Sabia que ia ver homens a dançar ballet com tutu, collants, em pontas. Pontas? E eu que pensava que isso era anatomicamente impossível, e que só Nureyev, por qualquer razão — excepção à regra, configuração dos tornozelos e pés diferenciada, treino intensivo — conseguia, eis que se me revela diante dos olhos um corpo inteiro de ballet, exclusivamente constituído por homens, em que todos faziam pontas.
Homens em pontas, com pêlos nas axilas e no peito, a dançar o Lago dos Cisnes, não é uma palhaçada: apesar dos momentos de humor, das falsas quedas, dos falsos enganos, do non sense de uma bailarina a comer fruta a meio da actuação, homens em pontas, com pêlos nas axilas e no peito, a dançar o Lago dos Cisnes é um assunto muito sério de técnica e profissionalismo, de muitas horas de treino, esforço, sacrifício e dedicação, mas também de uma gigantesca boa disposição e descontracção perante os pré-conceitos, os conceitos e os preconceitos. Não são drag queens, não são travestis, não são transexuais: são homens, com todos os caracteres masculinos à vista [sim, é estranho, mas está lá, indisfarçado, por baixo do tutu], a dançar ballet clássico como [e lá vem a machista de serviço] muitas bailarinas jamais dançarão. Um corpo de excelência, em que a graciosidade fez muito pouca falta, diante de semelhante profusão de talento.
E também, por uma vez, uma plateia — sala cheia — constituída por menos bailarinos profissionais e alunos de dança, e mais gente que gosta de um bom espectáculo, além de genuinamente bem humorada. Estive em casa durante duas horas e meia.
E também, por uma vez, uma plateia — sala cheia — constituída por menos bailarinos profissionais e alunos de dança, e mais gente que gosta de um bom espectáculo, além de genuinamente bem humorada. Estive em casa durante duas horas e meia.
por muito treino e técnica que haja, a paixão pela dança é que lhes confere aquele nível de excelência.
ResponderEliminarbeijinhos, Linda.
Tal e qual. Nem a pouca graciosidade lhes fez falta, porque that was not the point
EliminarBeijinhos, Mia
Talento sem género. Apesar do sempre intrincado espírito da discriminação:“coisa de mulherzinha”. Como se a dança, aliás como de resto qualquer disciplina da arte, não carecesse em igual medida da graça e da leveza, do vigor e da pujança na expressão da excelência.
ResponderEliminarAbraço
Mesmo os bailarinos que interpretam papeis masculinos, são quase sempre conotados como homossexuais. And so what? Haverá homossexuais em todas as profissões. E estes em particular, sendo-o ou não, são profissionais de primeira qualidade. E isso chega.
Eliminar:)