16/01/2019

Na senda de "Sou só eu?" # 19

a quem acontece haver pessoas que simplesmente desaparecem do radar da vida, sem deixar rasto, a não ser o da surpresa, do silêncio e da ausência? No bom sentido, quer dizer, é pessoal que não deixa saudades, mas, enfim, eclipsa-se sem uma explicação, sem que haja um motivo, nem que seja vago, sem uma briga prévia, uma pequena luta física, nada!?
A mim, sim, acontece. Admito que sou uma bruta, e reconheço que até sou bastante directa (quando não me dá para ser a ameba proteus que tudo aguenta, sem sinais à vista de um dia explodir), digo o que sinto (que é muito pior do que dizer o que penso, mas joga a meu favor que sinto muito mais do que penso), não costumo socorrer-me de mimimis. A questão, porém, é a de que o povo que me desaparece das vistas e corta relações comigo é, regra geral, povo sem razões de queixa da minha pessoa humana. Ou então, eu sou a cínica distraída, que piso com meu salto agulha Prada em todas as sensibilidades, sem me aperceber, e as pessoas ofendem/ enxofram/ magoam.
Agora há pouco foi a que até me tem uma afinidade, que começou por se esquecer do meu aniversário. (Sim, crianças, fiz anos em Novembro e não vos disse nada. Em compensação, vós haveis-me dado tratamento recíproco). Em, vá, uns trinta e picos anos de convívio (mais ou menos forçado, é certo), nunca tal havia ocorrido, pelo que lhe telefonei a perguntar se estava chateada/ havia algum problema/ o que é que se passava. Mais franca e directa do que isto, só se lhe fosse bater à porta com um maço de kleenexes e uma chibata para me autoflagelar, caso se justificasse. Que não, que não havia nada, que estava tudo bem, que beca-beca. Toda a rir, muito parva, quando lhe perguntei por que é que não me deu os parabéns, ai, que me esqueci, ai, que mudei de telemóvel e perdi as datas todas, ai, que cabeça a minha. 
Só eu para levar com estas drogadas da insinceridade.
Depois fiquei à espera que me desejasse as Boas Festas, mas acho que também perdeu essas datas com a mudança de telemóvel, pois nem um sms para amostra. É certo que também eu poderia ter-lhas desejado, mas dá-se que estava expectante e eu, quando estou expectante, sou assim: muda, só à espera que o inimigo se mova.
Pronto, mais uma.
Bom, de qualquer modo, sei-a tranquila, pois disseram-me, que eu nunca vi, que bate no peito ao domingo, naquele transe lá dela, a proferir as palavras mágicas que tudo limpam, "Por mea culpa, por mea tão grande culpa". Quanto a mim, também estou em paz, mesmo não cumprindo o tal ritual.
Este post foi escrito:
1. Sem patrocínios;
2. Porque tenho uns quarenta chouriços para encher até ao dia 5 de Abril;
3. Porque não tenho assuntos que interessem aos marcianos;
4. Sem mágoa, sem dor, como aqueles partos Lamaze;
5. Por mera curiosidade, pois gostava mesmo de saber o que é que passa na cabeça dos que me despedem sem justa causa. (Olhem, ide.)


14 comentários:

  1. Lá está. O efémero não é o oposto do eterno. O oposto do eterno é o esquecido.

    Como vai, LB?

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    1. Bem verdade, ainda mais se for referente à memória das pessoas. Um é presente do indicativo, dura enquanto durar, o outro é futuro, para todo o sempre.

      Estou bem de saúde, obrigada. E o Impontual?
      (Saudosa de uma blogosfera vibrante, mas é isso: efémera.)

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    2. Também não me doi nada. Obrigado.

      (Eu, por acaso, nunca gostei tanto disto como agora. Não desfrute somente do sol, aprecie também a lua.)

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    3. (Tem o lado positivo da falta de pressão, logo, descompressão. Mas falta-me essa febrilha. Esta tendência de passar o Inverno a sonhar com o Verão não me beneficia em nada.)

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  2. Anónimo17/1/19

    Para que não te sintas sozinha, confirmo, não és só tu ou não é só contigo.
    Já me questionei acerca, cheguei a questionar, directamente, a vítima, até perceber que a mesma comia demasiado queijo (todos sabemos que causa esquecimento!) :) e que atitudes e gestos falam por si.
    Fiz a minha parte e mesmo sem entender fiquei de consciência tranquila.
    Queres ir? Vai.
    Quando só uma parte demonstra interesse em perceber como vai a saudinha do outro, se há alguma espinha instalada na garganta ou se o outro bateu com o mindinho no móvel... está tudo dito, feliz ou infelizmente!
    Ide comer queijo suas gordas, pensei, ri e segui o meu percurso já de digestão feita! :)

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    1. É sempre reconfortante encontrar outras "vítimas do infortúnio", daí a pergunta "Sou só eu?" :)
      É que, quando sou eu a sair da vida de alguém, explico, dou motivos, remato com um "adeus, até nunca", não deixo pontas soltas nem margens para dúvidas de espécie nenhuma. E depois acho que toda a gente é igual, ou deveria ser igual.
      Continuo tranquila acerca do (não) assunto da pobre incapaz de se expressar em Português (pelo menos, daquele que eu entendo).
      :)

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    2. Anónimo17/1/19

      Espero que a pobre incapaz de se expressar em Português não seja eu.
      Agora que li o que escrevi, denoto um texto confuso com vírgulas espalhafatosas. Nunca me dei bem com vírgulas.
      Já ironia, essa gosto bastante.
      Bem, é como na Amizade onde ponto final não é vírgula.
      Quando saio da vida de alguém também deixo tudo esclarecido, contudo, há quem funcione em modo oposto.
      Tal como referi anteriormente, na minha opinião, gestos e atitudes (ou falta delas) são reveladores no que à genuína amizade concerne.
      Em suma, não te desgastes com quem não faz questão de aparecer... mas antes desaparecer. :)

