08/04/2019

Já não bastava o coice que me autoinflingi nos quartos traseiros

Estava aqui a degustar um iogurte simples com açúcar e uma banana - das poucas iguarias que são permitidas a uma pessoa nas minhas circunstâncias -, após ter almoçado um puré de cenouras composto apenas por cenouras e duas colheres de arroz branco composto apenas por arroz branco, quando me pus a pensar nos zezinhos. 
Os zezinhos foram dois bonecos de borracha que a minha irmã e eu tivemos, oferecidos por alguém, talvez a mãe do primo Zeca, e que, isso sim, é certo, por serem muito parecidos com ele, foram ambos baptizados com esse nome, sem maiores buscas por originalidades ou diferenciações. Os nossos zezinhos eram iguaizinhos um ao outro, apenas diferindo nas cores do cabelo - o da minha irmã era loiro, o meu era ruivo - e do debrum do almofadão, um azul, o outro verde. De resto, estavam ambos deitados de lado, com a cabeça pousada no almofadão debruado, um dedo (creio que do pé) na boca (o que muito me aborrecia, pois não conseguia pôr chucha nenhuma ao meu) e a fralda branca a tapar as partes pudendas, mas que, apesar dela e sob ela, se presumia a presença e prova de um sexo masculino. Enfim, nós demos por garantido que os zezinhos eram dois meninos e, se não havíamos perdido tempo a encontrar-lhes nomes que os diferenciassem, menos ainda nos preocupámos com o género dos bonecos. E, já que eram integralmente de borracha, almofada incluída, entendemos por bem fazer deles nossos brinquedos de banho, que, na época, era comunitário, quantas vezes não com a cadela também, já que a alternativa que apresentávamos era a de não nos lavarmos de todo. Ora, os zezinhos tinham um pipo atrás das almofadas, que era por onde entrava água, que depois saía de esguicho. Conforme é sabido comummente, nada mais fantástico para uma criança metida numa banheira do que um boneco que esguiche. É claro que, à força de tanto entrar e sair água dos corpos dos zezinhos, um dia mais tarde encheram-se de bolor e foi-lhes o fim. Acho que se desfizeram, a borracha tem esse grande sentido de oportunidade. 
Assim estou eu há três dias, a esguichar por cima e por baixo tudo o que ingiro, seja água ou outra coisa qualquer mais sólida (mesmo que seja gelo, portanto), e só não apresento uma imagem mais gráfica de todo este cenário porque, parecendo que não, ainda sou uma senhora, e ele há limites. No entanto, um pensamento ilumina-me as horas mais negras: "É desta que fico magra". 
Vá lá a ver se não me encho de bolor e não me desfaço em pó.

7 comentários:

  1. Ahahahhaahhaha
    A senhora é formidável. Pudesse ver a minha figura, a rir à gargalhada, e ia ver que há coisas piores que chiar fininho.
    Ahahahah, já tentou o imodium?


    Beijinho

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    1. O Imodium, disse o médico que só é bom na televisão. A minha filha tomou um único e passou de um extremo ao outro, com prisão de ventre. Estou a tomar uma droga que cheira a cocó e sabe a vomitado, mas é só uma vez por dia. Isto é uma nivela por episódios...

      Beijinhos, noname

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  2. Eu e aminha irmã também tivemos cada uma de nós um boneco chamado Zé. Acho que se chamava assim porque eu era terrivelmente trapalhona a falar e não conseguiria ter um boneco com um nome complicado.
    Ainda existem, ambos carecas. Apesar da semelhança do nome não esguichavam ....
    As melhoras e espero que não te desfaças como o Zézinho

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    1. Os nossos tinham uma espécie de caracol no alto das cabeças. Não sei se sonhei com isto ou se vi mesmo, no Museu do Brinquedo em Sintra, um zezinho igual aos nossos. Nunca deve ter ido à água, para sobreviver tantos anos...
      Obrigada, Ana. Isto vai, aos poucochinhos. Também não quero desfazer-me, não sou de borracha... :)

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  3. Nesses casos extremos já me recomendaram dimicina, seguida de ou acompanhada de ultra levure. O imodium pode não ser boa ideia, porque evita uma, vá "purga" que pode ser necessária.
    Estive nesses propósitos no ano novo de 2018, e passei uma semana a chá, pera cozida e arroz de cenoura :/
    As melhoras!

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    1. Pois, eu pus uma cruz no Imodium assim que vi a rapariga contorcer-se com prisão. Estou agarrada a um megalevure que acho que é primo do outro.
      Também te digo que, embora ande há 5 dias a comer pasta de arroz com arroz, está a ser um detox de dar gosto!
      Obrigada :)

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