02/10/2016

Fui ao cinema, mayday

O cinema engorda-me. Tenho que evitar a mera aproximação do recinto, pois que minhas papilas desatam a salivar derivados às pipocas. Não sei como é que faço aquilo, mas estou ao balcão, aquando da compra dos bilhetes, e já estou a dizer pi-po-cas sem que o meu cérebro tenha processado o grito NÃO!. Depois peço pequeno, como se o tamanho do pecado o diminuísse em consequências, e não devesse vergastar-me imediatamente, em alternativa à ingestão da comida de galinha, ou colocar-me um cilício enquanto assisto ao filme.
Também tenho um problema por resolver com as apresentações dos filmes — que, somadas com a publicidade, vão a meia-hora do tempo que permanecemos sentados na sala —, porque me apetece ver todos. "A rapariga do comboio" está na calha, "Ajuste de contas" idem. Passo "O inferno de Dante", porque hoje de manhã já o vivi no ginásio, e chega de esquizofrenias: era um homenzinho com cabelo à fornique-se, ou à genital masculino, todo tatuado pescoço abaixo, do lado direito um rosto de Nossa Senhora em tamanho quase real, do esquerdo ele próprio, e num dos braços um Cristo. Cristo!
Fui ver "Sully", com o Tom Hanks, que anda a especializar-se em comandantes traumatizados, mas muito bem especializado. O filme é excelente. Ide ver, por vossas saudinhas [não me esqueci do assento no U, não]. A mim, além da habitual segunda leitura que faço de tudo e de mais alguma coisa — neste caso, a hipocrisia norte-americana para com os seus heróis —, ainda me serviu de catarse para um dos meus maiores medos, pelo menos dos reconhecidos internacionalmente: um acidente com um avião, ou pode lá haver melhor terapia de choque para uma aerodromofóbica? Também já papei todos os episódios de "Mayday, desastres aéreos", e mais os outros que o National Geographic dá. Sei tudo o que se deve fazer, em todas as ocasiões de pânico, a bordo de um avião (tipo gritar e proferir lugares comuns como "Eu não quero morrer!"). 
Por falar nisso, nota negativa para a tradução e legendagem, que nem uma única vez utilizou o verbo amarar. O original to land foi sempre traduzido para aterrar e landing para aterragem. Ora, cá a malta tem amarar e amaragem para as "aterragens" no mar — ou no rio, como era o caso. Só não temos "arriar", (não confundir com arrear — a giga, ou a poia, por exemplos), que nos perdoem os americanos a riqueza da língua, contra a pobreza espiritual.


4 comentários:

  1. Eu também tenho um problema com as pipocas :P é o que mais gosto no cinema, na verdade. As coitadas raramente sobrevivem até aos primeiros 25% do filme ahah :P
    Também gostava de ver o filme "A Rapariga no Comboio" porque li o livro e adorei ;)

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    1. Foi o timing das minhas, coitadinhas :)
      Mas a rapariga morre ou não? Não aguento esperar! :D

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  2. Pipocas salgadas, always, às vezes mistas :P
    O filme é muito bom.

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    1. Não posso, sou hipertensa. Antes gorda do que morta :P
      Bota bom nisso.

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