Fui mandada parar Rosinha, minha canoa, em plena via. O senhor agente bateu-me (não literalmente) uma quase imperceptível continência (não urinária) e proferiu: "Boa tarde, senhora condutora". Eu lá titubiei uma resposta, creio que em devolução aos votos dele, e obedeci quando me solicitou gentilmente a documentação toda, minha e da viatura. Tinha, naturalmente, um papel/cartão em cada canto da casa/carro, parte na malinha, parte no porta-luvas, algo na bolsa lateral da porta do passageiro, ainda algo pespegado no vidro da frente, como manda a lei. Depois de ter verificado tudo com uma minúcia meio simulada, meio efectiva, perguntou-me se algum dia soprei no balão, embora eu considere que deveria ter-me antes perguntado se algum dia me submeti ao teste de alcoolemia, por uma questão de rigor técnico e terminológico. No entanto, e uma vez que compreendi o alcance da questão, respondi a verdade: que não. Vai ele e convida-me a fazê-lo, e eu, por acaso pouco dada a experiências inovadoras, saí do carro e percorri com ele os trinta metros que nos separavam da improvisada banqueta, onde se encontravam mais agentes vestidos de igual a ele e um pequeno aparato de aparelhos de medição e tubos de plástico descartáveis. Nunca tinha andado na rua lado-a-lado com um polícia, mas até nem correu mal, dado que, pelo menos, o homem não me algemou. Lá chegados, apercebi-me da presença de uma senhora, assim com idade para ser minha mãe, que acabara de ser vítima da mesma sorte, ou seja, já soprara no balão e estava a arrumar os papéis todos numa bolsinha de plástico, enquanto recebia o seguinte elogio: "É a primeira pessoa que nos aparece aqui com os documentos todos certinhos e organizados". Logo me insurgi suavemente, ripostando: "Então e eu? Não tinha os meus também...?", ao que recebi como resposta: "A senhora não tinha a bolsinha". Note to self: comprar/fazer/roubar, enfim, arranjar uma bolsinha florida, almofadada e maricas para a documentação de Rosinha. Então, foi-me explicado que deveria soprar lá para o tubinho que encaixava na máquina medidora, deveria ouvir um apito e, quando deixasse de o ouvir, deveria também parar de soprar. Eu, armada em boa, ainda argumentei estar sem fôlego, pois fora correr cinco quilómetros nessa manhã, mas tal só veio aumentar a confiança nos agentes de que eu faria uma boa prestação, pelo que me abstive e pronto, calei-me e soprei. E soprei com uma força tal, já o apito se esvaíra há que segundos, que o agente teve que me arrancar o cigarro plástico da boca, não fora, sei lá, avariar a geringonça, tudo isto ao som mental de Sobe, sobe, balão, sobe, da brava Manuela, apesar de o coiso parecer tudo menos um balão, e assemelhar-se mais a um aparelho de medição de tensão arterial, daqueles que eu ando para fazer explodir cada vez que uso. E o meu resultado, vergonhoso ou não, foi zero, ponto, zero, zero. Um autêntico zero à esquerda, bastante sóbrio, parecendo que não. Uma frustração a registar: condutores como eu, cujo resultado seja igual a zero, deveriam receber um balãozinho de hélio, pá, tipo prémio de consolação pela sobriedade. Ou então, uma coisa um nico menos infantil: uma largada de balões por cada sóbrio que se descortine no trânsito. Ainda vou chagar o ministro da Administração Interna com esta ideia.
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