pessoas se sentem lado-a-lado, pois deixa imediatamente de haver dois lugares seguidos), solicitando a uma fila inteira que se chegassem uma cadeira para a esquerda, lá nos sentámos os dois. Quanto ao concerto, o que tenho a dizer? Foram duas horas e meia. A primeira hora foi um tédio, pois Eltoninho quis promover o seu novo álbum, e pareceu-me a mim, por mera constatação de facto, que estávamos todos a dormir — sala fria, tudo quieto e calado, a ouvir sucessos que ainda não são sucesso, lá porque são desconhecidos. O artista não deve ter percebido que a roda já está inventada, que ninguém consegue ser melhor do que si mesmo, e que aquele público queria era ouvir hits batidos e conhecidos. Fora "Daniel", nada mais houve, até que um passarinho lhe deve ter soprado ao ouvido que Linda Blue se encontrava entre os presentes, expectante por "Yellow brick road", e então deu-se o momento em que ele deu início à bela melodia, acompanhando a grande blogger ao piano.


Um nico mais tarde, a pessoa retribui-lhe a fineza, entoando o refrão de "Crocodile rock", uma vez que ele não levara o coro feminino com ele.

   

Quando acabou, fui para casa, ainda a sonhar com as sandes de leitão que anunciavam no percurso da bicha da entrada, mas que, por qualquer razão que desconheço ainda agora, não me apeteceram no momento.
Não foram aqueles e outros apontamentos musicais e, numa escala de zero a cem, ter-lhe-ia dado vinte. Assim, levou um cinquenta. E já goza.

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