quis calçar-me uns sapatinhos todos rotos e eu não deixei. Tinha acabado de chegar e vinha cheia de excesso de informação, como sempre, mas, naquele dia, eram gritos que saíam de toda ela: leggings de flores garridas, top rosa salmão e casaquinho rosa cerise em cima, brincos e óculos de sol de plástico vermelhos, e a máscara, isso é que eu não perdoo, a máscara bordeaux, cirúrgica, descartável. Expliquei que os sapatinhos, com que ela pretendia vestir as minhas sandálias para as proteger do vírus, tinham furos dos saltos dos sapatos de outra mulher, e que, por conseguinte, aquilo era uma falta de higiene. Ficou maluca, destravou a língua, argumentou que os lava com lixívia e álcool-gel, que os manda vir do estrangeiro, que, caso tivesse que dar um par a cada pessoa que ali entrasse, teria que acrescentar cinco euros à conta. Depois fiquei maluca eu, respondi-lhe que essa lavagem fica mais cara do que comprar pares novos, que se vendem no chinês de Alvalade, e que, para a próxima vez, levo um par comprado lá por mim.
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