23/10/2014

Se eu não fosse tão boa, era bem menos parva

Não sei se isto acontece com as outras pessoas, mas eu ponho-me em situações, com uma frequência avassaladora, em que me arrependo ainda o processo não vai a meio, ou, pior, ainda nem ele se iniciou. Às vezes dou por mim a oferecer-me para merdas que já sei que me vão custar, mas ofereço-me na mesma, até me impinjo. Chego a arrepender-me antes de me oferecer. Outras vezes, são as pessoas que me pedem alguma coisa, que não percebem os meus sinais corporais "Isso vai correr mal para o meu lado", ou não querem perceber, e então pedem-me para fazer qualquer coisa para a qual eu não estou virada, não me apetece, ou vai-me obrigar a um esforço inútil. Há que pôr a hipótese de eu ser completamente parva. Eu ponho-a, amiúde.

A minha Preta vai participar num workshop de burlesco. Quis levar-me com ela, mas eu não quis ir. Burlesca já eu vou ser daqui a poucochíssimos anos, não preciso de adiantar o processo.

Eu tenho noção que existem vários conceitos errados no parágrafo anterior. Mas não é isso que me traz. 

Aprendi a fazer maçãs do amor à custa de muito tutorial visto no youtube, todas com u sutáki, não pódji mêxê na panéla, tem qui deitá corantchi vêrrrmêlho, tem qui sê em pó, uma receita muito militar. Não pódji quasi nada, viu? 

Como sei que a Preta gosta tanto quanto eu das maçãs doces, vai de lhe oferecer meia dúzia no dia dos anos. Reparem como eu faço por merecer apanhar por tabela mais tarde. Quem me manda ser querida? Chipça penico. E gostou tanto que teve uma ideia que eu até consideraria brilhante, não fora ter que ser eu a realizá-la: quer levar 15 maçãs do amor para o workshop. Vai a parva e diz: "Está bem, eu faço isso". Sou tão estúpida, ando a ver filmes americanos a mais. OK, I'll do it. 

São quinze maçãs do amor, todas envoltas em papel celofane com desenhos a preto, e com um laço de cetim preto cada uma. 

Ai que giro. A sério, acho a ideia gira. Porra, já fui para a retrosaria, para a loja de artes, para o supermercado e para a casa do caraças à cata dos adereços todos. E, cereja no topo do bolo, como não existe papel celofane com desenhos pretos, do que é que a superparva se lembrou? Ah! Brilhante! Caneta de acetato e o papel celofane passa a ter desenhos. Três metros por setenta centímetros de papel celofane. Com caneta de acetato. Dois metros e dez quadrados para desenhar. Desesperei. Peguei numa régua e fiz traços no papel, inspirada por esta linda coisa (as da direita):



Estou tão cansada, tão irritada comigo mesma, nem sequer percebo por que é que me meto nestas empreitadas. Ninguém passa a ser mais meu amigo nem a gostar mais de mim por causa de atitudes deste género. Se calhar, se fosse uma granda cabra ou estivesse sempre de mula, gostavam mais de mim. Assim quase pareço uma santa, mas das tolas. E ainda vou arranjar mais sarilhos, que me vão começar a chover encomendas (ela já me avisou!) e eh pá... 

E também não quero arranjar um lugarzinho no céu, que só a ideia já me enerva. Então porquê, genitais, porquê? O que é que me empurra para estes abismos? Serei sado-maso? Carente? Descompensada? Burlesca, por que não? Freud, onde andas tu quando uma pessoa precisa de ti? Olha, esconde-te. Ainda pioravas.

A sério. Não queiram ser meus amigos. Eu dou tudo, e depois choro lágrimas de sangue. Deve ser do signo.


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