26/08/2022

Mal-haja

O homem que está atrás do balcão embirra comigo porque sabe que eu o detesto. Também pode ser ao contrário. Outro dia, precisava de uma informação, estava cansada de tanto esperar, e aproximei-me do vidro. Ele estava sentado a uma secretária, olhou para mim e ignorou o meu “Boa tarde, precisava de uma informação”. Chegou uma mulher com uma senha na mão e ele desata a atendê-la. Claro que protestei que estava primeiro, mas o inflexível disse que ia atender primeiro a senhora que tinha senha. “Ah, entendi. Eu estou invisível e não sei. Posso fazer os gestos que me apetecer? Porque deduzo que não me viu a fazer-lhe sinal que queria uma informação”. Afinal, eu só queria saber [onde raios] existia uma casa-de-banho, “já não digo limpa, porque isso me parece impossível, mas, ao menos, em que a porta feche”. 

Não gosto de mim agora. A fase da raiva nunca passou e, aparentemente, nunca passará. Tenho vontade de bater nas pessoas intransigentes. Nas pessoas, ponto.

Uma mulher foi até ao vidro do cumpridor, não levava senha, pediu muitas vezes “por favor”, “desculpe lá”, sempre nuns sorrisos, todo um exagero que pensei que fosse ajoelhar-se, e ele só lhe pediu o cartão dos tratamentos. Mais três “obrigada, desculpe lá” e ele, “Não tem de quê”. Ela, por três vezes — que eu contei —, “bem haja”. Também tive vontade de lhe bater, a subserviência é tão ridícula e tanto há quem a confunda com educação ou simpatia.

Depois ela sentou-se atrás de mim ao telefone e disse mais duas vezes “bem haja” — que eu contei —, à despedida, antes de desligar a chamada.

Eu não quero ficar assim.