07/08/2019

Livro de reclamações

Só faltava o pequeno cartaz mandar-nos sorrir [está a ser filmado], mas dizia qualquer coisa como "aqui pode elogiar". Já estávamos na sala de espera há duas horas, e eu, obviamente, já tinha ido reclamar. Isto, ao fim de meia-hora sem termos sido atendidas. Falei em desorganização e falta de respeito, fiz saber que sei que a profissão de médico é a única que pode incumprir com horários, e também aquela em que esse incumprimento sai sempre impune de todas as contravenções. A funcionária que me escutou fez que sim com a cabeça, mais para me mandar calar do que por concordância, e, de propósito ou por distracção, ainda aumentou o volume à minha pequena ira, quando me mostrou o painel com as consultas da tarde, onde facilmente constatei que a pessoa das 14:30 estava a ser atendida naquele momento, isto eram 16:30, mais minuto, menos segundo. Concluindo, pelo menos esta parte, a doutora obviamente não havia chegado às 14:30 e nós iríamos - como, efectivamente, fomos - ser atendidas com duas horas de atraso. Só a mim não me saem empregos destes. A ver se na próxima encarnação não me esqueço de me meter na Faculdade de Medicina. (Estudasses.)
Quando entrámos, a dita doutora balbuciou umas desculpas mal enjorcadas, atirando para cima dos doentes anteriores o motivo do próprio atraso, É que sabe, as pessoas vêm para aqui desabafar, isto uma médica de músculos, ainda que fosse psiquiatra ou oncologista. Ou veterinária.
Então, a consulta demorou vinte minutos, nos quais couberam dois telefonemas das filhas da médica, porque uma se encontrava à porta de casa sem chave para entrar, a narração das maleitas do pai da senhora e uma declaração à boca cheia de que "Eu não sei ler ecografias porque não sou radiologista". 
Ai dela que se tenha lamentado ao doente seguinte do atraso dos anteriores, incluindo-nos, assim, na sua desarrumação mental. Estimo que lhe caia um dente da frente de cada vez que faltar à verdade de forma tão vil. E leviana.
E sim, pagámos a consulta, mas mais porque já passava da hora de lanche e queríamos sair dali para fora rapidamente. 
E não, esta não foi a pior médica que consultei na vida. [Palmarés para uma que também nos fez esperar duas horas - há aqui um padrão? - e, para além de me cheirar a suor - dela - quando entrei no gabinete, fiquei com a sensação de que nem à porta da tal faculdade passou, tamanho era o adormecimento em cima do teclado e a hipnose diante do monitor. Facebook? Pornografia? Desenhos animados? Valium? Nunca saberei. Mas também nunca teria sabido a solução para o que nos levava ali, se dependesse dela.]

12 comentários:

  1. moça, já tinha saudades tuas!

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  2. No outro dia fui a um médico com o Parolo. Quando entramos nem se levantou para nos cumprimentar e estava já a "teclar". Fomos dizendo o que nos trazia ali e ela sem prestar muita atenção pois o que teclava era já a prescrição de uma endoscopia e uma colonoscopia, ela não estava a ouvir o que dizíamos, nem os alertas que fazíamos.
    Esperámos mais de uma hora pela consulta na qual estivemos apenas 10 minutos (e foi porque eu insistia em alertar para determinados pormenores, senão, 2 minutos tinham chegado para a prescrição, impressão, assinatura e até ao dia do exame)

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    1. Já nunca sei a que médicos ir. Ultimamente, escolho os que têm consultório. Os aviários dos hospitais privados, com todos os protocolos que entretanto assinaram, não me servem. Mas, de vez em quando, lá me calha um desses na rifa, como foi este caso. CUF Infante Santo, esquece. Hospital da Luz, same.

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  3. Tenho muito respeito pelos médicos mas digo muitas vezes que preferia ser doente do veterinário dos meus gatos do que de alguns médicos.
    Detesto aqueles que nem sequer nos cumprimentam, têm o nariz enfiado na secretaria e assim ficam.

