Eu não sei vocês, mas sinto no ar um fedor a pedincheira que já me, se não assusta, pelo menos irrita um nico. Depois dos lares de idosos, das casas sem internet, das crianças sem computador, das pessoas que não sabem fazer uma máscara (alguém tem noção do preço dos tecidos e dos aviamentos?) (fazer uma máscara fica caro, fazer cem máscaras fica caríssimo, alô!, nem toda a gente tem capacidade financeira para pagar tecido + elásticos + linhas + electricidade da máquina de costura + tempo - mínimo 1/2 hora para cada uma -, tudo multiplicado por 100 ou 200, que são 50 ou 100 horas de trabalho, mas está tudo doido, ou eu é que estou a ver tudo do avesso?), o pessoal que não pode ir fazer as próprias compras (tenho uma vizinha que se ofereceu para ir às compras pelos idosos do prédio - que, afinal, é só uma, que sai de máscara, luvas, gorro até aos óculos, sobretudo e calças, e lá vai ela, e lá vem ela, um saco cheio em cada mão e ainda um garrafão de 5 litros de água, what the fuck?) (bem sei que não posso julgar o geral pelo particular, mas isto é o que eu vejo e eu sou como Tomé, o santo), agora são os PTs dos ginásios que, nos primeiros dias de quarentena, deram aulas gratuitas no Instagram e, de um dia para o outro, se passaram para algo que responde pelo nome de Zoom, cujo acesso é pago para se beneficiar das ditas aulas. Ora, vamos lá a ver: não são eles funcionários de um ginásio que uma pessoa paga mês após mês, e que até suspendeu as mensalidades enquanto se mantiver fechado, e que continua a pagar-lhes o ordenado, e que dá aulas online à borla e para toda a gente que a elas queira aceder, ainda que não esteja lá inscrito?
Também não sei se sou só eu, mas tenho como premissa que a caridade começa dentro de portas. Que é lá isso de sair para se ser voluntário num lar de velhinhos, deixando um acamado em casa (também já vi acontecer)? Tenho muita pena de todas as pessoas, mas mais pena tenho dos meus filhos, que não pediram para nascer. E, seguramente, não vou tirar da boca deles para distribuir por não sei quem, porque, ó pá, caiam mas é na realidade: isto é um estado de emergência com duração nunca antes vista = calamidade pública = guerra. Ninguém - onde me incluo - sabe o dia de amanhã. E amanhã não terei cara para recusar a mão estendida a um filho com o argumento de que dei tudo "para Portugal".
Já agora, e a mim, quem é que me estende a mão?
(Para início e fim de conversa, nós dois criámos quatro pessoas - duas ainda por acabar de criar - sozinhos, sem qualquer tipo de ajudas daquelas da creche paga pelos avós ou outras benesses do mesmo género. Portanto, sou esta recalcada que aqui me apresento hoje. Cruel, mas justa, lá dizia a capa do disco do Rod.)
Estou contigo :)
ResponderEliminarObrigada, Ana :)
Eliminar(Fiquei a sentir-me a pior pessoa do mundo, e agora já não tanto.)
Tal como tu, a mim também ninguém me estica a mão. E olha que já contei trocos para comprar comida para os putos, portanto, tal como tu, não contribuo para certas "caridadezinhas" e não me sinto mal com isso.
ResponderEliminarAbraço apertado <3
E ainda por cima, ficaria sempre com o amargo de boca de pensar que tinha ajudado a quem, efectivamente, não precisa. (Tão comum!) O pior dessa atitude de quem pede é que nunca pergunta “E tu, precisas de alguma coisa?”. Não sei se é soberba da minha parte, que nunca dou a entender que também preciso, a verdade é que nunca me estendem a mão, tal como a ti, Be. E sei muito bem do que falas quanto a contar trocos. (E a esticar a panela!)
EliminarA ti, estendo-te os dois braços, para receber e dar esse abraço, por agora por aqui, quando quiseres ao vivo ❤️
Já não me sinto sozinha no meu racionalismo céptico.
ResponderEliminarUm beijinho,
Eu é que deixo de me sentir sozinha, assim :)
EliminarUm beijinho também, m-M
Acho muito bonito todo e qualquer acto de solidariedade, mas temos que ser lógicos...e nenhuma dessas atitudes de me parece lógica --'...ai mundinho este...
ResponderEliminarNem a mim, Nada. Sempre fui muito desconfiada em relação a ajudas mais ou menos organizadas, oficiais e muito sérias, que depois não sabemos onde vão parar as coisas. Não fico nada descansada. Prefiro dar um cobertor a quem sei que tem frio do que sossegar a consciência com sacos de roupa que já não uso e que ainda vai parar aos cabides das lojas second hand. Sou esquisita, mas já não papo números.
EliminarDepende ao que te referes. A minha cabeça anda um nó, ando muito loira.
ResponderEliminarMas por princípio, sim ajudar só por ajudar sem ter alguma certeza... Pois...
Pagam uns pelos outros, ou melhor, não recebem uns por causa dos outros...
EliminarPensamento assustador... na verdade, algum dia podes ser tu a precisar e pode haver alguém que agora critiques, a oferecer-te ajuda. Eu tenho partilhado comida e outras coisas com pessoas carenciadas do meu bairro, a titulo individual, de modo discreto. E acho que só assim faz sentido. Pelo menos não poderia deitar-me à noite sabendo que estou a guardar os pacotes de leite como se fossem ouro enquanto para alguém poderiam representar o jantar desse dia.
ResponderEliminarTudo certo, Raven. No entanto, referi-me especificamente a um caso de alguém que, apesar de ter ordenado garantido, me abordou com uma conversa de necessidades (sem me perguntar se eu teria alguma), e, entretanto, adoptou um cão. E não deixou de fumar. Pois, isso não pago. E não é, certamente, uma pessoa assim que um dia me vem dar a mão.
EliminarE mais: dou muito e para muitos lados, também de forma discreta e anónima, mas sei bem para onde dou. Era muito miúda quando participei em donativos para uma acção de emergência que veio a revelar-se um engodo, porque os próprios voluntários desviavam os donativos da roupa e cobertores melhores. E isso ficou-me para a vida.