14/09/2021

O novo anormal

Vamos imaginar que uma pessoa humana se dirige a uma filial do “seu” banco, ou daquele onde deposita, senão as suas esperanças, pelo menos as suas parcas economias, com vista a deixar lá umas notas e, assim, reforçar a possibilidade de a instituição bancária lhe abafar uma módica quantia mensal justificada por, vá, despesas de manutenção, seja lá o que isso for. Então, entra, dirige-se a algo que antes foi um balcão de atendimento ao público, mas que se transformou, num passe de mágica — ou terá sido doble? —, na secretária de quatro pernas de alguém que está supinamente aborrecido com a vida no seu geral e com a entrada de uma freguesa no seu particular, deseja bom dia e confessa que pretende efectuar um depósito em numerário. Que não, que já não fazem semelhante operação, que agora é ali naquelas máquinas. Plantada a dita coitada diante das mesmas, verifica, um nico atónita, que se trata de duas colunas siamesas, sendo a da esquerda muito parecida com um vulgar multibanco e a da direita com um triturador de papel, mas em grande. Pondera em que ranhura há-de enfiar o cartão, que descobre na coluna esquerda, mas não arrisca. Há um botão touch a dizer qualquer coisa como “fazer como na aplicação”, toucha aí e não acontece nada. Depois mira a trituradora, equaciona enfiar ali as notas e seja o que Deus Nosso Senhor quiser, mas debate-se interiormente com a possibilidade de a massa lhe sair feita em esparguete por algum buraco invisível, e demove-se. 

Imaginemos que a cena ainda durou o quê? Vá, entre três e quatro minutos. Sem manual de instruções, sem que o funcionário desalapasse a peida da cadeira (Facebook oblige), sem qualquer orientação vinda do Além, ala que se faz tarde, mais vale meter o conteúdo dos bolsos no colchão, que ao menos a humana sabe como fazer e não lhe come comissão nenhuma. Como antigamente, acrescente-se.

2 comentários:

  1. Não meta o dinheiro no colchão.
    Hoje de manhã, vindo do raio que o parta, tinha um rato dentro de casa.
    Imagine que o rato resolve ir até sua casa e lhe devora o colchão e as notas.

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    Respostas
    1. E a vontade que dá, Magui, mas (ainda) não :)
      Eu metia logo queijo (ou chocolate, que eles adoram!) dentro do colchão, para me pouparem o dinheirinho (literalmente) :D

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