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    3. Não, obviamente que não. Referia-me à última pessoa que saiu da minha vida sem dar cartas, que inspirou este post. Não sabe expressar-se em Português, caso contrário ter-me-ia dito o que se passava ao telefone, quando lhe liguei. Digo eu...
      O problema, em pessoas como nós, que tudo explicam quando cruzam a porta de saída, é que há gente que não entende um "adeus", um "fim", um "fui e não volto". Talvez tentando noutra língua, sabe-se lá que sistema operativo tem cada um, que linguagem entende. Olha, eu sou muito básica, adeus é adeus e até jamé.
      Não me desgastarei mais com esta. Tenho que conviver com ela umas poucas vezes por ano, mas isso é tranquilo. :)

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  3. Não está sozinha mesmo! Mas às vezes acho que não há mesmo razão nenhuma, é como se cada um seguisse uma rua que não vai mais cruzar-se com a do outro, enquanto antes havia rotundas, cruzamentos e assim...mas se me custa muito, muito, vou à luta, à procura do cruzamento, se não me dói muito, deixo ficar assim.
    ~CC~

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    1. Deve ter a ver com isso, uma engenhosa explicação, uma metáfora perfeita deste cruza e descruza que é a vida.
      Desta vez não me custa nada. Não convivemos muito, e somos muito diferentes. Só fiquei surpreendida com mais uma.

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  4. Sabes Linda, eu não ia comentar... mas...

    Eu não sou pessoa de ficar a pensar nessas coisas. Nem tão pouco fico à espera que me venham dar as "boas festas". Dou porque dou, mm sabendo que se calhar a pessoa nem merece o meu tempo, mas se me lembrar dela, dou. Isto porque eu acho que se gasta muita energia com pensamentos negativos. A contabilizar coisas (foi a minha vez, agora é a vez dela). A imaginar cenários e ponderar opções. Quantas vezes na vida já te arrependeste de dares mais do que mereciam? E quantas vezes na vida já te arrependeste de não fazer algo?

    E prefiro fazer, falar, dar... que se lixe. E se um dia não me lembrar de dar mais pq essa pessoa já está tão afastada qur nem lembra, ao menos não gasto espaço na minha memória a remoer isso. Nem se devia, nao devia, etc.

    É o meu parecer, mas se calhar sou é muito ingenua. Que se lixe, pq não sofro com a ingenuidade. Já no entanto vejo muitos comidos por dentro por pensar em tanta negatividade.

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    1. Pareces uma das minhas filhas a falar...
      Bom, preto no branco, a tipa é minha cunhada, conhece-me há 32 anos, nunca falhou um aniversário meu e, efectivamente, não sei o que lhe fiz. Este foi o meu primeiro Natal após a morte da minha mãe, ela deveria saber de mim o suficiente para calcular que não seria fácil. Entre uma data e outra, liguei a saber se ela estava chateada. Não quis dizer, também te garanto que não fiquei a remoer. Só mesmo a ver até onde é que ia a má onda. Caguei nela, não moo pedrinhas no sapato.
      E não vivo de cenas negativas, só já não tenho é idade para papar números de gente mal resolvida e ficar com um ar cândido de quem não percebe nada do que se passa à minha volta.

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    2. Pois, eu percebi que seria uma cunhada... va com calma miss. Vais ter que levar com ela mais 32 anos no minimo. 'As vezes tambem nao se ganha nada por identificar logo o elefante. E isso de assumir que a cunhada sabe o que esta a sentir, pode nao ser verdade.

      Ha 2 anos despedi-me de um grupo com quem trabalhava. Havia la muito ego e muita coisa mal resolvida. Muitas chefonas que nao mandavam em mim, com a mania que tinham o direito de mandar. Uma delas escreveu-me um email a dizer-me para eu lhe dar um apanhado do que andava a fazer em relacao a projecto X para ela escrever num relatorio. Eu disse-lhe que ja tinha feito isso na semana anterior a outra chefona como ela para esse mesmo relatorio. Pois a moca vai de marcar logo reuniao urgentissima comigo. E diz-me com a maior das seriedades que ficou muito sentida com a minha resposta, que nao e' assim que se fala, que o filho dela estava muito doente com leucemia e ela com muito stress, e que eu tinha obrigacao de saber que ela estava sensivel e que nao se tratam assim as pessoas, e que se eu mandei um email brusco, era minha obrigacao de me ter apercebido que ela ia ficar magoada e portanto eu e' que tinha que lhe ir pedir desculpa, e ja ia tarde, eu teria que lhe ter pedido desculpa antes dela o exigir. E eu la lhe tentei explicar que ela nao era minha superior, que nao tinha o direito de me pedir nada, e que nao era obrigacao minha adivinhar a reaccao que o meu email lhe ia causar. E ela la me forcou a pedir-lhe desculpa, e foi da maneira que eu me despedi mais cedo.

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    3. Bom, se ela não imagina o que eu estou a sentir, então estamos completamente num mundo de autómatos, e podemos todos fazer e dizer o que quisermos porque, na verdade, do lado de lá não há pessoas, com sentimentos...
      Não sei quanto a essa situação, AEnima, mas se fosse comigo, naturalmente desfazia-me em desculpas, porque longe de mim magoar uma pessoa que já está magoada pela vida. Conhaque à parte, claro.

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