29/11/2013

Don't smile to strangers

Vai haver um dia em que eu vou conseguir o meio-termo óptimo entre ser a antipática de serviço e a chateada porque já alguém abusou da minha confiança. Ou seja: eu sou simpática, naturalmente simpática, excessivamente simpática. Arreganho a taxa a toda a gente, sou incapaz de dar bons dias sem um sorriso, não sou mulher de não sorrir a uma simpatia, digo coisas agradáveis e jamais atiro a primeira pedra. Jamais. Quando respondo de forma brusca, é porque alguém já me pisou os calos. Mas todos os calos, não tenho cá calo de estimação. Eu preciso mesmo que me pisem o do mindinho, depois o do anelar, depois o do médio, e assim sucessivamente. Ou, se preferirem, podem começar pelo dedão. Só quando já me pisaram todos e eu denoto que, eventualmente, vão começar a segunda rodada, é que sai coice. E sou estúpida de todo, porque aguento tanto as pisadinhas, uma a uma, de tal modo que, quando me chego a indignar, já vou tão farta para a guerra que só me saem brutoidades. Também (ainda) não sou bem uma ameba proteus, porque sou capaz de me revoltar logo à primeira se me apercebo que não haverá segundo round, como outro dia na Primark, em que o engravatadinho das camisas me disse que não trabalhava ali. A probabilidade de o voltar a encontrar é tão ínfima, designadamente porque, ainda que lá trabalhe, da próxima que eu lá for, ele, efectivamente, já não trabalhará lá, que me deu logo ali para responder torto, à cobarde. Mas a regra é aturar desaforos dia após dia, ano após ano, até ao dia em que impludo, depois expludo e sai merda em todas as direcções. Na verdade, detesto ser tão querida. Há quem confunda isso com falta de carácter, ou então - pior, genitias! - com falta de inteligência. Não, cães, é a minha forma de me dar bem no vosso planeta de hipócritas, ou a minha pequena hipocrisia. Mas também porque gosto genuinamente das pessoas. Gosto de as tratar bem, e gosto de ser bem tratada. Já me chamaram miss simpatia, submissa, já me acusaram de dar demasiada confiança às pessoas e depois me arrepender. É que não. Eu não me arrependo nunca, e de nada. Gosto de pessoas, trato-as bem, se me tratam mal, saio de cena e tchau, foi bom para mim, foi bom enquanto durou, mas agora eu quero mais é ser feliz e tipo longe. Não sou de outra maneira, nem sei ser e, agora que vou para velha, não vou aprender - mesmo. Agora, há limites para isto. Eu às vezes pareço a Barbie no filme do Toy Story, naquela cena em que já lhe dói a cara de tanto sorrir. Só me falta ser loira.


Ontem saí do carro e dirigi-me ao parquímetro que estava mesmo ao pé. Ouvi uma voz, vinda do prédio em frente do parquímetro, de um homem que me disse que aquele parquímetro estava avariado. Agradeci e já ia a caminhar para o seguinte, vai ele e insiste na abordagem: "Há ali outro, ao fundo". Voltei a agradecer - porque eu sabia e até já ia a caminho, meu melga - e devo ter sorrido. Isso já deu ao homenzinho o direito de dizer uma anormalidade qualquer acerca do meu corpo. Eu ia de sobretudo. Era praticamente uma burka. Eu só sorri. Não me despi toda nem lhe ordenei que me possuísse logo ali, naquele passeio cheio de cocó de cão. Também já experimentei outro tipo de abordagem, que é a de usar a cara fechada e o ar sombrio, não responder a nada, não ser bem educada. Mas, para este tipo de pessoas, essa atitude dá logo oportunidade a uma deixa à Ribeirinho e Vasco Santana: "Então adeus, ó antipática!". PQosPaT.

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