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    1. Podes crer, no veterinário das minhas até há uma veterinária novinha e gira que se auto-intitula “tia” para as minhas gatas (“Venha cá à tia, que a tia quer ver essa barriguinha”).
      Também tenho muito respeito pelos médicos, a minha mãe era um deles. Mas também, se quiser consultar gente indiferente ou que faz diagnósticos ao lado, fico no Google, que sempre me premeia com um cancro ou SIDA, mas ao menos é de graça :)

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    2. Uma vez tinha a minha filha 16 anos fui com ela a uma consulta de dermatologia. Do nada, a médica que nunca nos tinha visto na vida, pergunta à minha filha se ela estava grávida. A miúda ficou corada até à raiz dos cabelos e eu, embora compreendendo a razão da pergunta, porquanto certos medicamentos não poderiam ser tomados durante a gravidez, achei que não era maneira de, assim a seco, introduzir o assunto.
      Se calhar estou uma velha preconceituosa mas a m/filha gostou tanto da médica que saiu de lá quase a chorar e garantindo que nunca mais lá voltava. E não voltou.

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    3. Essa senhora merecia uma queixa na Ordem. Olha, eu também estou cada vez mais preconceituosa, talvez porque a idade avança, mas tenho cada vez menos paciência para gente hipermoderna, sem filtros, sem balizas, sem dois dedos de testa.

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  4. Em Portugal os médicos tem muito a mania da superioridade oferecida pelo título. Um dia saí de um consultório dizendo que era uma falta de respeito. Uma outra vez um médico quiz cobrar-me a consulta porque a lista de espera dele era grande e podia ter tido outra cliente. Eu disse-lhe que lhe cobrava também as minhas horas de trabalho por ter estado 2h à espera dele.

    Uma outra médica ainda foi insultuosa e me prescreveu um tratamento que eu.lhe disse que não achava apropriado e não aceitava. Saí de lá e recusei pagar a consulta. Foi um escândalo.

    A verdade é que estou na "lista negra " de pelo menos 3 médicos portugueses, mas tenho até muita paciência porque muitos mais pereciam ser postos no lugar deles e perder aquela arrogância que ganham no dia em que recebem o diploma, que por ares de saber curar doenças acham-se encarnação divina e que têm o direito de gozar e achincalhar todos os que consideram inferiores. E se não me achincalham muito, porque eu ponho-os logo no lugar, vejo inúmeras vezes até as senhoras da recepção achincalhar os pacientes que claramente têm menos educação formal ou conhecimento e isso põe-me doente.

    Felizmente aqui no UK a coisa pia doutra maneira e quando preciso de um médico tb costumo estudar a maleita antes e debato o diagnóstico/ tratamento e o respeito é maior entre partes. E vejo um tratamento mais igualitário e respeitoso ppr todos para ser honesta.

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    1. Mas a sério que eu acho que a profissão de médico está a sofrer com estes protocolos todos com os hospitais privados e a pressão que é exercida sobre eles para que prescrevam mais exames e análises (inúteis), em que quem sofre são os doentes, na sua saúde e carteira.
      Quanto aos atrasos e às esperas na sala disso mesmo, que me lembre, é de todos os tempos. Havia um médico muito famoso no Saldanha que as pessoas esperavam seis, sete horas na sala. Uma das minhas tias uma vez disse-lhe que já se tinha esquecido do que a levava ali. Ganhasse eu em anos de vida as horas que já perdi nessas esperas e era coisa para somar meses!
      Não sei se é desorganização, falta de respeito ou um fenómeno nacional, endémico.

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    2. Temos muitos amigos medicos, alguns faziam manhas no hospital e tarde no privado e a nossa casa ficava a caminho entre os dois. A minha mae frequentemente dava de almocar 'aquela gente toda. Pois as consultas marcadas comecavam as 2 da tarde, eles apareciam para almocar 'a 1:30, e ainda repetiam, sobremesa, e cafe, nas calmas, e saiam de la quase as 3. Sistematicamente. Chama-lhe o que quiseres, mas nao ha defensa possivel!

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    3. É total desprezo pelo outro...

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