18/09/2015

Habitantes do mesmo planeta

Incompreensível como é que, precisamente o rapaz, o único macho que pus no mundo, é o mais parecido, não, corrijo: é o igual a mim. 
Isto passou-se no dia em que fomos juntos e sozinhos comprar a prenda de anos da irmã mais velha. Queríamos uma loja específica, que nem um nem outro sabíamos muito bem onde ficava. Mas tínhamos uma ideia — algures perto do centro do Centro. 
Desaguámos no monstro comercial como dois ETs que tentam passar despercebidos no meio de uma multidão de nativos.
Começámos a percorrer os arruamentos todos, um a um, sem sabermos muito bem como encontrar a loja, que mal localizávamos na nossa lembrança difusa e na nossa imaginação fértil comuns. Nem a frequência com que vamos àquele espaço nos pôde valer. A loja sumiu-se do mapa do centro, do mapa mundi ou só do nosso mapa. Eventualmente, teremos percorrido o mesmo arruamento duas vezes e algum dos vários outros, nenhuma. Achámos que já tínhamos dado a volta toda e então eu dei-lhe o braço, porque começámos a passear, totalmente alheios ao monstro e alheados dos indígenas, esquecidos do que ali nos tinha levado, conversando cá sobre as nossas vidas, despreocupados do que poderíamos parecer, por nos sermos. Podia alguém pensar-nos namorados de amor sem idades, condenando-o a ele por oportunista e a mim por depravada, mas nenhum julgamento possível — ou impossível, basta olhar para nós e torna-se evidente que nos pertencemos — nos tirou um segundo e por um segundo a felicidade do passeio, nem desfez o laço dos braços que nos enlaçaram nele.

2 comentários:

  1. É tão boa, essa cumplicidade que nos faz alhear de tudo!

    Beijos, oh Lindinha. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Adoro. Isso faz-me mesmo feliz :)

      Beijos, Mary :)

      Eliminar