17/12/2016

❤❤

A expressão coração das mães, ouvia-a eu à minha, quase sempre para nos dizer 
o coração das mães não se engana
ou 
o coração das mães não tem remédio.
Não era coração de mãe que lhe ouvia. Era o coração das mães.
E nós entendíamos a forma que achávamos correcta do que queria dizer com ela, que era a de que o coração das mães sabe sempre quando é necessário entregá-lo a um filho, fazer dele um abraço, o aconchego do lençol, o anteparo da lágrima ou o receptáculo da gargalhada. 
Só mais tarde, muito mais, é que percebi o significado pleno da expressão o coração das mães: as mães têm não um, mas dois corações. Por nascerem não-mães, vêm com um coração, que é aquele músculo cardíaco que bate e pára, e depois volta a bater, comandado por emoções e sustos e desgostos sem remédio, tragédias que assolam a vida dos filhos na fase em que a mãe não pode dar tudo, por já ter dado, e nada pode fazer contra a borbulha na véspera de uma festa, ou porque ele não gosta de mim, e, lá está, a mãe é tão impotente diante daquele grande desamor, apesar daquele seu enorme amor.
Então, é isso: depois de mães-mães, às mães nasce-lhes um novo coração, o mesmo também que pulsa e vibra e explode e se ilumina em festa com vitórias e conquistas, o mesmo que se amachuca até à sua infinitésima expressão com perdas e obstáculos. E é, ainda e sempre, o que bate, incondicional e eternamente, aquele que se faz em abraço, aconchego do lençol, anteparo da lágrima e receptáculo da gargalhada.
São dois, afinal. E hoje sei que era a esse outro que a minha mãe se referia quando falava n'o coração das mães. 

2 comentários:

  1. Pois é, muito atreito a arritmias...

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    1. Mas aguenta-se, forte. Nada a ver com o outro, o músculo que toda a gente tem...

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