16/10/2014

O que nos distancia são dez ou doze (centímetros e quilos de resolução emocional)

Eu não desisto de tentar perceber a natureza humana. Ainda que me digam que o que vou descrever pode ser um caso isolado e, portanto, apanhei a pessoa, exemplar único no mundo, ainda por cima, num dia não, eu digo não. Já cá ando há anos suficientes para saber que isto é um estilo, é uma seita, é um grupo, uma multidão: as gajas mal resolvidas da p. da vida.

Senão vejamos: entro na GANT (ai desculpem, não é publicidade, é que eu vou dizer mal. Posso dizer mal no meu blog que praticamente só eu leio, ou já me vão soltar os cães? Ai que medo) do Colombo, com a intenção de comprar uma camisa de homem para prenda de anos. A minha generosidade não tem limites, assim como a minha ingenuidade. Vou preparada para um choque económico, uma vez que, ali dentro, tudo é caro. Tipo tudo.

É quando chego ao centro da loja que ela me surge do nada, com um boa tarde, que retribuo. Isto é importante, para se perceber (ou eu perceber) onde foi que eu errei. Antes que me fizesse a pergunta que me enerva, disse-lhe a frase que a enervou a ela: "Preciso da sua ajuda". A tipa colocou logo as sobrancelhas extremamente depiladas quase ao nível da raiz do cabelo. Ainda ponderei se terei conjugado mal algum verbo. Ou se, caso tivesse entrado na loja a sentir-me mal e tivesse dito aquela mesma frase, a atitude dela seria a mesma. O que as irrita é que eu tenho esta aparência de quem vende saúde. Caguei nela. Descrevi o que queria - tipo, cor e tamanho. Não tinha muito o que enganar, só havia dois modelos que obedeciam aos meus parâmetros. É claro que Murphy determinou que ela fosse buscar o que eu não queria, para que os níveis de tensão mútua se intensificassem. Impassível, esclareci-a que era do outro modelo que ia à procura. As sobrancelhas dela raiaram o topo da testa, gigante, por força de um rabo-de-cavalo agarrado à cabeça a ponto de lhe repuxar a cara toda para trás. Ficou contrariada, a pobre. É que preparava-se para me vender uma camisa de 90 euros (leram bem), mas tinha que ser ela a decidir qual é que eu trazia, sabem porquê? Porque já tinha decidido que não gostava de mim desde o primeiro momento em que eu cruzei a porta. Caguei nela. E caguei tanto, tanta quantidade e com tanta força que comecei a lide. Aprecio quando elas querem tourada, mas ainda não decidiram quem fica no papel da vaca. Equaciono repetir o discurso que já várias levaram, "Está mal disposta? Se eu chegar a comprar o que venho aqui comprar, provavelmente isso vai-se reflectir no seu ordenado, portanto, mude de cara", mas esta pôs-se numa situação de inferioridade que me faz sentir uma cobarde só de pensar em avançar por aí.

- Deixe-me ler a etiqueta. Não gosto de apanhar sustos ao balcão. 

Pá, até estava a ser querida, a brincar e tudo... mas a tipa já me odiava, por ter mais dez ou doze centímetros do que ela, por ter menos dez ou doze quilos que ela, por não ter aquele rabo de cavalo tão colado à cabeça, nem aquelas sobrancelhas tão extremamente depiladas, nem aquelas unhas de gel grosso e roxo, gigantes, lascadas, hard core da Picheleira.

Foi com estes pensamentos pecaminosos que paguei, contribuí para o sustento da antipática, e saí da loja. 

Digam-me: o que é que eu fiz de mal?

Não, digam-me antes: qual é o problema destas pessoas?

Ó pá, não me digam nada. Fonix, é só tormentas o que a boa aparência dá.

8 comentários:

  1. Fónix, a Gant tem funcionárias de unhas lascadas e sobrancelhas hiper-mega-depiladas?

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    1. Tem pois.
      Manias do pessoal que tem manias que é do sul. A ver se no norte admitem uma antipática destas :)

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  2. A Gant do Colombo é uma merda há muitos anos, deixa-me que te diga. Nunca gostei da superioridade com que atendem as pessoas, bem que podem ir apanhar onde apanham as galinhas.

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    1. Olha que concordo.
      Até certo ponto, isso deixa-me mais descansada. Menos uma que sofre de alergias só de me ver.
      É capaz de ser condição sine qua non para a contratação: és mal encarada? Então ficas.

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    2. Completamente. A Gant da Av. da Liberdade já é o contrário, ou pelo menos sempre foi sendo um exemplo de bom atendimento.

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    3. Registei, prefiro andar mais uns metros do que levar com o mau humor de uma desconhecida e ainda pagar para isso.

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  3. Eu prefiro a Quebramar. Tirando uma nojentinha e o mariconço, normalmente tá minado de lascas a atender e simpáticas. E a Giovanni Galli tem uma mocinha simpática, também! (Isto no Colombo...)

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    1. Eu lavo as vistas na Station. Não diz coisa com coisa, mas tem uns olhos lindos.

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