03/09/2016

Eu tenho problemas com tudo # 14

Este post devia chamar-se

Eu sou aquela pessoa a quem nunca, em circunstância alguma, deves chamar malcriada.

Era uma vez uma turma de faculdade, que queria comemorar uma data de décadas sobre a conclusão do curso. Vai daí, uns quantos voluntários deram corpo à tarefa e o corpo ao manifesto, e engendraram um local, apontaram baionetas para uma data, e depois as sinergias para enviar mails para todo o povo sobrevivente. 
(Fora de brincadeiras, aquela minha turma tem uma malapata qualquer, porque já morremos para aí dez por cento, só nos primeiros quinze anos após a conclusão. Cada vez que fazemos um jantar de turma, despedimo-nos uns dos outros com sincera pré eterna saudade, porque já sabemos que, no próximo, já faltarão mais uns quantos.)
Agora suponhamos que a pessoa se desleixou da resposta. A minha vida não é só aquilo, eu tenho afazeres: trabalho como uma louca (mesmo, só me falta usar um colete de forças), tenho uma mega-família, e tenho um blog. Não há tempo, propriamente, para mails sociais e para encaixar no esquema mental um jantar, assim vindo do tudo-nada. 
Um dia, um dos organizadores, mandou-me um mail a pedir uma resposta ao assunto. Ora, eu estava de férias, na praia, mal via o ecrã de chico-smart, mas questionei, delicadamente, "Quanto é que isso custa?".
E vem de lá uma bordoada, que eu nem consigo repetir. Ora, eu gosto muito de nadar, mas ainda não nado em dinheiro, e digamos que declinei.
Não contente, descontente, insatisfeito não sei se por eu me negar a participar em tão feliz ocasião — em que toda a gente aparece resplandecente em termos profissionais, ultra-bem na vida e mais que realizados, com um filho único que é um orgulho parental, ou vá lá que dois, panças e carecas por todo o lado —, mas a verdade é que me manda um mail de resposta em que me chama




...



...


malcriada
Pronto. 
Isto, vindo de uma pessoa que desconhece de todo em todo de que lado é que fica o guardanapo. E que é capaz de rachar uma conta de restaurante numa espelunca em Espanha, três dias depois de lhe ter sido oferecido um jantar no Pássaro Azul. 
Vai levar tanto tau-tau.
E não é desse. Livra.

(Entretanto, por coincidência ou não, dois dias depois do meu não, o jantar foi adiado um mês, para que todos possam comparecer. Explico, talvez através de BD, que daqui a um mês a minha vontade de gastar aquilo tudo num jantar folha-de-alface-mais-azeitona continua a ser zero?)

2 comentários:

  1. Anónimo5/9/16

    És um espectáculo! Sinto-me normal quando leio os teus textos, coisa que raramente acontece na vida de todos os dias :D
    Paula

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    1. Obrigada, Paula. Às vezes, sinto-me tão out of the box, que, quando alguém me diz uma coisa assim, convenço-me de que, afinal, sou normalíssima :D

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