Vi-os primeiro de costas, caminhando pela sala de espera dos tratamentos, as mãos dadas com os dedos entrelaçados, havia um amor na junção da pele dos dois,
parecem namorados
mas alguma coisa me disse que talvez mãe e filho, uma diferença pouca,
se calhar teve-o com quinze anos
E depois, tão parecidos, os namorados nunca são parecidos, as mãos iguais que não se largaram, e então senti que estavas ali comigo, as nossas mãos iguais e dadas, entrelaçadas, nós, que somos mais de abraços, o teu abraço que vem sempre, o teu abraço que é sempre o primeiro, naquele dia “carcinoma”, veio logo, inteiro e meu, também já vi pérolas de vidro a saírem dos teus olhos desde aí, tu lembras-te de eu te agarrar o braço já adolescente e pedir a brincar, na rua, “Vamos fingir que somos namorados?”?, e tu “Oh, mãe…”, a soltares-te sem convicção nenhuma, olha, hoje lembrei-me de nós naquelas duas mãos dadas, sei perfeitamente que ali estavas também, como estás há exactamente vinte e dois anos abraçado a mim. Meu pequenino, meu amor tão grande.