O lobby do hotel, de um luxo simples e alegre - um smiley gigante em 3D pousado no canto de um aparador -, abarca a recepção, o restaurante e a saída para a piscina que, por sua vez, fica a cinquenta metros da praia, talvez oitenta do mar. É esta a minha noção de paraíso. Ainda estou a dar o último suspiro urbano, quando somos abordados por três funcionárias, que nos cumprimentam quase em coro com um "Olá! Sejam bem vindos!", e reparo que todas têm a boca pintada num vermelho vivo, que me pergunto se saiu do mesmo bâton, ou se será cortesia e imposição da entidade empregadora. Estou nestes dilemas quando a mais faladora pergunta por qual o pacote de boas vindas, de um de três, queremos optar: uma bebida que não fixei e uma massagem às mãos, uma bebida que não fixei e uma massagem completa, ou uma bebida que só fixei porque a bebi, mas calculo que fosse sempre a mesma, e o sorriso das recepcionistas. Como já tinha levado com eles, assim como assim achei melhor a última opção, porque possuo issues com a cena das massagens, de mais a mais sendo nas mãos, zona tão íntima onde não mexe quem quer, essa agora. A bebida era um gin tónico, e lá me baixou a pelintra que não lhe podem acenar com um grátis, que nem que fosse um prato de iscas regado a absinto, dizia logo que sim sem sequer bater as pestanas. Foi então que a menos faladora, mas aparentemente mais segura de si e, quem sabe, de mim, com uma placa ao peito a dizer "trainee", começou a preparar as bebidas, atirando com uns cubos de gelo para dentro dos copos. E disse bem, "atirando", uma vez que não acertou com dois dos malandros no alvo traçado, tendo um deles caído no chão e o outro em cima dos papéis que ali estavam pousados ao lado. E Mariana, assim se chamava a trainee, sem quaisquer pudores ou hesitações, agarrou assim mesmo à mão e à maluca no cubo fujão que aterrara nos papéis e atirou-o para dentro de um dos copos, desta vez acertando, toda ela sorriso maroto, "Hoje sinto-me mamaluca". Já eu ia lembrar-lhe o cubo caído no chão, não fora querer juntá-lo ao outro evadido, quando uma das outras duas ralhou, "Mariana, isso nunca se faz!", e depois lembrei-me que também já fui estagiária, e foram tantas as vezes que meti os pés pelas mãos, que surfei no mar da minha ignorância, umas vezes a rir, outras chorando-as a sangue, que esperei apenas que me servissem outro copo, para ir beber o meu gin já instalada de pernas para o ar. Isto chama-se maturidade, brlá-brlá-brlá.
Sem dúvida, uma história que prova muita maturidade!
ResponderEliminarAinda sou estagiária, pelo que compreendo perfeitamente estas situações. Ainda no outro dia fui à Telepizza, e estava lá uma recém-empregada muito lenta, mas eu não reclamei, porque sei o que é estar na posição dela, sob pressão.
Beijinhos
Blog: Life of Cherry
Enquanto não conseguimos pôr-nos no lugar do outro, independentemente das circunstâncias, é muito difícil percebermos o porquê de algumas falhas, desatenções, demoras, deslizes...
EliminarBeijinhos, Cherry
como assim, não quiseste massagem?!?!?
ResponderEliminareu podia falecer assim, a ser massajada enquanto sorvia um gin, que falecia feliz... céus! dá deus nosso senhor febra a quem não tem dentes... ts!ts!
Olha, não quis. Cá agora andarem a quase tocarem as minhas sem-vergonhas. Sou demasiado stressada para não ter um ataque de nervos mal me colocassem as unhas no pêlo.
Eliminar:D
Pelintra era aceitar aos pulos uma gasosa, um gin é sp um gin 😉
ResponderEliminarEpaaaaa, OK eu tb dou desconto a estagiários, mas caramba, fazer isso em casa é uma coisa, nas barbas do cliente agarrar o gelo q andou a passear com as mãos...tb convém pensar né
Pois, foi chique, não foi? 😃
EliminarAquilo era um caso perdido, coitadinha. Foi logo repreendida pela colega, e isso até me deu pena. Mas é óbvio que não beberia aquele gin, independentemente de ter pena da miúda (19/20 anos) ou não!