A nós, mães, que estamos num confinamento desigual, arriscando a vida todos os dias, indo ao epicentro do risco comprar alguma coisa que faz falta e não pode esperar um mês (porque as compras online deixaram de fazer face às necessidades de casas cheias de pessoas que comem todos os dias, quatro vezes por dia) (e não, nem todas as casas têm um frigorífico industrial e uma despensa de restaurante) (e sim, a fruta e os legumes querem-se frescos, impossível comprar para um mês, ou dois, ou três, e não, também não haveria espaço para tanto) (e não, ninguém aguenta enlatados e enfrascados todo um santo período de semanas que sabe-se lá quantas mais), enfrentando pequenas (vá lá...) multidões munidas de sua máscara, de tal modo protegidas se sentem que não se coíbem de se aproximar bem menos do que um metro, munidas que estão da sua infalível armadura, subestimando que nós, desmascarados (não uso, ainda não usei, Deus me livre de mais essa. Não encontro à venda, as que me arranjariam por especial favor são a preços pornográficos e duram o tempo de um fósforo, prefiro acreditar na DGS, que são propícias a uma falsa sensação de protecção), não temos outro escudo que não seja o divino e ou a nossa capacidade de permanecer em apneia e ou escapar ao bafo/perdigotos, já para não falar do tossicar tão português, da catarreira cigarreira ou do espirro para a dobra do braço.
E quando, bravas, regressamos da batalha, sorridentes e vitoriosas porque ainda ignorantes do desfecho da guerra que vamos travando, ao que ainda poderá ser o nosso porto de abrigo, àquela que era a designada com algum desprezo pelos aventureiros desta Terra, a zona de conforto, o perímetro de segurança, processamos tudo - refeições, um bolo de iogurte, uma mousse de chocolate, sumos de laranja com laranjas a sério -, arrumamos, limpamos, lavamos, mimando, fazendo crer a normalidade, para que uns possam trabalhar, outros ter aulas, falar com os amigos no computador ou então jogar, para que não tenham necessidade nem vontade de sair de casa, e ainda arranjamos um bocadinho para dançar ou fazer uma ginástica patética, cujo objectivo é apenas nenhum (não engordar por abandono do ginásio? Estar em forma no próximo Verão? Ocupar a mente?), ou então só não enlouquecer.
A nós, quem é que nos bate palmas?
Talvez ninguém, talvez porque não precisemos. De qualquer maneira, estamos invisíveis, na tal linha de retaguarda, demasiado ocupadas a salvar vidas, arriscando a nossa própria.
Faço minhas as tuas palavras. Há sempre algo que falta, leite, pão, fruta (Meu Deus como se come fruta nesta casa !) ou comida para os membros felinos da família. E lá vou eu , também sem máscara, que tenho (custou-me 0,70€ cada uma na farmácia !) mas que não uso.
ResponderEliminarE limpamos a casa porque a Sra. que fazia esses trabalhos, por questões de segurança não vem. E no intervalo ainda conseguimos trabalhar na nossa actividade profissional habitual. Embora um gato insista em estar ao nosso colo, ou passear sobre o teclado do computador. Ou deitar-se em cima dos papeis. (eles estão a adorar este período de confinamento).
O pior é que certos dias, fazer tudo isto me dá um mau génio horrível.
Olha, Ana, e eu faço minhas as tuas palavras. Não há descanso, não há pausas. Há sempre “um chinelinho por arrumar”, como dizia a minha mãe. E também tenho a minha mulher a dias de quarentena, obviamente.
EliminarA minha gata está num stress inaudito. Acho que está a estranhar tanta gente, tantas horas, na casa dela, sem aqueles momentos de paz e sossego que tinha antes.
Que uma estrela qualquer também nos ilumine a nós, Ana
Também nã uso máscara, e mantenho toda a gente à distância de mais de um metro com os pés... quem se chega, leva um chuto!
ResponderEliminarAquilo implica com os meus nervos. E com o cabelo, especialmente se forem (se fossem!) daquelas com atilhos.
EliminarAs pessoas são muito desrespeitadoras do espaço vital dos outros. Vou mas é voltar a treinar a espargata, sempre quero ver se alguém se atreve.
Na primeira semana de confinamento julguei que ia morrer louca... Talvez imagines o que é trocar todas as rotinas de uma criança autista, fazê - lo perceber que estava em casa mas não era fim de semana, que não havia escola mas tinha de fazer trabalhos e que eu podia sair à rua para trazer bens essenciais e ele não. Se é seguro para mim, porque não é para ele? Se não era seguro para ele, como é que eu podia dizer que estava tudo bem comigo...
ResponderEliminarEnfim, cheguei ao ponto de num momento de desespero quase lhe bater e acho que reiniciei o miúdo! Entrou em modo "se a mãe diz, é para fazer!", até ver.
Estou na primeira linha de salvamento da família, tal como tu e milhares de mães e/ou pais, no entanto a tranquilidade que atinjimos depois do caos, é cono se tivesse fumado uma cena qualquer esquisita, estou zen. Duvido muito do "vamos ficar todos bem" mas acredito no "podia ser bem pior".
Parvoíce minha mas é o que me mantêm sã, achar que dentro destas paredes, sou a super-heroína.
Palmas para nós Blue, bem as merecemos.
Beijos ❤️
Sei sim, Be, sei do que falas.
EliminarLogo no início da quarentena, li uma psicóloga a lembrar as mães (e imagino que os pais também) das crianças autistas, cuja solidão e desespero se haveriam de agudizar ainda mais nesta fase.
Ponho diariamente o pensamento nas pessoas que não estão tão bem como eu, não para me confortar, mas para não cair na lamúria. E lembro-me constantemente de pessoas como tu, que sim, merecem palmas, sim senhor, no confinamento, antes e depois dele.
Eu tive uma pequena amostra de tudo isto há muitos anos, porque o mais novo nasceu antes de a mais velha fazer 6 anos, e de repente vi-me sozinha em casa com dois bebés (recém-nascido e 19 meses) e duas pequeninas, que ia deixar no jardim de infância e na primária (1º ano). Digo-te que não sei qual era a minha hora mais louca em todo o dia. Mas também perdi a cabeça muitas vezes. Só não batia porque nunca devo ter sido formatada para isso, mas gritava muito :(
As crianças levam-nos aos extremos, ao nosso melhor e ao pior também.
E tu vais concluir mais esta demanda com sucesso. Estás a construir um homem grande, Be.
Palmas para ti, querida.
Beijos e um abraço enorme, que estes ainda vamos podendo ❤️