20/09/2015

Minha querida passarinha,

afinal, só sofria de unhas compridas. Vi-a arfante e inchada das penas, pousada no mesmo poleiro durante horas (que eu desse por isso, pelo menos das 8:30 até às 15:30), temi-me por ela e achei que estava em pré-morte. De todas as vezes que fui lá conversar com ela, mal me respondeu, com um daqueles piares sumidos que denunciam tristeza, dor ou mal d'amour, que, no fundo, são uma e a mesma coisa. Ocorreu-me, então, que podia ser efeito das unhas compridas, e eu, conforme já aqui disse sobejamente, sou manicure de pássaros e pessoas frágeis, que, no fundo, também são uma e a mesma coisa. E resolvi que era melhor aparar-lhe as garras, enormes. Pousei a gaiola na bancada da cozinha e fechei a porta, não fosse uma das gatas pensar que era dia de mudar de ração. Meti uma luva de borracha na mão esquerda e essa mão dentro da gaiola. Os dois passarinhos começaram a voar alvoroçados, cruzando-se um com o outro no brevíssimo voo, desenhando X dentro da gaiola. Mas eu apanhei um e fiquei com o peso sem peso na mão esquerda, que tinha a luva (cobardia minha, os meus passarinhos não me picam, nem mesmo quando lutam para se libertar do que os prende. Cada bico-de-lacre pesa seis gramas. São seis gramas distribuídos pelo corpo de um passarinho diminuto). Depois soltei-o e ele voou um bocadinho pela cozinha, feliz e assustado. Se pudesse, dava-lhe liberdade janela fora, mas isso seria a morte dele e a minha tristeza, dor ou mal d'amour. Voltei a agarrá-lo e cortei-lhe as unhas com o corta-unhas, que é com o que corto também às gatas. Pensando nisso por este prisma, sou manicure veterinária, é o que é. Meti o passarinho de volta na gaiola e percebi que tinha cortado as unhas ao que não aparentava estar doente. Por isso, agarrei no outro e repeti a operação, tim-tim por tim-tim, liberdade na cozinha incluída. Coitadinhos, precisam de uma precária de vez em quando. Foi nesse momento que, comparando os dois, percebi que era a fêmea, Bianca, que tinha estado com ar de quem ia morrer dali a pouco — drama queen, a dama, não achou melhor modo de chamar a atenção para a necessidade de tratar das unhas, do que ameaçar que se morria em breve, caso não lhe arranjassem uma manicure, já!. Neste caso, uma pedicure.

Está mais viva do que eu.

4 comentários:

  1. Drama queen :P adoro essa expressão!

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    1. A tipa deixava-se morrer, de unhas gigantes! :D

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  2. Olá LP,
    Tudo bem feito.
    E limar ?
    Apenas faltou no final o Betadine !
    Tão fundamental como o corta-unhas !
    Adoro bicos de lacre !
    Bom domingo !
    Beijo,
    José

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    1. Não limei, era suposto? As perninhas são tão fininhas, tenho medo de lhas partir... e aquilo de sentirmos o coraçãozinho desgovernado na nossa mão, a mim tolda-me o raciocínio...
      Beijo, bom domingo.

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