24/09/2024

Descreve o teu estado de espírito ou de alma ou de fantasma, tanto faz

Ando um bocado embezerrada comigo mesma: outro dia, porque o telefonito me alertou de estar enfartado, resolvi dar-lhe espaço, como em qualquer relação saudável, e comecei pelos emails. Cliquei aleatoriamente num daqueles que toda a gente recebe, talvez Perfumes e Companhia ou outra vaidosice qualquer, onde nunca entro, dizia lá duzentos e eu vai de apagar tudo. E assim fiz com todos os que eram Temu e outras chinesices, aquilo foi apagar até me doerem os dedos, e depois, não contente com o feito, ainda fui à caixa dos apagados — que eu acho que ocupa imenso espaço, quanto mais não seja sideral — e apaguei como uma bombeira desvairada. Pum. Foi quando percebi que tinha apagado os mails dos últimos dois anos. Todos, de todas as contas: desta, do profissional, do hobby e a do de pessoa normal. O que mais me custa? A troca de mails com as minhas bloggers mais queridas, de que nem cinzas restaram, ao menos para que tentasse reconstruir este passado que, apesar de constituir os anos mais aflitos da minha vida, foi e está a ser também uma fase muito feliz. Não sou bipolar, meu povo, sou apenas a pessoa mais normal que conheço (no que a minha terapeuta concorda, portanto tenho declaração carimbada). Ter terapeuta não faz de mim anormal, simplesmente preciso, como uma perna partida precisa de ortopedista. E eu fiquei um bocado confusa quando soube que estava a correr para as portas da morte, com pensamentos do género e por esta ordem: "Ainda bem que não foi com nenhum deles"; "Que maçada, nunca poderei dar medula à minha irmã, se ela precisar"; "Que aborrecimento, nunca mais poderei dar sangue". Sou um poço, um vulcão, uma cratera de abnegação.