Trouxe-me há muitos anos o pai, que me nasceu neste mês, alguns antes de eu própria conhecer o mundo.
Trouxe-me o mar de Junho, os dias longos e as noites quentes de luar eterno.
Trouxe-me a confirmação de ser, para todo e qualquer efeito, uma mulher.
Trouxe-me, se puxar bem pela memória, o primeiro amor, tão fugaz que não o soube saborear na tonteira dos catorze anos.
(Não sei como não nasci em Junho, eu. Nem sequer fui nele concebida.)
Depois levou-me o pai, assim como mo tinha trazido. Levou-me a mãe, não satisfeito, cravando-me uma orfandade permanente e defeituosa.
Ainda tenho comigo guardados os olhos azuis do enorme bombeiro, feições cheias e rudes, tisnadas do sol e do fogo, cheios de mar de Junho para mim, A senhora sabe, a gente vê muita coisa todos os dias, mas isto... E a mão grossa dele sobre os bracinhos da minha mãe, chamando mansinho, quem sabe se também ele cheio dessa orfandade defeituosa que me veste desde aí, Avozinha...
Enquanto não purgar Junho, não saberei estar.