19/06/2019

Aprendam comigo, que eu não duro sempre. Só mole.

Pois, fui à Feira do Livro, e acabou por acontecer duas vezes: a primeira já estava assim mentalmente programada desde que o evento abrira as portas que não tem: à noite, rápido, rápido, direitinha à Dom Quixote para adquirir todos os meus Antónios* que pudesse carregar sem sobrecarregar a conta bancária, essa grande meretriz que emagrece sem grande esforço de forma absolutamente invejável. Trouxe apenas dois, não porque me faltassem as forças para mais, mas porque já expliquei. Ainda por cima, a casa onde habito habitualmente, ao contrário da alma que me habita a mim, não é grande, e qualquer dia estou deitada sobre livros, qual místico da cama de pregos, só que sem dor. A segunda vez que lá fui, fi-lo com tempo, apesar de o da Feira se estar a esgotar, pois fui no último dia. Percorri aquilo tudo de lés a lés, que é como quem diz, de cima a baixo e depois de baixo a cima. (Hã? Muita bom, não ter dado aquele enganozinho do "acima" e "abaixo". São muitos anos, isto.) Ora, conforme é sabido, a Feira admite apenas dois climas: ou chuva, ou um sol a pino que não dá para perceber. Deve ser da inclinação, ou então sou só eu que sofro. Como naquele dia estava calor e eu hei-de ter achado uma ideia brilhante ir de t-shirt preta e calças de ganga escuras, levei com a chapa grelhadeira todo o caminho, principalmente nas duas vezes que subi, tipo em escala ascendente, aquele passeio dos alegres intelectuais assim como eu. Portanto, enchi-me da canícula. 
Isto tudo para explicar um fenómeno da Química, que é praticamente uma metáfora da minha vida toda.
Acerquei-me ali de uma roulote que vendia beberagens, apercebi-me, enquanto esperava a minha vez, que havia umas palhinhas feitas de massa crua, e vai de pedir uma para enfiar na lata do Seven Up, isto tudo armada em ecológica da pegada verde. Vi a senhora tirar a dita lata do frigorífico, pelo que não foi agitada, sequer estava deitada (a lata, não a senhora), entregou-ma, e eu zás na argola daquilo. Abri a lata, tudo igual ao litro, e então meti a palhinha pelo buraco da coisa. E fssssssh, um vulcão de espuma sobre mim, que me atingiu a mala, os sapatos (o cinto não, porque não levava), o chão e um nico o orgulho. Era eu na Feira, onde todos se vão cultivar e pavonear, a segurar uma lata que cuspia espuma. Parecia do circo Chen, eu.
Portanto, recapitulando: massa fresca mais bebida com gás, é igual a festa da espuma.
Há uns anos, alguém descobriu um fenómeno semelhante com a Coca-Cola e os Mentos. Agora descobri eu este. Quase de certeza que o resultado é igual com qualquer bebida gaseificada e qualquer tipo de massa. Quando estiver aborrecida e sem nada para fazer, hei-de experimentar com massa de letrinhas e champanhe. Depois ponho-me no Youtube e fico rica, para poder ir à Feira para o ano, comprar todos os Antónios que ainda me faltam. 

* Lobo Antunes (claro).

8 comentários:

  1. Ainda bem que não gosto de bebidas com gás! Cruzes!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também não costumo, mas a sede era tanta, as alternativas tão poucas e água não era uma delas... :/

      Eliminar
  2. Ahahaha muito bom!! Quase consegui ver a cena!!

    ResponderEliminar
  3. Vou experimentar. Já descobri que quando cozo esparguete quando o ponho na água a ferver, por vezes também se dá um fenómeno semelhante ao que descreves. Embora não tão grandioso.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, fica opaca, como turva, e reage como se lhe tivéssemos deitado um ácido. Mas tranquila, nada do disparate que aconteceu naquele dia. Está visto que o “fósforo” está num componente da massa.

      Eliminar
  4. So menos ficaste mais fresca por fora tb! Ha que ver o lado positivo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não me atingiu muito a roupa, mas sim, há sempre que ver esse lado :D

      Eliminar