22/06/2015

Nós cegos

Em Lisboa 28 graus, em Cascais 23, quase tive frio, quando lá cheguei. O céu estava quase cinzento, e eu quase triste por isso também. Sentadas, frente a frente, as mãos dadas, os olhos entrelaçados, só tinham passado quinze minutos e eu já fugia a correr, se não estivesse acorrentada ali, por laços de ternura que são tão cegos quanto nós, nós cegos, e quanto nós conseguimos ser, cegos, quando nos queremos libertar e não há como nem porquê nem para aonde. 
Tenho saudades, contaram-me outro dia que diz, muitas vezes. Diz que tem saudades.
E eu encho-me de enfado.
Toda a vida a ouvi dizer que tinha saudades. 
E isso pega-se, como uma praga. Também eu, estou sempre cheia de saudades e farto-me desta mania quase doença, que me põe quase triste, toda nostálgica. 
Tenho saudades dele, disse a minha mãe no dia em que o meu pai morreu.
Tenho saudades do meu pai, digo eu há anos a mais, farta da praga.
Faz hoje anos que a minha mãe me ensinou a ter saudades para sempre.


4 comentários:

  1. Anónimo23/6/15

    Não é um processo fácil, LP :-(

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  2. Anónimo23/6/15

    Também sei o seu significado. Há tempo demais.
    Beijinhos, LP.

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    1. É muito cansativo, não conseguirmos livrar-nos desta "praga" que, volta e meia, dá notícias da sua existência.
      Muitos beijinhos, Mia.

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