E não pode ver nada. Agora também quer ter tensão alta. Já não bastava a alergia aos metais. E as unhas encarnado-sangue. E ter posto ao filho o nome do meu. Fora o resto, que é tudo e mais alguma coisa.
Liga-me às 8:22 da madrugada, eu já na lufa-lufa, porém quase desacordada, Bom dia, desculpe, mas não me estou a sentir nada bem, passei toda a noite a vomitar [vá que, desta vez, sabe-se lá porquê, me poupou ao pormenor da diarreia], vou ao hospital ver o que é que tenho, Será covid?, pergunta aqui a parva, Acho que não, isto foram umas coxinhas de frango que eu comi no fim-de-semana e que me provocaram uma subida da tensão arterial, já é a quarta vez que isto me acontece [o animal selvagem que me habita a congeminar em ladainha: À primeira caem todos, à segunda cai quem quer, à terceira cai quem é parvo, à quarta cai... a Sandra! Comi pipocas ao almoço, comi pipocas ao jantar...], nem me consigo ter de pé, não tenho reacção no corpo [a tal descrição que ela faz para todas as suas maleitas e desaires, que vão da amigdalite até à cólica intestinal, passando pelas inúmeras quedas e pancadas que lhe acontecem. Não ter reacção no corpo significa exactamente o quê? Que faleceu? É que eu, na minha justa e correctíssima ignorância, desconhecia que é suposto o corpo ter reacção. Mas siga], agora estou na [nome de uma firma para a qual trabalha quando sai cá do lar, que fica a cem metros de distância] a beber um chá aqui com as minhas colegas [???] a ver se melhoro.
Confesso que já não ouvi muito mais, porque tinha o cérebro a chiar camas de lavado, duas casas-de-banho, chegada e arrumação das compras do mês, almoço, máquina de roupa, recolher toda a que estendi ontem, estender a que lavar hoje, dobrar o que não seja para o ferro, compras, jantar.
Portanto: minha madame passou mal todo o fim-de-semana derivados às coxas, mas ainda se arrastou até perto da minha casa, quase uma hora antes do horário de entrada (please, explain), isto tudo sem reacção no corpo. Se eu não sou uma cavala, que havia de lhe agradecer a intenção, mas não o fiz?
Moral da história: foi ao hospital, deram-lhe uma pica, mandaram-na para casa sem baixa, mas hoje ainda não pôde trabalhar, porque continuava muito zonza e com a cabeça a explodir. (Não vamos fazer a imagem mental, está bem?)
Em suma: mandei-a meter baixa. É para isso que lhe pago a Segurança Social e não há cá mais merdas. Sim, ponho com fervor a possibilidade de me ter tornado execrável. Foi do covid. Não, afinal não: foram vinte e três anos a levar com grupos, sempre à sexta e à segunda. Quando ela voltar, terei o meu corpo sem reacção. E a minha cara. E os meus ouvidos, para os intermináveis relatos que me faz de tudo o que lhe acontece na vida, e que me interessa, vamos lá a ver... zero, vírgula, zero, zero... zero.