É assim há anos: eu já sei, de antemão, que vou meter-me numa situação da qual sairei magoada, mas meto-me na mesma. Até me inscrevo, como foi este o caso.
Existe uma marca de cosmética, da qual não vou dizer o nome, porque ninguém me paga para isto, mas que é excelente, que eu uso há bastante (por força da oferta de amostras, que uma amiga farmacêutica me fornece às litradas), cujas ampolas e cremes me rejuvenescem todos os dias um pouco, coisa para qualquer dia parecer um feto e, logo de seguida, um embrião. É uma marca da farmácia, e não há vez que lhe leia o rótulo e não me lembre do filme "Madagáscar".
Então, deixei-me inscrever para ir fazer uma "avaliação da pele". Logo na gula de receber mais umas quantas amostras grátis, prantei-me na farmácia à hora marcada. Fui atendida por uma senhora mais velha do que eu, o que não seria nada de extraordinário, não fora o facto de ter, ela sim, uma pele péssima, ou melhor, invisível sob uma espessa camada de betume, o que impossibilitava, agora sim, a avaliação pela minha parte. No entanto, era para a inversa que eu ali estava, e, por essa razão, sujeitei-me. Por trás dos óculos com lentes olho-de-boi, que lhe aumentavam o tamanho dos olhos a níveis olímpicos, emoldurados por pestanas posticíssimas, a pessoa perguntou-me dados, tipo o nome e a idade, enquanto pegava numa peça semelhante a um telefone fixo e ma encostava, primeiro à testa, depois à bochecha, finalmente quase à orelha, isto para aferir do meu tipo e estado da pele. Nada de nariz, bigode, queixo, aquelas zonas que nós, mulheres, se pudéssemos, secaríamos de gorduras, pêlos e outros contratempos assim mesmo sem olhar para trás. A seguir, sentenciou que eu tenho "uma pele mista", que é aquele meio-termo entre a carne e o peixe, é um quase, um talvez, um não-me-comprometo, e, para o caso de eu desconhecer o conceito, explicou-mo: que tenho zonas gordurosas [tomara tu] e zonas secas [toda a minha cara, no sentido de semblante, naquele momento]. E, por fim — após ter-me revelado que a minha pele tem mais três anos do que a minha idade real (subestimando que já lhe havia dito que é a marca que ela representa que eu uso), e de eu lhe ter perguntado: "Então, o que faço? Arranco-a? Deito-a fora? Faço um peeling? Meto um abrasivo?", considerando a possibilidade de a minha pele ter nascido três anos antes de mim —, traçou-me um "plano de tratamento" com seis produtos, mas que eu, ao tentar inteirar-me dos preços, e visto que só um deles custava cinquenta oiros, olhem, desisti de tratar a minha idosa e estafada pele, e pus-me foi nas tamanquinhas dali para fora, carregando-a comigo, tal e qual um lobo com pele de cordeiro.
Chiça.
Existe uma marca de cosmética, da qual não vou dizer o nome, porque ninguém me paga para isto, mas que é excelente, que eu uso há bastante (por força da oferta de amostras, que uma amiga farmacêutica me fornece às litradas), cujas ampolas e cremes me rejuvenescem todos os dias um pouco, coisa para qualquer dia parecer um feto e, logo de seguida, um embrião. É uma marca da farmácia, e não há vez que lhe leia o rótulo e não me lembre do filme "Madagáscar".
Então, deixei-me inscrever para ir fazer uma "avaliação da pele". Logo na gula de receber mais umas quantas amostras grátis, prantei-me na farmácia à hora marcada. Fui atendida por uma senhora mais velha do que eu, o que não seria nada de extraordinário, não fora o facto de ter, ela sim, uma pele péssima, ou melhor, invisível sob uma espessa camada de betume, o que impossibilitava, agora sim, a avaliação pela minha parte. No entanto, era para a inversa que eu ali estava, e, por essa razão, sujeitei-me. Por trás dos óculos com lentes olho-de-boi, que lhe aumentavam o tamanho dos olhos a níveis olímpicos, emoldurados por pestanas posticíssimas, a pessoa perguntou-me dados, tipo o nome e a idade, enquanto pegava numa peça semelhante a um telefone fixo e ma encostava, primeiro à testa, depois à bochecha, finalmente quase à orelha, isto para aferir do meu tipo e estado da pele. Nada de nariz, bigode, queixo, aquelas zonas que nós, mulheres, se pudéssemos, secaríamos de gorduras, pêlos e outros contratempos assim mesmo sem olhar para trás. A seguir, sentenciou que eu tenho "uma pele mista", que é aquele meio-termo entre a carne e o peixe, é um quase, um talvez, um não-me-comprometo, e, para o caso de eu desconhecer o conceito, explicou-mo: que tenho zonas gordurosas [tomara tu] e zonas secas [toda a minha cara, no sentido de semblante, naquele momento]. E, por fim — após ter-me revelado que a minha pele tem mais três anos do que a minha idade real (subestimando que já lhe havia dito que é a marca que ela representa que eu uso), e de eu lhe ter perguntado: "Então, o que faço? Arranco-a? Deito-a fora? Faço um peeling? Meto um abrasivo?", considerando a possibilidade de a minha pele ter nascido três anos antes de mim —, traçou-me um "plano de tratamento" com seis produtos, mas que eu, ao tentar inteirar-me dos preços, e visto que só um deles custava cinquenta oiros, olhem, desisti de tratar a minha idosa e estafada pele, e pus-me foi nas tamanquinhas dali para fora, carregando-a comigo, tal e qual um lobo com pele de cordeiro.
Chiça.