08/04/2020

Se está no jornal online, está na net, é porque é verdade

Diz o jornal, pela pena de quem não conheço (porque não conheço toda a gente do mundo?), mas também não se apresenta ou sequer identifica como autoridade do assunto sobre o qual escreve, mas que imagino que saiba com certeza e não porque ouviu para aí dizer, que o dernier cri da crise actual é ir para a rua (quando já não pode mesmo deixar de ser) de mangas compridas. 
Depois do cabelo apanhado e das unhas curtas, devemos, pois, sair com os braços tapados. Como se o clima permitisse outra alternativa. (Humanos era um rapaz que frequentava o meu liceu e que andava todo o ano, rigorosamente todo, de manga curta. Admito que seja porque existem Humanos neste caótico mundo que aparecem este tipo de recomendações.) Por outro lado, ou ainda deste, ando a ficar um tudo-nada saturada deste tipo de conselhos quanto à indumentária, comportamento e hábitos, designadamente porque ninguém mos explica e ou apresenta estudos que comprovem o coiso. Bem sei que tudo isto é novo, prognósticos só no fim do jogo, mas é que eu sou aquela teimosa/ asna que necessita de explicações e razões de lógica para tudinho o que sejam ordens, comandos, conselhos e outras vidências mais ou menos evidentes.
A manga cumprida é exactamente para quê? Para que o vírus não se aloje nos braços e não trepe por eles acima até às fossas? Então e por que é que não é “obrigatório” o uso de calças? É que, pela mesma ordem de raciocínio, ele pode escalar pernas acima, tronco acima e, imediatamente antes de morrer de cansaço, encafuar-se boca adentro. Ou nós somos seres que tanto mexem na cara como nos braços? Também não mexemos nas pernas? 
Portanto, podemos usar saias/ calções, mas lá braços à mostra é que não. Como uma autêntica ida ao Vaticano. (A mim, o senhor da bilheteira mandou-me tapar os ombros expostos por uma manga cava que até era com gola alta, e eu, de calças, suei as estopinhas com o blusão vestido lá dentro, mas eram as brasileiras a passarem por mim de coxas à mostra, que isto uns são filhos.) Já a coisa do rabo-de-cavalo me pôs assim meditabunda. Esse é um penteado que 1. As mulheres usam quando têm o cabelo sujo. (Pá-tá-bem, é para o ginásio e a praia e o campo e a montanha. Mas é, principalmente, o recurso chamado “não tive tempo/ paciência para lavar a crina, hoje vem mesmo a galope”.) 2. As mulheres evitam, por razões de segurança, quando vão a algum lado sozinhas à noite. Agora passou a ser recomendado, calculo que para que levemos menos vezes as mãos à cara. (E nada de cofiar as barbichas e as bigodaças, seus Pais Natais.)
Em resumo, a ver se já percebi o outfit ideal para enfrentar o animal: rabo-de-cavalo, máscara, mangas compridas, luvas, mini-saia (pode ser, chiu!) ou shorts. E não esquecer de deixar os sapatos à porta, do lado de fora, e meter a roupa toda que se usou na rua, na máquina de lavar, imediatamente, a 60º, o que, como se sabe, não esteriliza nada, nem mesmo se fosse a 90º, pois o que esteriliza os tecidos é a água fervente, borbulhante, enfim, a 100º.
Querem esterilizar a roupa eficazmente e sem essas trabalheiras todas? Dona Linda, uma criada ao vosso dispor, recomenda: passem-na a ferro quando chegarem da rua, se a ideia é acabar com a raça do bicho. São 150º, não há beri-beri que lhe resista. Ou metam tudo no forno, pode ser a 200 ou 220º. E boa sorte com as fibras, as lãs e os sapatos. Mas que resultará, ai disso não duvidem. Ainda por cima, agora já está na net, porque eu pus. Portanto, é verdade.

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